"Esta noite vieste visitar-me, como o não fazias há muito tempo.
Enquanto dormia voltei a ser filho.Entraste sorrateiro, tal como fazias para me
mostrar uns versos novos que tinhas congeminado na véspera, desta vez não
bateste de mansinho na porta do meu quarto, entraste e sugeriste tomar um chá de
cidreira, às dez para as cinco da madrugada..."
Ao ler Um chá, pelas cinco da madrugada, ao estremecer diante desta evocação que um filho, um amigo, faz da memória de seu pai apercebi-me, da importância que tiveram para mim os pais dos meus amigos mais próximos e da forma como, sem o saber, fui completando neles a ânsia de referências, de modelos e até do sentimento de protecção que, enquanto cria, precisava . Foram bastantes. Lembro-me das mães lá da rua: a do Xai-Xai, a da Mocha, a do Marco. Dou-me conta de que, excepto a Arlete - mas a Arlete foi essencialmente uma amiga que muitas das vezes esqueciamos ser a mãe do Pedro - nos primeiros tempos as principais referências eram as mães e depois, na juventude tardia, os pais. O pai do Zé, o Maestro Oliveira. O Manuel Alpiarça. O Costa Malheiro, que me fez lembrar - pelo à vontade com que se dava connosco - o meu tio Joca. Entre todos eles este homem franzino, com "esse ar de principe da Baviera", que recordo de tantas conversas e de tantas vezes.
6 comentários:
Bela invocação/evocação «a verde» de um «príncipe da Baviera»...houve outros e outras, mães e pais...e alguns avós também...marcos que teceram este fio de ariadne em que estamos todos enredados, de uma forma ou de outra...a determinada altura, terá havido uma palavra ou um gesto, uma atitude casual ou de vida, que influenciou TUDO ISTO. Talvez não saibamos nunca destrinçar quem o que nos trouxe ATÉ AQUI. No fundo, a teia é infinita, incomensurável, indistrinçável. E os que estão «lá do outro lado», já, serão talvez os únicos a conseguir guardar a inquietação. Como o Príncipe da Baviera. Talvez, a ouvir a Morte de Isolda.
Ah, e, once again, obrigada João Belo! Aguardamos o livro...e creio que posso falar no plural...e ajuda está aqui, se precisar. Queria também agradecer a toda a gente do blogue Olivesaria pela MEMÓRIA --que mereceria ser editada em livro--e pela qualidade dos textos que aqui vão surgindo. Por vezes, afasto-me. Mas, quando regresso, reencontro-me. Obrigada a TODOS por isso!
Um beijo!
"Dá a teu filho bom nome e bom ofício."
não sei se por culpa minha, culpa dos progenitores ou se a ordem do universo assim o determina, não consigo recordar uma marca muito profunda que os pais dos meus amigos me tenham deixado. certamente que fui influenciado mas nada que consiga reconhecer de forma clara.
se pensar um pouco sou capaz de lá chegar, mas isso de pensar e reflectir são actividades a que nunca me dediquei muito.
ao contrário de ti óh JB!
eu lembrei-me logo dos pais da Timor e dos convites para jantar onde reconhecia um qualquer substrato comum ao da casa dos meus pais e que, ainda hoje, reencontro na Timor e nos seus irmãos.
ah! e foi com a mãe da Timor que aprendi a fazer "quiche lorraine", um sucesso que exercito sempre que posso...
:)
Que ideia bonita JB. Os pais dos nossos amigos - eu tambem tenho muito boas recordacoes.
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