sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"as longas tardes do guelas (versão maria correia)"



Já se falou aqui na palavra berlinde? Ou essa palavra era apenas de meninas? As meninas jogavam ao berlinde e os meninos ao guelas, seria isto? Lembro-me de ter sacos de berlindes em casa, mas, de facto, não jogávamos muito com eles, o nossso grupo de meninas...por vezes, dava alguns aos amigos meninos...lembro-me de um amigo ter cobiçado um «abafador» esverdeado...já não me recordo se lho dei ou apenas emprestei. Talvez o tenha trocado por um livro do Tio Patinhas...fazia colecção e nunca me fez mal nenhum ler aquilo tudo, por muito mal que se diga daquilo hoje em dia. Lá ia comprá-los ao Tó, religiosamente, sempre que aparecia um novo, isto ainda antes da fase Tintin...Nós andávamos mais a brincar à apanhada, a saltar ao elástico, àquele jogo que se tinha de saltar ao pé coxinho entre uns quadrados, atirando uma pedra...como se chamava isso? Ah, à macaca, recordou-me há pouco o/a Rua Cidade da Beira... ainda fui do tempo dos bailes de roda, mas isso era mais no recreio da escola, e claro, cantávamos «oliverinha da serra, que o vento leva a flor»...também nos divertíamos imenso a brincar às escondidas, à cabra-cega, aqui os rapazes também entravam....e brinquei muitas vezes «aos índios e aos cowboys», numa fase em que os rapazes eram a maioria do grupo. Subíamos árvores e saltávamos muros e depois veio a fase das bicicletas... e dos trambolhões. Ainda hoje tenho uma ferida de guerra, de um dia que caí da bicicleta e me estatelei no chão. O joelho sangrou até mais não, mas fui a correr para casa e escondi aquilo com medo que nunca mais me deixassem andar de bicicleta. Curei-me sozinha com ajuda de mercurocromo e alcool; hoje em dia, usar-se-ia betadine...a sensação de correr os Olivais de bicicleta, na Primavera, na altura em que o bairro era bairro e amplo e livre e havia espaço e não havia carros e, ao longe, se via um grupo de «bandidos», mas que evitávamos circulando imediatamente por outro lado, a sensação enorme de liberdade que tínhamos ao descer por aqueles arruamentos inclinados ( a subir lá ajudavam as mudanças) rodeados de arvoredo e flores e casas onde sabíamos ali mora a Ana, ali o Jorge, acolá a Zita, lá vive o Zé...e...olha aquele senhor que anda sempre com um ramo de árvore atrás dele, já não me recordo como lhe chamávamos, e, olha, ali está o homem dos nogás...era tudo nosso, nesses dias, o ar, o céu, as ruas livres, a cabra-cega, o jogo do mata, as correrias, os berlindes, os guelas...felizmente que as recordações ainda não foram «abafadas» por algum bandido da vida, daqueles maus, mesmo...

27 de Novembro de 2008 15:59

Maria Correia

terça-feira, 25 de novembro de 2008

as longas tardes do guelas (versão bafatá)

Leio o Fula e o Xaixai à volta deste tema redondo, leio o Johny Belo à volta de outro e ganho a certeza de que passar aqui é lufada, de ar fresco e vida, passada e trazida, contada, vivida e dividida.

Pois quanto aos 'guelas' , e suas subdivisões em ' esferas, cebolas, abafadores, estrelas, azeitonas ... todos eles parentes próximos do guelas povo, o tal, o de plástico, simples em sua beleza e cor, os comprados na drogaria de cheiro a 'crio' ou os saídos em rebuçado de tostão, que obrigavam a partir a seta e raspar a redondez da coisa .. ocupante estatístico de tanta saca atada à presilha de rotos calções' .. pois quanto a isso, e à meia-piras, piras e mata, mais a 'santinha' e a 'pedida' que tantos nos levavam, momentos e guelas, tantas nos traziam, importâncias e volume na saca ... os guelas que disputavam às caricas o amor do dono, da sua gula pela 'jihad' , guerra santa, de meninos e ruas, guelas, bolas pequenas, mais tarde trocadas e aprendidas a chutar em balizas de pedra da 'santinha', num chutar saudável de braços e murros no ar, de Maracangalhas inventados e eternizados em cicatrizes de golos gritados. Guelas, elas, manguelas, jolas e não jelas, e gajas e motas, ou seria ganjas ? ou guelanzas .. por onde saltámos mesmo da piras para a mata ? E porque nesses buracos escavámos e guardámos para sempre o ar de quem se é dos Olivais ... e tanto que assim deve ser, que Fulas e Xai's nos trouxeram partes do livro ... daquele tal, de azeitonas que não morrem nunca em braços de sua Oliveira ?


por Bafatá

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

mais uma oliveira


© nuno fonseca

... com ondas hertzianas

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

as longas tardes do "guelas" (versão xai-xai)

[entre o comentário e o post, balancei]

dou comigo surpreso e a magicar como é que o diabo da minha memória, tão fugaz e desvanecida, me proporciona por vezes, elementos tão claros sobre certos assuntos.

vem isto a propósito do magnífico (deves-me um aperitivo), terno (deves-me um jantar) e muito bem escrito (deves-me um digestivo) texto do fula sobre "guelas".

1 metro quadrado de terra, 3 pequenas covas equidistantes e estava pronto o terreno de jogo.
“marralhões!!!”
“últimos!!!”
“penúltimos!!!”

- berrava-se quase em simultâneo para definir a ordem dos jogadores.

começavam aqui, os primeiros calores da discussão permanente que eram os jogos de guelas. saltavam as primeiras “orvalhadas” que antecediam as ofensas aos progenitores.

iniciava-se o jogo, e a sequência implacável:
primeira, segunda, terceira, piras, meia-piras e matas.

elemento essencial da técnica do jogo, era o palmo.
a partir do local onde se encontrava o bilas media-se um palmo e daí era lançado.
aqui normalmente, os ânimos acendiam-se.

MANGUEIRUÇA!!! - gritava-se invariavelmente sempre que alguém esticava a mão de forma a imitar o homem-elástico.
havia grandes especialistas no arrastar do dedo mindinho, que servia de apoio ao palmo. normalmente saltavam mais uns impropérios, umas referências à castidade das mães e até ocasionalmente uma ou outra “carga de ombro”.

A "SANTINHA"
penso que já aqui referi anteriormente, uma variante de jogo com guelas e que pratiquei na eugénio dos santos da av. de roma, onde fiz o 1º e 2º ano do ciclo.
a "santinha".
nos canteiros redondos das árvores, colocava-se uma pasta da escola a servir de rampa em direcção ao seu interior.


cada jogador lançava um guelas que deslizava pela pasta e parava na terra. o primeiro que tocasse num dos guelas estacionados, "abafava" todos e ganhava.

por vezes acumulavam-se por sortilégio do terreno dezenas de bilas e quem ganhava ia com o saco bem pesado.

passámos centenas e centenas de intervalos a jogar à "santinha".
certamente que o mano velho da timor se recorda.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

converseta


© pampam

Anónimo hb disse...

um café e uma água, se faz favor.


oliveira disse...

o senhor disse mesmo "uma fé e um cagaço"?

Domingo de Novembro

Viemos ver a avó nos Olivais. Depois, caía a noite, apeteceu-me descer até ao Centro Comercial. Passámos pela Escola Básica 2+3 dos Olivais, a minha antiga Damião de Góis.
- Esta foi a primeira escola onde eu andei quando viemos para Lisboa.
-E era assim?
- Não. Eram filas de barracões. Quando chegarmos a casa vou-te mostrar as fotografias da escola (no Olivesaria, claro!).
E continuamos a andar, enquanto lhe falo dos lugares onde brincava. As vivendas onde moravam os primos da Bafatá. Há uma espécie de passagem de testemunho que nem o é. Testemunho de quê? Eu tinha quase o tamanho dele, os Olivais eram enormes, o contraste com a paisagem campestre, aquele lugarejo de onde se avistava o grande convento, ele pergunta-me olhando o grande centro comercial,
isto tudo já cá estava também?
não, isto veio depois, olha, ainda estão a construir.
há pouco, quando saímos de casa passámos pelas tijoleiras, muitos carros parados à frente - onde estão os polidores de esquinas agora?, pergunto-me, era sempre com um pouco de receio que enchía o passo em direcção ao ezequiel - dei conta da quantidade de anos que vivemos entretanto, construimos as nossas casas, criámos os nossos filhos, eu durante muitos anos não envelheci, mantinha, apesar de algum cansaço, do desgaste do tabaco, aquela capacidade de fechar os olhos e de fazer um raccord directo a qualquer zona do passado, agora não, agora já não vou lá, falta-me o fôlego, sei que vivi por aqui mas isso é quase que uma história, uma ficção, que construí e conto a mim mesmo, ainda há pouco ao descer no elevador cruzei-me com a teresa do marco, abri o sorriso meio automaticamente e depois percebi quem era, eu já não a devia ver há uns vinte anos, não conheço nenhuma das pessoas que agora passeia cães na cidade João Belo e isso diz tudo, os donos dos cães são uma marca resiliente ao esquecimento, já ao dobrar das tijoleiras, cruzo-me com a mãe da margarida e do diogo, olá, boa noite, digo eu jovialmente, ela não me reconhece, sauda-me rapidamente, está escuro, apercebo-me que os olivais têm o tamanho da mobilidade e da segurança de cada um, para a minha mãe os olivais também são enormes, estou entre dois lugares, os olivais da minha mãe, da casa materna, e os olivais que eu vou mostrando ao meu filho enquanto lhe digo, olha era aqui que o pai fazia isto, ou aquilo. Não há luz no rés do chão da praceta aleixo-corte real, penso, antes de entrar no centro e de me apagar eu próprio na luminosidade forte do festim das lojas, do compra-compra.

as longas tardes do 'guelas'

As mochilas ficavam no hall de entrada e de passagem rasgávamos três ou quatro carcaças que besuntávamos com manteiga e borrifávamos com milo e açúcar. Depois saíamos em passo apressado para só voltar à hora da janta. As horas passavam-se lentas mas os dias corriam velozes. É curioso, não me lembro de em nenhuma dessas infinitas tardes do ano ter chovido, de alguém se ter sumido, de ouvir dizer que o mundo estava avariado, não me lembro de arrelia maior que não fosse perder mais que 5 ‘olhos de boi’ a jogar ao guelas. Não sei precisamente quando se foram abrindo as cortinas para o mundo do lado de fora da nossa rua, mas agora, olhando para trás, irei admitir que terá sido quando passei o saco de berlindes ao meu irmão mais novo. Por essa altura provavelmente já teria aparecido o tulicreme e as tardes já se faziam sentadas numas escadas enrolando uns bonés e esfumaçando argumentações encaloradas. O mundo ter-se-á aí desvendado, opulento, até ameaçador, quando começámos a brincar aos ‘pontos de vista’ e as nossas discussões devanearam para questões bem menos concretas do que o número de berlindes que cada um tinha ganho. Foi por essa altura que mais ganhei e perdi amigos. Ainda assim só muito mais tarde vim a perceber que os amigos para toda a vida nem sempre são aqueles que nos calham em pequeninos, mas aqueles que encontramos ao longo da vida como se tivessem estado à nossa espera desde pequeninos. É também verdade que, por coincidência ou não, uns serão frequentemente os outros, mas isso terá sido da importância desse tempo infinito a esgatanhar a terra que passámos com eles, acocorados, a jogar ao guelas.

por Fulacunda

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

mea culpa

- é sempre benéfico para quem toma decisões contar com aqueles que de forma descomprometida nos questionam e nos apresentam perspectivas diversas da nossa.

- é igualmente benéfico haver quem tome decisões.

vem isto a propósito da modificação operada no modelo de funcionamento deste blogue e que foi patrocinada pelo desodorizante "IMPULSE".


em comparação grosseira, foi como se um náufrago se estivesse a afundar e num ímpeto redentor três "maduros" bem intencionados lhe tivessem "saltado em cima", com todo o voluntarismo é certo mas, quase afundando-o.

felizmente, os amigos não lhes viraram as costas e dispuseram-se a colaborar.


demonstrando apreço pelo "náufrago" e pelos nadadores salvadores, disseram: - "vamos para terra e todos juntos decidimos como o vamos salvar!"

fazendo um inevitável mea culpa sobre a forma como este processo foi iniciado, desafiamos todos os que não consideram o assunto Olivais esgotado, que produzam colaboração no sentido de encontrarmos uma fórmula de funcionamento compatível com o objectivo de manter este espaço vivo e operante. A possibilidade de manutenção de uma conta própria parece-nos um bom exemplo de melhoria a acrescentar a este modelo em construção.

a equipa de manutenção

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nota Editorial

Este blogue atingiu a maioridade e passará doravante a funcionar de forma mais aberta. A participação, através do contributo de fotos ou de textos, deixará de estar confinada aos autores registados, para se estender a todos quanto queiram participar no mesmo. Por essa razão, passará a haver uma única conta no blogue, a ser administrada, por agora, de forma partilhada pelo Fulacunda, pelo Benguela e pelo Xaixai.

A todos os autores que têm vindo a colaborar neste blogue, e àqueles que se espera venham a engrossar as fileiras destas memórias pede-se que doravante enviem os vossos contributos para o email
olivamos@hotmail.com os quais serão tão breve quanto possível afixados. Deverão nessa circunstância assinar os mesmos ou declarar expressamente a intenção de anonimato.

Contamos convosco.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

S.M.O.


Ao ler o Fula a propósito de outras guerras, referir a instituição “tropa”, formalmente conhecida por S.M.O. (serviço militar obrigatório), recordei a minha colaboração com dezenas de olivalenses que se apresentavam nas inspecções em Setúbal e para quem passar 16 meses em tão “prestigiada instituição” não era exactamente o seu projecto de vida (nunca percebi porquê…).
Na escolha algorítmica do computador das Forças Armadas, foi-me atribuída a especialidade de Operador de Laboratório Psicotécnico, com “assentamento de praça” no Centro de Selecção de Setúbal onde os mancebos da zona sul do país prestavam provas de aptidão, a vulgar “inspecção”. Nessa condição, rapidamente percebi o processo de “enganar” o computador e conseguir que os mancebos, apesar de ficarem aptos, passassem à reserva territorial. Foi assim que se cumpriram 12 meses em que a única coisa útil que fiz foi “apoiar” a geração de oliveiras que foi inspeccionada entre Maio de 1982 e Abril 1983. Apenas um desafortunado olivalense (irmão d(o)e um “índio”), o primeiro que veio falar comigo, e porque eu ainda estava há poucos dias no processo e não dominava a “ciência”, foi chamado a cumprir o s.m.o., todas as outras dezenas a quem prestei “consultoria” (pro bono, esclareça-se) puderam continuar os seus percursos de sucesso como distintos polidores de esquinas, eméritos enroladores de misturas de tabaco ou zelosos aliviadores de prateleiras de supermercado.
Para os mais curiosos, esclareço que o método era muito simples. Os “fregueses”, cerca de 150 todos os dias, eram avaliados num conjunto de parâmetros numa escala de 1 a 5. Combinando a indicação de uma escolaridade baixa e sem mais qualificações adicionais (que na maioria dos casos, não foi difícil), índices médicos médios, uma certa “dureza” de ouvido combinada com “pitosguismo” q.b. e uns testes psicotécnicos a indiciar potencialidades ao nível do “calhau com olhos”, resultava a indicação pelo computador de que a única especialidade disponível era a de s.m.g. (serviço militar geral), utilizada nas tarefas de limpeza e usualmente conhecidos por “escriturários de parada” dada a sua habilidade para o manuseio da “caneta”, também conhecida por vassoura. Ora, para tão "nobre" especialidade o que não faltavam eram mancebos garbosos e atléticos com avaliações físicas de nível superior, que deixavam para trás os nossos estimados oliveiras que se viam relegados para a reserva territorial. Simples e eficiente.

Aos que não serviram a pátria em momento tão atribulado da nossa História e em cuja consciência ainda hoje paira o estigma da deserção, apresento a minha mais fraterna solidariedade, na esperança de que, num futuro próximo o Paulo Portas retome o Ministério da Defesa e estenda o subsídio de ex-combatente às vítimas do stress da deserção. Imagino os traumas e a falta que este percurso vos fez. Coitadinhos dos senhores...

sábado, 1 de novembro de 2008

Por esses Olivais adentro, vamos


No outro dia quando fui visitar o meu manuvelho ao hospital e a meio do caminho comecei a chorar, sem outra razão que não fosse a de que desde que ele apanhou febre tifóide em pequeno um seu simples ataque de espirros me provoca transbordo da bolsa lacrimal, eu percebi que não há nenhuma tecnologia, nenhum upgrade de hard ou soft ware que me desligue da minha árvore, das minhas árvores, uma figueira e uma nogueira, as duas atreladas uma à outra. Não há duas sem três: também esta oliveira, por vezes carregada, outras mais vazia, onde nos (des) encontramos.