A casa tem um ar asseado mas tresanda a bacalhau com grão, prato do dia, claro, refeições a 7,95 euros, sem digestivo, na janela a toalha de papel anuncia o cardápio (o dito bacalhau, bitoque, cozido à portuguesa, febras de porco, a agora raridade deste não ser dito preto), um rol a lembrar-me que estou em Lisboa, como se para isso não bastasse o sotaque que ali reina. É apenas um pequeno corredor, bem apertando os seus clientes, de um lado meia dúzia de mesas encostadas à parede, do outro o balcão corrido, atrás deste um cubículo onde alguém se afadiga na cozinha, bem à vista dos dois ou três empregados de fato-e-gravata barato, cada um por si, nem jornal, deixados em silêncio de quase-pausa para almoço. Noutras mesas sentam-se meia dúzia de velhas, decerto vizinhas, em torno de um qualquer carioca de limão enquanto vão remoendo os achaques em sonoros tons agudos, não fossemos nós, os outros, ignorá-los.Vão sendo interrompidas, e noto que nisso mostram agrado, pelos dois velhos que ao balcão bebem copos de vinho branco, àcido, cheiro-o. Estes vão ecoando o fel que foi distribuído na televisão, encostada ao tecto. O empregado, com um ar bem-posto, porte elegante, como se ali fosse mero acidente, recebe-me com um ligeiro aceno e o “faça a bondade?!”, mescla tão rara hoje, como se viesse ele não de outro sítio mas de outros tempos. Bebo a bica curta, a àgua das pedras. Depois, e porque estou no meu bairro, porque esta é a minha gente, e aqui é-me tão evidente, e porque estou a tratar dos papéis da morte do meu pai, mesmo que pareça a despropósito bebo um whiskie. Nele, por ele, olho à volta, no estar. E só então reparo que a tasca, se chama “Olivais Coffee” … uma tasca europeia, afinal.
(Bolama)