quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Outras visitas à esquadra

Também fui um dia parar à esquadra da polícia dos Olivais como o Benguela, por causa de uma fogueira. Já não me lembro da história toda, mas fomos um grupo grande para a esquadra e pode ser que outros se lembrem melhor. Acho que era também uma noite de Verão e como era habitual nesses anos da adolescência nos Olivais, passávamos horas na rua. Andávamos nessa noite entre a Rua Cidade de Bolama e o maracangalha e às tantas apareceu um grande caixote de cartão de uma máquina de lavar ou coisa do género, material apropriado para uma fogueirita a que o maracangalha tanto se prestava. E entretidos com o nosso lume, não demos pela aproximação de um polícia que nos intimou a acompanhá-lo à esquadra - não sei se é fantasia dos anos que passaram, mas lembro-me de irmos todos em fila indiana com o polícia atrás de G3 (preocupado talvez com a gravidade do delito ou com a perigosidade dos marmanjos e marmanja). Chegados à esquadra, já não me lembro bem do que aconteceu, devem ter passado algum tempo a identificar-nos. Não havia mais raparigas, coisa que constrangeu os polícias, pois as que estavam na rua nessa noite tinham ido ao lado da Bolama fazer já não sei o quê. Passado pouco tempo, uma grande excitação e comoção e trouxeram mais uma data de gente para a sala, fruto de uma rusga ao Gordo. O pessoal do Gordo fartou-se de rir da causa da nossa visita. O meu pai lá me foi buscar e presumo que os outros também. Na semana seguinte, ao passar ao pé do Gordo, ouvi uns gritos lá de cima: "Olha a pirómana! Oh piróoooooooomana!! Ah, Ah, Ah". Claro, estive depois uns meses a evitar passar por aquelas bandas.

Outras visitas mais curtas tiveram lugar durante um período no Dom Dinis. Vinhamos todos à hora de almoço no autocarro 50 que ia para Algés. Autocarro apinhado, tudo na gritaria e havia por vezes alguém que acendia um cigarro ou uma ganza o que irritava de tal forma o condutor (seria sempre o mesmo?) que este fechava as portas e arrancava, só parando à porta da polícia onde desembarcávamos todos a rir. Era uma manobra de diversão jeitosa para o pessoal que morava nos Olivais, pois a esquadra era uma paragem muito mais central que a do 50.

Por vezes a esquadra ainda foi útil. Regressando de saídas à noite já tarde, por duas vezes fomos seguidas por outro carro e, não querendo arriscar parar à porta de casa nessas circunstâncias, lá fomos directas até à esquadra, que como ficava num largo sem saída não dava jeito a quem andava supostamente a perseguir um carro com raparigas.


A casa dos carecas I

Por duas vezes me foi oferecida a oportunidade de visitar a esquadra dos Olivais. Penhoradamente agradeço pois é um local onde muito se aprende.
Na primeira visita descobri que se encontrarem dinheiro na rua, não o devem ir declarar à esquadra pois parece que o tesoureiro da fazenda pública precisa dele. Ao achador está destinada uma pequena percentagem. Pelos menos assim era nos derradeiros dos anos 70.
Perguntas tu ilustre olivalense blogoleitor(a): mas porque razão se chega alguém à casa dos carecas e anuncia que encontrou uma nota de 500 melréis?
É verdade, o amor… o amor e o ciúme claro, que de tanto conviverem, resolveram fazer uma sociedade onde partilham resultados. Sem me desviar, acrescento que esta é uma sociedade tão bem sucedida como inovadora. Criaram recentemente um novo produto com bastante sucesso; o ciúme das máquinas com gente dentro... Sucesso garantido.
De volta à estória, tudo começa com o meu xairmão a encontrar no chão da nossa rua uma linda e maravilhosa nota de 500$00. (Finais do anos 70 para os que quiserem fazer a correcção monetária). Este feliz acontecimento foi partilhado por todos os que estávamos no muro, autóctones e indígenas de outros arruamentos nomeadamente bafatás e porto amélias. Por essa altura uma especialmente bela, joão bela, alcunhada de ave nocturna, arrasava corações (ainda arrasa?) e creio até que partilhava momentos com o bafatá mais velho (aqui confesso que a minha preferida era outra, por acaso irmã de um C6 que por vezes nos visita). Um porto amélia provavelmente com o coração despedaçado (lindo, mas dói comó caraças), resolveu criar um facto complicativo sobre o destino a dar ao dinheiro e desentendeu-se com o bafatão que ameaçava dar-lhe uma bafatada. Não me recordo porquê e a bem da verdade não vou inventar, acabámos todos na esquadra, onde se deu a inesperada revelação de que o dinheiro revertia para o estado e a quem o tinha encontrado cabia uma pequena parte que o xairmão nos seus jovens 13/14 anos, nunca reclamou.

Conselho deste que vos escreve: se encontrarem uma nota de €500, não a entreguem na esquadra.
Se não fosse este aviso entregavam.., não entregavam?
E já agora, uma "Bengalada":
"Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso de uma mulher para se formar um lar."

Com o apoio de:

Pearl Jam “Black”
Neil Young “Cortez the Killer”
Pink Floyd "The Great Gig in The Sky"
. Próximo episódio: O Juiz que gostava de futebol ou o Novo Redondo desbocado...