quarta-feira, 28 de maio de 2008

Olhó 4.44! meias, peúgas, elásticos prás cuecas, pentes prós carecas! ... (*)

Hoje vou falar-vos de uma experiência recente. Sobre amigos. Faz pouco tempo, em parte por culpa de uma brincadeira de blogs, acabei por enlear duas ou três ‘novas’ amizades à minha vida. Esta idade, não muita nem pouca, já nos vai ajudando a valorizar estas oportunidades em que vislumbramos em alguém mais que mera cara de circunstância – sim, que a amizade não é mais que isso, a oportunidade de podermos escolher com quem queremos estar. Claro que quase nunca declaro isto espontaneamente, “olha, hoje arranjei mais um amigo”, assim apalermadamente, mas devia fazê-lo, com a mesma pureza e descomprometimento que o meu filho mais novo o diz. Mas não, não chego tão longe, embora pela escrita por vezes o tente, com esta acepção sentimental que todos fazem questão de afirmar estranharem em mim. Ninguém está habituado a virar-se para o mundo e a declarar as suas amizades, ninguém está habituado a proceder deste modo, mas ainda assim não receio confessar aqui que vou mastigando, com alguma voracidade, as circunstâncias que nos últimos tempos nos têm juntado a nós, (neo)amigos.

Desenganem-se aqueles que já rasgam sorrisos a interpretar das minhas palavras um elogio anónimo. Recomponham-se os que porventura se emocionam com uma declaração que também partilham. Porque quando falo de amigos, mais do que reconhecer a sua identidade, trago deles o meu próprio território, essa zona que o meu ego neles anseia e onde eu próprio me aprecio melhor, eles nisso sendo o espelho da minha auto-admiração. É evidente que isso é egocêntrico (não o somos todos?), e que é cruel definir uma amizade apenas como um espelho polido de nós próprios. Mas haverá algo que mais enobreça o significado da amizade do que defini-la como um espaço partilhado onde cada um dos que nele concorre se sente a si melhor e maior? Que pode ser melhor em tudo que não nós mesmos? Reclamar das minhas amizades, esse espaço onde me sinto bem, é o maior elogio que posso fazer a algo que cada vez mais sei apreciar e àqueles que com a sua presença participam na minha vida.

E pronto, estraguei uma declaração sentida de amizade num acto cirúrgico de desmistificação onde no fim só sobro eu, e eu, e alguns nomes que me circundam e que nem levarei ao respeito de aqui identificar. Porque no meio disto tudo o que me importa não é definir a amizade, mas sim estas amizades que recentemente juntei e sobre as quais aqui comecei a falar. Há algo especial em ter novos amigos, mas há algo ainda mais especial em ter novos amigos que são nossos amigos de novo. Que quando reencontramos novos amigos que já foram grandes amigos há 25/30 anos não é preciso que lhes expliquemos o nosso 'todo' de novo, e mesmo que o devêssemos não haveria pretexto para isso, e mesmo que eu o pudesse fazer haveria de me virar para eles e dizer “um dia explico-te, temos muito tempo para isso”, ou nem isso diria, calava-me, sem receios de ser mal compreendido, ou de a seus olhos ficar incompleto. Há amizades que, por serem revisitadas, trazem-nos esta sensação libertadora de nos dispensarmos de explicar quem julgamos que somos. E eu sempre apreciei as amizades que têm densidade para poderem existir também caladas, sem esse receio de que a falta de sinais, a falta de comunicação, as deixe de justificar. Além disso, é óptimo olhar para uma cara amiga e em vez de explicar tudo desde o princípio poder simplesmente sorrir e dizer “vai tu!”. Sim, que a idade também se cansa nisso de repetirmos definições de nós.

Afinal é isso que eu queria dizer, é grato chegar a uma fase da vida e ter a oportunidade de fazer dos velhos os novos amigos.


(*) não é que importe muito mas ... o título deste post é a forma abreviada do nome de uma equipa famosíssima que quase chegou à final do campeonato mundial de futebol do liceu R. D. Leonor