domingo, 7 de março de 2010

Quarto com vista para Santiago do Chile


Quando este blogue começou lembro-me da sensação maravilhosa de fazer parte. E fazer parte através de textos, de textículos, coisas que sempre cultivei, ainda era melhor. Olhar para os outros era uma forma de rapidamente contar uma história. Agora tenho a Olivesaria ali no rol dos blogues do dia e vou esperando que alguém escreva alguma coisa. A folha demora a baixar. Dos últimos cinco posts três são meus e quase todos eles espaçados mais ao menos um mês. Nunca mais encontrei o M. nem nunca ele mais me perguntou pelo blogue ali no sitio onde às vezes havia caracóis e oliveiras, tudo no mesmo prato. Também agora que penso nisso seria dificil que ele o perguntasse, se nunca mais o encontrei. Agora tenho menos tempo, digo de mim para mim, para justificar o não vir aqui. Mas é mentira. Os dias continuam a ter as mesmíssimas vinte e quatro horas, as semanas os mesmos sete dias e os meses, trinta e trinta e um dias, conforme. Ainda não senti nenhuma influência da aceleração da rotação da terra provocada pelo terramoto do Chile. O terramoto do Chile, por mais estúpido que seja, fez-me lembrar os Olivais, este quarto, o beliche alemão, que eu partilhava com o meu irmão. As casas eram grandes mas não suficientemente grandes para cada um ter o seu quarto. Ele está agora em Santiago do Chile e eu tenho saudades dele. Apanhou o susto da sua vida. E eu estou para aqui a arranhar a folha. Só para dizer que isto me faz o mesmo sentido do que a primeira vez que aqui vim. Confesso que quando não venho cá passam-se dias em que nem me lembro que isto existe. Como disse, vou olhando a lista dos blogues e se não há actualizações esqueço-o . Mas há um momento em que isto me linka ao real, ao meu real. É quando vou ao bairro. Há qualquer coisa que o ir ao bairro me desperta. Uma vontade de, uma necessidade. Talvez seja a minha percepção de que estou a aproximar-me de um tempo em que já não sou jovem, em que há explicações de mim que andam, aos trambolhões, pelas ruas da minha adolescência. E os Olivais explicam muita coisa em mim. Por outro lado gosto da forma como o meu filho gosta dos Olivais, da casa da avó. Vou passar a ir mais vezes ao bairro.