Não devia vir assim com tão pouca inspiração e tão tarde. Mas é sempre tarde. Ou será sempre tarde, a adivinhar pelo tempo que vai e vem sem nenhum texto para animar a blogosfera do olival. Por isso, sigo em frente. Alguma ideia, tal como se fosse uma bolota, há-de cair no caminho para me ajudar a levar a conversa por diante. É um pouco a custo que venho aqui. Tal como naquele fim de férias dúbio em que já não era férias mas em que meio mundo ainda não tinha chegado à rua, era penoso vir até aos bancos, sentarmo-nos à espera que chegasse alguém, e começarmos a fazer rodar a girândola da troca de palavras. Depois haveria de vir um, outro, e lá ficávamos três a queixarmo-nos da malta que nunca mais vem, da seca que é agora. Não me apetece mesmo nada deixar morrer este espaço. E se ele se basta com tão pouco, um vir aqui de tempos a tempos, somos tantos, hoje hei-de ser eu a empurrar o écran um pouco mais para baixo. E se calhar até ponho foto. É isso, talvez ela me inspire. Já venho.
Nada. Não me inspirou nada. Esta pintura que deixámos ficar nos muros de Carvalhais, em S. Pedro do Sul, no Andanças, não me fez surgir nada. Um vazio macio, mas vazio. E agora tenho sono. Mais sono ainda. Espero que ela vos inspire. Amanhã a ver se volto cá mais cedo. Ou com menos sono. Ou com algo para dizer. É difícil. Ando mais para o lado do ouvir. Nas férias acontece-me sempre isto. Fico mais para o lado do ouvir. Os sons dos lugares. Os sons das pessoas. O que elas dizem. O barulho dos passos no chão. Não sei do que é mas sou assim, nos tempos de verão. Sabe-me bem a vida que me entra pelo lado do ouvido. Parece-me música. Se calhar é porque vou a sítios que me quebram a rotina. Não estou à espera e de repente há um sino a ecoar no vale. Ou os reclamistas de Teresina, apregoando tudo, picolé, candidatos, celulares, suco de caju. Vim com vontade de ir de novo. Não sei se vos acontece o mesmo. Ando ainda alguns dias no fim de férias a percorrer as ruas da minha cidade como se fossem ruas de uma cidade estranha. Os seus sons novos, inesperados. E mesmo aos meus vizinhos, aos meus amigos, ou aos colegas de todos os dias, hei-de surpreender com um olhar pausado, demorado, como se os estivesse a olhar pela primeira vez e a pensar de mim para mim o quão estranhos são.