terça-feira, 14 de outubro de 2008

filosofia de ponta e mola
















Foi num sábado.
Ainda me estava a habituar a essa nova vida que era andar numa escola bem longe de casa e que me obrigava a andar todos os dias de autocarro durante hora e meia.
Quando chegava aos Olivais o coração apertava pois tinha de percorrer aqueles 300 metros, desde a paragem do 31, na cidade de Lourenço Marques, até à escola.
Será que conseguia chegar lá sem que ninguém me viesse acossar?
Tenho que admitir que nesses quase dois anos devo ter sido perturbado umas duas ou três vezes.
Mas a angústia era diária.
Foi num sábado, num dos primeiros sábados em que tive aulas, que ao sair da escola e ao dirigir-me para a paragem do autocarro encontrei no chão um canivete. O canivete da imagem. O canivete que me passou a acompanhar todos os dias enquanto fazia aqueles 300 metros. O canivete que apertava na mão, no fundo do bolso. O canivete que me iria salvar de quem tentasse perturbar o meu percurso do autocarro para a escola e da escola para o autocarro. O canivete que ainda hoje tenho e que me serve para abrir cartas e cortar folhas. O canivete que me deu a força para todos os dias percorrer aqueles longos e intermináveis 300 metros em segurança.