juntamo-nos em roda. lembro-me que tantas vezes foi assim. juntamo-nos em roda e ficamos ali de pé a passar a vez da palavra, da conversa. tiro a fotografia, sei que ficou mal, os pixels, sempre os pixels, alguém, mais à frente, há-de dizer, liga o flash, pá, eu faço de conta de que não percebo, gosto destas fotos de legibilidade reduzida, gosto do grão da noite, depois hei-de tirar uma ao grupo, a pose final, tem de ser, mas é sobre esta que eu vou pensando que gostaria de escrever um post. tenho-a na cabeça. os olhares. passaram-se trinta anos, todos nós já fizémos milhares de rodas, às vezes passávamos os charros nestas formaturas cívis, mas é sobre esta agora que eu vou pensando que trinta, vinte e tal anos depois, olhamos de maneira diferente. o tempo é em nós diferente. não sei mais do que isto, a diferença do tempo. é nela e não no substrato capilar que noto as grandes modificações. nestes vinte e tal anos andei por caminhos meus, e não fosse esta olivesaria virtual, nunca teria chegado aqui. às vezes falam-me de alguns nomes como se eu os tivesse conhecido sempre e eu faço que sim com a cabeça, gosto de fazer que sim com a cabeça, eu só me lembro dos nomes mais antigos. mas nada disso me causa estranheza, muito pelo contrário, a mim que a razão, o entendimento, o perceber, o perceber-me, eram cada vez mais verbos intransitivos, dou-me conta que quando estamos juntos há um perceber que me chega instantaneamente ao entendimento. olho para eles e começo a gostar de mim, de ouvir o meu nome. começo a gostar de ter vivido estes anos todos da minha vida, de ter vivido estes anos todos à minha maneira, e de essa minha maneira, como todas as maneiras de cada um que se chega à roda, nos aproximarem. há vinte e tal anos eu não saberia que as nossas vidas, os nossos tempos seriam capazes de olhar assim para o que as nossas vidas fizeram de nós.
A Vespa e a Gestão
Há 2 dias