Quando eu era miúdo tinha muitas coisas como certas. Uma delas era a chegada no dia dos meus anos de um postal de Elvas, do avó Figueira, que começava invariávelmente por um Salvé, e acabava, nos primeiros anos, numa nota vermelha de cinquenta paus e depois, em anos mais avançados, numa azul, uma centenária, como lhe chamava. Devo confessar que sempre dei melhor serventia às notas do que àquele Salvé, que associava sempre a coisa antiga, adequada por isso ao que eu esperava do meu avô Francisco António. Há pouco no entanto, à procura de uma foto de um tuga célebre, grande mandarim das neves, descendo implacavelmente com a sua companheira e com o Barão a grande descida de la Sierra, percebi que estas palavras antigas ganharam algum significado com o peso do tempo. Salvar o dia, e assim, salvando cada dia, estaremos também mais próximos de salvar também a vida dos que queremos, dos que nos são queridos, dos nossos amigos. Não deixa de ser paradoxal que eu me predisponha a saudar um amigo com um salvé precisamente na altura em que a curva da idade me afastou totalmente da ideia de salvação. Que se lixe! O que nos salva, o que nos salva hoje, e já nos salvava à trinta e poucos anos quando nos conhecemos, é também a amizade, a presença, do outro lado da esquina, do outro lado do blogue, do facebok, do telefone, onde for. Muitas vezes quando olho para as páginas paradas deste blogue, vejo as rotativas da vida a andar de trás para a frente - que é para onde elas devem andar quando querem ser capazes de escrever sobre a nossa vida - e dou-me por muito feliz por poder ter o privilégio de brindar a um amigo, de brindar num amigo toda a festa que é viver, construir, reconstruir, fazer de novo.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
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