De cada vez que vou a casa da minha mãe divirto-me com a pequena floresta que o meu irmão construiu na nossa varanda. Plantas que trouxe de todos os lados, pedras disto e daquilo, lembranças de lugares. É lá o lugar do café, do cigarro, do pequeno ritual de instalação no dia novo. A minha mãe também gosta muito de lá se sentar e de saborear um fim de tarde. Sempre tivémos uma relação muito especial com a varanda. Os meus pais conseguiram resistir à grande tentação de fechar as varandas que começou a sacudir Lisboa a partir de certa altura. Ou então encontraram grande resistência familiar nessa operação. Tinhamos vindo de Mafra, do campo, do espaço amplo. O mais que os costumes domésticos permitiram foi o fecho da varanda traseira do quarto dos meus pais, e mesmo aí com o argumento de que o meu pai não fumaria tanto pela casa fora se pudesse limitar-se ao seu pequeno "escritório". Muitas vezes ao deambular pelos corredores da casa perco-me nos meus próprios labirintos interiores. Ali naquela varanda recupero um pouco da minha identidade. É quase como se eu me reconhecesse ali, fazendo parte dos meus, pelo apego que todos em comum partilhamos pelo espaço de fora, pela aragem fria, pelo ar mais alegre. Seria mesmo capaz de jurar que ali, diante daquela luz tépida falamos melhor, conversamos melhor, saboreamos melhor essa ideia de que uma família é mais do que um lugar de onde se vem, um sitio para onde se vai.
sábado, 27 de setembro de 2008
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