sexta-feira, 20 de junho de 2008


Amanhã não sabemos...




quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Futebol e a Cidade - Lisboa

"Poderia começar por qualquer outra. Esta é uma cidade de encanto, como de encanto são todas as que reúnem gentes com vida, que criam sua alma e seus encantos guardam, fazem sua e dos seus a história de uma vida, de uma vida com histórias. De futebol também!
Começo por ela porque a esta cidade pertenço, é minha e dela sou, por mais que viva fora ou morra longe!
Nos idos de sessenta, década que me viu chegar e por onde passeei os anos da minha infância e escola primária, o panorama do futebol em Lisboa, como aliás no resto do País, via nascer, explodir e ganhar contornos de mito um senhor chamado Eusébio da Silva Ferreira. Todo o endeusamento o ‘ Pantera Negra ‘ justificou, oferecendo títulos, golos inimagináveis, fotos de uma vida, ‘ petardos ‘ que seriam sua imagem de marca, culminando com um conto de fadas tornado realidade quando em Julho de 1966 e depois de facturar por duas vezes ao Deus Brasil, nos oitavos-de-final do Mundial de Inglaterra, pegou em si mesmo e numa nação atropelada três vezes por uma espécie de David norte coreano, transformando uma inevitabilidade noutra inevitabilidade: 0-3 em 5-3, quatro golos do Rei.
Tudo isto fez com que nas escolas primárias de toda a cidade, no crucial momento de ouvir o coração e jurar o amor eterno, houvesse uma alternativa à magia dos ‘ Cinco Violinos ‘ que tanta alma haviam vestido de verde e branco no final da década de quarenta. Um pouco antes, em 1946, três senhores com os nomes Capela ( guarda-redes), Vasco e Feliciano - à história passados como ‘ as três torres de Belém’- haviam puxado para as cores da ‘ religião ‘ azul e sua Cruz de Cristo, uma série de crentes em dia de votos eternos. Eternos porque .... de Clube NUNCA se muda !
Explica este intróito um pouco das movimentações dos ‘ alfacinhas ‘ em dia de missa e romaria ao estádio. E se a ida à igreja manteve inalteráveis os seus horários, os tempos modernos de imposições e horários televisivos tornou inviável a saída directa de uma para outra devoção. Separando no tempo os acontecimentos de cada tribo e sua cor, transformou um espaço de romarias simultâneas num de peregrinações dispersas por um período que pode ir da noite de 6ª feira até à de 2ª. Em Lisboa e no ‘seu’ futebol, passámos a ver os magotes de gente em comunhão e irmandade com o mesmo emblema, a encher o trajecto até ao estádio, local de culto, com bandeiras, cachecóis - os mais precavidos com a almofadinha para ter um conforto extra no lugar onde sentados iam em busca do seu quinhão de felicidade extra semanal - sem se cruzar e ou dividir cânticos e vivas de apoio.
Desde sempre, de então e até hoje, sentem as sete colinas correr nas suas veias almas de azul e amarelo a circular na Tapadinha do eterno Atlético, de grenat na banda Oriental e seu histórico COL - onde a concentração se faz em tascos com alma e à frente de uma imperial se impõem tácticas e previsões. Pelos lados do Restelo os apaniguados têm garantida uma ida aos pastéis e um estádio com uma paisagem de poesia. Nos bairros daqui e dali, em campos da bola onde habitam clubes de gente imensa e de trabalho, de Palma a Camarate, da Musgueira a Campo de Ourique e outros tantos mais, enchem-se as tardes de cores e credos vários, ganha-se palmo a palmo a sobrevivência ou uma subida de divisão. Por ironia, numa Circular prevista para poucas paragens e estacionamentos, acontece o encontro e paixão de dois emblemas que não se esgotam nem por ali, nem pelas fronteiras do País. O verde e o encarnado da própria bandeira, dividem-se em dois mundos de paixão inigualável no País. Quando se encontram, entende-se a força e profundidade de um termo que qualquer miúdo entende : o derbie !! Um Benfica – Sporting é um momento da mais pura paixão em Lisboa. No País. Nas ex-colónias. No mundo. Onde há gente portuguesa !! Lisboa torna-se assim mais Lisboa !"
[Um texto (catrapiscado de A Jornada) de João Pais, mais conhecido por Jan Jan, portanto, oliveira. Para além disso é também um texto sobre as memórias, as memórias dos bairros e do futebol.E o que a mim - apaixonado pelo pontapé na bola nos tempos da minha juventude mas feroz crítico do peso que o futebol tem em todas as esferas da nossa vida politica e cultural - me dizem as memórias dos jogos de futebol que assisti nas manhãs de domingo, no campo da Almada Negreiros ou no Pote de Água!!!]

quarta-feira, 18 de junho de 2008

a dobradinha

Ao fundo da rua espraiam-se bólides de madeira, quase duas dezenas. Estão pintados de todas as cores e imitam os carros do Fittipaldi, do Stewart, do Cevert, do Ickks com um rigor quase ‘veneratório’. Em redor deles há uma multidão de miúdos e graúdos tão tumultuosa como as que se vêm nas grelhas de partida das corridas que ali se imitam. Há razões para isso. Estes carrinhos de esferas são especiais e enchem o olho de todos os que se habituaram a vê-los apenas como uma tábua. Têm dimensões regulamentadas, inspecções técnicas rigorosas, cargas escondidas para dar lastro, ailerons, bancos e asas, segredos na lubrificação dos rolamentos, mas sobretudo são um primor para os olhos, assim todos aperaltados no início da Rua 5, debruçando-se sobre a descida que os fará competir. Já todo o bairro por ali sabe que em fim-de-semana de grande prémio haverá corrida de carrinhos de esferas no domingo pela manhã e por isso ali se juntam entusiasticamente para admirar a competição .

Após uma semana de treinos cronometrados ganham a primeira linha da partida os carrinhos de esferas vermelhos - são Ferraris. No da esquerda estou eu, embora receie que isso não se repare bem. Aceno folgadamente aos meus irmãos, mais novos. O outro, o mais velho, está atrás de mim na grelha e por isso vou-me virando para trás em claras provocações com a cabeça. Todos temos capacetes feitos dos barris de Skip onde recortámos a x-acto a viseira e cujo topo abaulámos, e que depois pintámos na cor dos originais. O meu é vermelho e branco, como o do Arturo Merzario. Está calor e sinto-me distante do mundo com a visão assim estreitada pelo capacete e o cheiro do cartão misturado com o odor químico a lavado dos restos de detergente. Naqueles breves momentos antes da partida ainda me pergunto se os meus pais, e os pais dos outros, ali na beira do passeio, saberão reconhecer-me assim tão equipado, logo ali, na pole position. Depois de pretender garantir uma boa largada essa é seguramente a minha segunda preocupação.

Aproxima-se a hora e fixo-me na bandeira que vai agora sendo levantada pelo Jaime, cinco, quatro - será que pus demasiado petróleo nos rolamentos? - três, dois - e tinha de ser logo hoje que a minha mãe haveria de descobrir que tinha ido ao óleo da máquina de costura - partida! Podem dar-se 3 impulsos apenas, e é importante não esquecer, senão será a desqualificação. Esta é a parte mais perigosa. Fixamos a mão no alcatrão e esticamos com quanta força tivermos o braço para dar embalo o carro. O primeiro já está - o alcatrão está morno, e enquanto preparo novo impulso exulto por me ver livre das temíveis pisadelas que os rolamentos fazem nos dedos. Segundo impulso. Sinto de súbito um impacto por trás e isso faz-me perder eficácia no momento em que me ia esticar. Três, rápido que há que recuperar. Passam-me o Chico, meu companheiro de equipa e o João, transformado em Ronnie Peterson. Atrás houve ‘molhada’ e presumo que já não seguimos todos.

A pista é desenhada a giz ao longo da rua de alcatrão que desce até às vivendas de lá debaixo. Ziguezagueia em toda a sua largura e aproveita cada obstáculo da forma mais escrupulosa possível. A próxima curva à direita é das piores, quase gancho, e devemos evitar derrapar os carros pois isso faz-nos perder muita velocidade. O João discute com o irmão o topo da corrida, logo ali ganhando-me alguma distância, e agora sobem os dois pela rampa do passeio da casa dos sabbo para descerem na outra à frente da casa do carlitos e voltarem ao alcatrão. Agora é a minha vez e sinto bem a vibração do empedrado. Mantenho-me em terceiro. Segundo!, segundo!, o João foi desqualificado. Em cada curva há um fiscal de corrida – os nossos irmãos mais novos – que deverá levantar a bandeirola se algum de nós cortar os limites da pista. O João já foi! Entretanto sou abalroado por trás, o Nica pois claro, quem poderia ser mais! O carro derrapa, demasiado, demasiado, reequilibro-o ainda com o peso do meu corpo, em contrabrecagem, mas levo outro toque e sou empurrado para a berma da estrada. Parado. Passa um, passam dois, controlo a raiva e preparo o empurrão – nestas circunstâncias cada concorrente pode dar apenas um impulso para ganhar velocidade.

Mais de meia corrida e entramos agora na parte mais rápida. O Chico vai ganhar, viva! O Nica e o Miguel disputam ferozmente o segundo lugar - de cabeças baixas como se isso os ajudasse a cortar o vento, um imitando a trajectória do outro - mesmo antes de entrar na longa recta que os levará até à meta. O meu impulso foi bom e nesse embalo vou aos poucos recuperando distância. Já quase resignado a um lugar fora do pódio, não deixo ainda assim de reparar, orgulhoso, que algum público vai puxando por mim. E depois o imprevisto acontece! Os dois na minha frente engalfinharam-se nos eixos de trás, e acho que o Nica partiu mesmo a travessa de madeira do lado esquerdo. O Miguel acabou por dar um peão completo, mas controlou-o, forçou a derrapagem e conseguiu manter-se em pista, e vai agora recuperando a velocidade com embalos do corpo. Eu venho atrás, mas mais rápido, de lá detrás, já menos atrás, já só atrás. O Chico cortou a meta, levantou-se como uma mola do Ferrari e incita-me agora nestes metros finais. Zzzzzzzzz, quase em cima da meta, perante extasiados aplausos, consigo assegurar o segundo lugar e fazer a dobradinha. Foi a melhor corrida da época … e sem sequer usar o dispendioso óleo da Singer (uma novidade estimada, máquina de costura eléctrica já) da minha mãe.

Nota: Sinceramente não sei se alguma vez chegámos a fazer a dobradinha, mas confirmo que estes dois pilotos da Ferrari foram os vencedores absolutos dos dois campeonatos que se realizaram entre as épocas de 1974 e 1975. O feito é ainda mais assinalável já que éramos os irmãos mais novos em corrida do tipo do Tyrrel e do tipo do Lótus JPS. Muito mais novos aliás. Quase 2 anos.

terça-feira, 17 de junho de 2008

lembro-me ...

... da rua 4 zona nascente antes de ser alcatroada, das carrinhas da escola, da manhã do 25 de abril e como gritámos que não havia escola nesse dia, lembro-me dos muros e como espreitávamos os decotes das raparigas, das festas nas garagens, lembro-me de épicos derbies contra ruas de longe, de comprar sg's a 5$60 e piratas a dois ou cinco tostões, lembro o caminho a pé até ao d. dinis, da judite e sua incomparável beleza, do pão de açucar supermercado depois pingo doce centro comercial, lembro os guimós e seus perigos, a piscina dos olivais, dos grandes e dos pequenos, a malta das outras ruas, as motas, as ganzas, destas lembro pouco, era mais menino da bola, das bebedeiras, estas lembro melhor, ou melhor não lembro melhor se calhar, lembro de quem esqueci no tempo, da Tosta e sua inauguração, foi do meu Pai o café, trabalhou lá mais tarde um empregado a quem pedia as empadas de encanto, era meu Pai esse empregado, lembro o Tó e a sua rua, o Cheira e as tardes onde começávamos sem perceber a crescer para a nossa saída, lembro tudo e de tudo, lembro a minha vida e de onde sou.

Sou de duas coisas, assim sabe quem me conhece, sou do Benfica e sou dos OLIVAIS. E lembro-me ... de como foi tudo, lembro também com quem dividi os primeiros tempos dos Diabos Vermelhos, Facadas e Paleta, como iria esquecer ? ...

Tenho andado meio arredio ... mas fiquem sabendo ... todos os dias me lembro ... de onde SOU !!

Os pais dos nossos amigos




Ao ler Um chá, pelas cinco da madrugada, ao estremecer diante desta evocação que um filho, um amigo, faz da memória de seu pai apercebi-me, da importância que tiveram para mim os pais dos meus amigos mais próximos e da forma como, sem o saber, fui completando neles a ânsia de referências, de modelos e até do sentimento de protecção que, enquanto cria, precisava . Foram bastantes. Lembro-me das mães lá da rua: a do Xai-Xai, a da Mocha, a do Marco. Dou-me conta de que, excepto a Arlete - mas a Arlete foi essencialmente uma amiga que muitas das vezes esqueciamos ser a mãe do Pedro - nos primeiros tempos as principais referências eram as mães e depois, na juventude tardia, os pais. O pai do Zé, o Maestro Oliveira. O Manuel Alpiarça. O Costa Malheiro, que me fez lembrar - pelo à vontade com que se dava connosco - o meu tio Joca. Entre todos eles este homem franzino, com "esse ar de principe da Baviera", que recordo de tantas conversas e de tantas vezes.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Léxicos olivalenses: "Achandrar"


Achandrar ou axandrar - termo frequentemente utilizado para ilustrar a intenção de moderar comportamentos e/ou opiniões

Exemplo de aplicação: “anda aqui muita palavra à solta, agora vou-me é achandrar uma beca

quarta-feira, 11 de junho de 2008

...


o tipo da música




terça-feira, 10 de junho de 2008

O tipo das notícias

Se bem me lembro ...


tenho memória de actor. quer dizer, não me lembro de quase nada e depois, lembro-me de tudo. ficou-me dos tempos do palco, essa memória assim, por ressonâncias. às vezes ando pela vida meio perdido a pensar que chegou a minha hora do esquecimento - lembro-me sempre do manuel joão gomes, enciclopédia viva dos seus colegas no Público e que acabou os seus dias enterrado no buraco negro do tempo sem avanço nem recuo - e depois embato em qualquer coisa e desatrelo um fio que vai buscar histórias sem fim ao que somos, fomos. quando começou a olivesaria, achei-a uma benção. tinha na altura um projecto de escrita: "Nós nas paredes", narrativa sobre os nossos quarenta anos. digo nossos, os meus, os da malta que andava na casa do Pedro Queirós, ali na Praceta Aleixo Corte Real, onde podiamos escrever nas paredes (e onde, de tudo isso, só resta aquela pintura no corredor que o Pedro Sá fez num verão de não sei quantos). onde podíamos fazer tudo, de tudo, dizer poesia, fazer concertos, teatro, sex, drugs and pouco rock em roll, mais sinfónico, pink floyd, génesis, por aí, éramos muitos. na altura não nos distribuíamos como aqui, por ruas, se fosse a inhambane ganhava: os alpis, tozé, pedro e joão, o pedro, irmão da nossa inhanbane. Mas éramos muitos, o abilio, rosinha, o buracos, o pitagroz, a cristina, a xana, a ana paula. As noites com o teatro das belas artes, aquela casa, já falei dela aqui, hei-de falar dela muito mais vezes. hei-de falar dela até ao meu silêncio. Foi lá que conheci o Pepe Blanco, que antes de se suicidar de vez me falou com enlevo da sua ritinha que estudava em Londres e que quando viesse iria dar que falar, atão senão deu Pepe, por esse lado dormirás o sono dos justos, ou o Rogério de Carvalho, encenador que se afundava no sofá da sala quando eu e o Pedro Alpiarça entravámos vindos de representar o nosso espectáculozinho no Marítimo de Xabregas e ele, embasbacado porque nós éramos actores, e que bom, e isto e aquilo, era um negro baixinho a enfiar-se por dentro do sofá, e eu a perguntar-lhe, também gostas de teatro, sim, mas estás ligado, encolheu os ombros, como é que te chamas, perguntei, Rogério, Rogério de Carvalho, sacana, tu és o grande Rogério de Carvalho, dei-lhe um texto meu, a minha primeira peça de teatro, gestalma, um mês depois sempre que o encontrava apresentava-me aos seus amigos - entre os quais o malogrado Luís Figueiredo Tomé no Teatro do Século, falo do Luís porque era daqui, dos nossos Olivais - dizia, é autor, o sacana do Rogério, tive a sorte em trabalhar com ele em 98, um espectáculo para o primeiro estágio internacional de actores lusófonos, em tetum, crioulo, português, sem acordo ortográfico, fronteira, nascidos de dois ateliers, um de escrita e outro de representação, eu dirigi o primeiro, o Rogério o segundo, dez anos depois, há meia dúzia de dias, telefona-me um dos actores, agora senhor director do Festival de Teatro de Piáui, a convidar-me para ir lá em agosto repetir o trabalho com o Rogério, são destas coisas que me lembro quando me esqueço de tudo, a minha vida nunca teve sentido de outro modo, tem-no quando se espelha nos olhos dos outros, é isso que o teatro, o cabrão do teatro, me ensinou, estamos sempre, desde o nascer ao deitar, e uma vida é assim breve como um dia de vinte e quatro horas, diante do olhar dos outros, somos à vez espectadores e actores, devemos por isso trabalhar a forma como olhamos o mundo, olhar é agir, se eu tivesse um slogan seria esse, olhar era agir naquela casa onde escrevíamos nas paredes, eu já não sei o que é a nossa vida agora, uns de nós progrediram nos negócios, outros no comércio por atacado, a retalho, outros nas letras, nas artes, nas humanidades, nas ciências, nas leis, houve os que morreram, lembro-me do joão que se atirou dum prédio ao pé da gilauto, o irmão dele, o Pedro tinha sido meu colega da Comuna, o Nuno, a Teté, atropelada ao pé dos Jerónimos, dia de luto nos Viveiros, há uns de nós que se foderam, lixaram-se, por vezes penso que não, a moral dos aflitos, dos contritos, dos vencidos, depende de quem escreve a história, do lado em que sopra o vento, o que interessa, a única coisa que interessa nesta puta de moral moralista com que vou definhando o espírito é saber que estamos vivos e a partilhar este mistério de não sabermos porque é que ainda nos aguentamos, porque é que ainda estamos vivos, porquê nós e não os outros, e tudo isto porque comecei a falar da morte, a gente escreve, a gente escreve-se mas quando chega à D. Morte já não somos nós que falamos, que escrevemos, é qualquer coisa que temos dentro de nós, fora de nós, tem de ser qualquer coisa magnética, que nos puxa, que nos atrai, a verdade é que já nem eu sei onde este texto está, está sol, a luz bate-me no écran, não vejo as palavras, não conduzo mas deve ser a mesma sensação que se tem quando se vai na estrada ao fim do dia e aquela luz assassina nos cega, aqui é a mesma coisa, embalei, meti a quarta e agora deixo-me ir, as palavras, a puta das palavras que andam sempre à nossa volta, como dizia o Kitos, quer dizer, o Mamadu, são como moscas, as palavras, para um analfabeto as palavras têm uma existência física, são objectos, somas de letras, objectos mais pequenos, têm formas, densidades, às vezes devíamos encomendar a leitura das nossas palavras aos leitores analfabetos, na sua virgindade diriam coisas surpreendentes sobre aquilo que escrevemos, cada letra seria uma pequena escultura, eu sei, já me perdi, mas há muito que só o mais desatento ainda lê esta canzoada, soltei os cães, gosto desta ideia de que a escrita é soltar os cães no mato que somos nós, vou a ver se me recupero, sem ir lá atrás, não quero, tem de haver alguma rebeldia nisto, porra!, uma vez por causa de um porra ofereceram-me um emprego, eu tenho histórias assim, inadvertidas, tenho e não tenho, tenho e fogem-me, estão dentro de mim mas eu não sei onde, foi por isso que quando me convidaram para escrever na olivesaria eu achei ainda bem, estes gajos vão escrever as suas histórias e eu vou vampirizar tudo isto e escrever um romance, dois, três, não foi isto que até agora aconteceu, ou se o for está a acontecer mais devagar, eu gosto quando as coisas acontecem mais devagar do que quando as tenho na minha cabeça, o que está a acontecer é, como diz o Beira, há coisas que sim outras que não, leio as imagens, os bonecos, com a mesma generosidade com que sei que vou ser lido,não sei o que resulta disto, sei que me sinto bem, sinto-me em casa, sinto-me em casa numa casa maior, não são as pessoas do passado, com a maioria das quais não tive realmente grandes coisas para lembrar, são as pessoas do presente, meio gente meio avatares, gosto de imaginar que a Timor me lê em Londres, quase não a conheço, ela não é ela, é as imagens que me suportam, vocês hão-de achar isto pimba mas sempre que leio o nome dela ouço-o através da voz do luís represas, adoro aquela voz, se um dia me aparecesse um duende eu não pediria resmas de gajas, barris de petróleo ou lingotes de ouro, como pensava que seria assim se alguma vez me deparasse com a lâmpada de aladino, pediria para por um minuto que fosse ter a voz do luís represas, os nossos nicks somos nós, os nossos nicks somos nós de outro modo, Bolama, Fulacunda, Xai Xai, Beira, A rapariga que veio da província, estes nomes ressoam-me, lembro-me de coisas que nunca existiram, que ainda hão-de existir, sabe-me bem a vida assim, tão longe da literatura, tão perto da vida, não sei porquê agora associo automaticamente o Fula a um Jantarinho de Feijão Branco, a um delicioso jantarinho de feijão branco, gosto de cozinhar, tenho as ementas no Benguela todas no desktop, desde que o vi com pose séria no fogão da Quinta da Abóbada disse, vou atrás dele que vou bem - até com o próprio Xai Xai de quem me lembro de tantas coisas e com quem a memória tem um à vontade que não tem com outras pessoas é mais o prazer de estarmos juntos e vivos e ao mesmo tempo do que a memória deste ou aquele feito - não vou escrever o romance, merda, nunca escreverei a puta de um romance, vou ficar por aqui, escritor de posts, eu dizia que o meu pai era filósofo porque se tinha formado em filosofia, o meu puto vai ter de encher o orgulho quando disser: o meu pai escreve posts, estamos sempre, estamos sempre diante do olhar dos outros, é o que vos digo com a minha alma de actor, um tipo não deixa de o ser nunca, em vida, de representar papéis, um papel, digo, digo-vos, estamos sempre, sempre diante do olhar dos outros. é uma condição.

Vamos lá embora (adenda)

Apesar do Vamos lá embora a GAnda Polémica manteve-se no registo email entre alguns dos prestigiados bloguistas desta praça. Dela serei responsável, pela intempestiva resposta a um(a) comentadora. Vamos lá embora, então.Fica o meu pedido de desculpas à referida comentadora. Aos outros leitores. E aos prezados co-bloguistas que não apreciaram o tom e o som. Fica também um excerto das minhas "justificações" aos prezadissimos co-bloguistas sobre o tal tom e o tal som:

"Acho perfeitamente legítimo que se critique o tom geral ou o tom particular do blog ou de um dos bloguistas. Bem como o som.

Eu sempre bolamizei esta minha parte no Olivesaria - nunca tive grandes laços fora da Bolama, posso mitificar um pouco o passado, mas nada me faria andar aqui a escrever ou ler sobre as ligações com "vivendas", "encarnação" ou isso. Mas compreendo e compreendi que se me disseram por duas vezes para desbolamizar desbolamizei, tudo bem

Também compreendo, e para mim é desde há muitos meses o "motivo de enfado" face ao blog tal e qual tu referes teres tido, que a desbolamização leva a isto: ( ...)

O meu enfado - é o meu enfado, legítimo mas nada mais - é com as actividades de braço de prata, o kart, os novos jornais de velhos olivalenses, ou novas revistas de velhos olivalenses, as festas ou jantares que vamos fazendo - e mesmo estas sem qualquer registo particular. Ainda que, honestamente, antes isso do que as caixas de comentários dos bloguistas que não o são, apenas em volta do "quem és tu?" "quem serás tu?", desvanecidas quando "afinal és tu?".

O meu enfado? como dizias num post há uns meses, já ninguém tem memórias para deixar aqui. É um ponto final parágrafo. Dize-lo em post, resmunga-lo em comentário. O Beira resmunga em comentário vs as memórias. O JB propõe um registo ensaístico, sério (que não é o meu, nem tempo nem fontes nem interesse para desenvolver tamanha actividade), e tu explicitas que não é registo que se queira, "já passou" disseste-lhe.

(...)

O registo memorialista não é eterno, claro, nem inesgotável. O blog servir para encontros e reencontros óptimo (e porventura será o melhor de tudo, o mais divertido).

Para mim fica-me o reencontro com alguma leveza, que não existe - como é óbvio, e me foi óbvio no episodiozinho do bolama caluniador, quanto mais nos pruridos quanto a uma peida escrita - e que portanto posso reinventar. Com o barak obama ou o manafá, lic. Ou uma ou outra caralhada. Mas também com algum espírito que reencontro - como o Benguela amanhã a dizer que "passa os colhões" neste email [e post]. Que isso sim, são os meus Olivais, não o "local aberto ao público" - já no Natal aí alguns co-bloguistas e co-comentadores me criticavam o "tom" de alguns posts, os palavrões, os assuntos. Como, por exemplo, poderiam mostrar aos pais este blog da sua juventude? [E aos filhos?] Foda-se, aos quase cinquenta anos! (ando a reler o Eça, que os nossos pais queriam que nós lessemos para tirarmos boas notas no liceu, e é lá só putas, bebedeiras, corridas de carros, paneleiros de taberna, fufas de alta roda, esbanjos de taco - e estamos preocupados com os assuntos e os tons? Caralho)

Para mim antes reinventar, mitificar essa leveza do que reinventar (para mim) uma irmandade, um comunidade, uma amizade com gente que nem sequer conheci quando puto, nem vou conhecer agora. Não por decisão ou des-gosto. Mas por mera des-ligação".
Claro que (re)inventar em casa comum é complicado. As sensibilidades são várias e todas legítimas. E aceito que uma memória qualquer, um palavrão mal-cheiroso, uma private-joke ou etc sejam tão desagradáveis para outros como a temática "clean" vigente o é para mim. Conter-me-ei.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

vamos lá embora ...

... a andar com isto para a frente, que nada há para recear


vamos lá embora malta, mas com juízinho, senão eu chamo o meu padrinho que é o dono da chafarica


GAnda Polémica ....

Coisas do intercomunicador da polícia ....

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Trancados os comentários a um post. O que me leva a um comentário aqui. Isto é um blog de (velhos) amigos (e/ou vizinhos). Tem essa particularidade. É aberto mas não me parece ser um blog de discussão típico. Um anónimo que vem aqui protestar com a "prepotência" dos entre-comentários dos seus autores está enganado quanto ao registo do blog, e ainda mais quanto ao registo da interpretação que lhe cabe. Acho eu.

Está ainda mais enganado, e isto num sentido mais geral, quando se anonimiza botando faladura séria.

Depois naquele post houve uma série de comentários anónimos, que culminam com um insulto à minha pessoa, Bolama, ex-sito na rua cidade de Bolama, prédio dos Pachecos. Uma pseudo-trupe de anónimos, na qual não será difícil descortinar um único autor, até pela sucessão cronológica dos comentários, quase minuto a minuto. Fiz bem em propor o encerramento dessa caixa de comentários, não só pelo tom que veio a adquirir, em esconso regime de anonimato, como pelo soez ataque à minha pessoa. Como fui visado, e já anteriormente tinha escrito comentários, não quis ser eu o administrador a encerrar a caixa de comentários, pois ser juiz em causa própria não me parece ser decente. Agradeço, pois, a quem se aprestou a silenciar o torpe imbecil.

Finalmente. Diverti-me imenso naquela última série de comentários!

Assinado: Anónimo Originário, aka, Falso Anónimo, aliás Anónimo, ou anónimo, e ainda Anónimo Verdadeiro, Anónimo I e verdadeiro primeiro Anónimo. Mas não anónimo que conhece alguns oliveseiros e por isso não se identifica.

Heterónimo disse ...



Isto está mesmo a pedir um Enquete!

Lápis Azul Redux


Discordo totalmente da censura praticada abaixo.
Curiosamente, foi proposta pelo Bolama, a única pessoa que na minha opinião ultrapassou as marcas ao utilizar expressões que não atingem os mínimos da boa educação.
Com estima,

Xai Xai

terça-feira, 3 de junho de 2008

Blog Shopping
num blog perto de si


Leia, assine e divulge.


Independentemente dos méritos ou deméritos do projecto, vale pela condição de benfiquista do tal de Afonso Melo que não conheço e espero sim que seja mais um jornal benfiquista, totalmente independente. Conheço um dos redactores, o André Pipa que também é olivalense apesar de ligeiramente esverdeado que é, como todos sabemos, cor pouco consentânea com azeitonas, oliveiras e olivais.
P.S. Valeu o euro gasto, quanto mais não seja para apreciar aquele par... de jogadores do meu clube que homenageiam aquela música melosa "Ebony and Ivory" do P. McCartney e S. Wonder (que duo!).

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A bola é redonda e minha!


Nada como uma fotografia para relembrar os dias em que o futebol era importante e sério, no tempo em que os resultados eram imprevisiveis. Fiz bem em acabar a minha carreira antes deste desporto cair na lama.

tinha de vos avisar !!


JORNADA


UM JORNAL FELIZ
NUM PAÍS TRISTE

Parece-me ouvir casquinadas trocistas vindas das gargantas de alguns dos leitores que hoje, por interesse, por curiosidade ou por puro acaso, se depararam nas bancas com este seu novo jornal.
- Ah! Ah! Mais um...
Pois guarde, para já, o seu escárnio, caro leitor. Bem sei que tem motivos para certa desconfiança. Quantos jornais têm nascido e morrido, com e sem história, neste país que o mar não quer, como lhe chamava Ruy Belo.
Mas nós, que nos deitámos à aventureira tarefa de fazer o exemplar que está neste momento nas suas mãos, não acreditamos em fatalidades. Somos pelo direito à indignação, mas não temos direito à resignação.
Acreditamos em nós e em si: na nossa capacidade de fazer algo diferente; na sua vontade de ler e no nosso gosto de escrever, de ir à procura de notícias, de contar episódios e lembranças, de analisar, comentar, criticar tudo o que vemos e ouvimos, com lealdade, com verdade e com o desejo de esclarecer e de ser útil.
Não sei se, no mundo de hoje, está ou não tudo inventado. Mas não está, certamente, tudo re-inventado. Queremos um jornal que seja uma placa giratória de temas, ideias e opiniões, de pessoas dos mais diversos quadrantes, gente famosa e anónima, homens e mulheres próximos ou distantes daquilo a que se chama a Grande Imprensa.
«Jornada». No local em que escrevo, aqui à Av. Rio de Janeiro, em Alvalade, viveu José Gomes Ferreira, escritor, poeta, até músico. Entre as muitas obras de Fernando Lopes Graça musicadas sobre poemas de Gomes Ferreira há uma, talvez a mais conhecida, chamada «Jornada». Começa assim: «Não fiques para trás, oh companheiro».
Companheirismo: também é disto que trata esta missão de jornalistas que, como escreveu um dia Alfredo Farinha, com quem tive o prazer de trabalhar e aprender, «é ir à procura da vida no meio da vida, ir ao encontro do acontecimento onde ele aconteça, conhecer os problemas dos homens, devassar os segredos das coisas desconhecidas e saber a razão dos êxitos e dos fracassos da sociedade».
Foi, portanto, na casa em que viveu Gomes Ferreira que nasceu a «Jornada».
Será longa esta jornada, por vezes juncada de escolhos. É preciso coragem para continuar a caminhar num país parado. É preciso teimosia para se ser feliz num país triste. Acreditamos que o trabalho sério pode ser divertido. Queremos que, ao pegar neste novo jornal, se divirta a lê-lo ou a folheá-lo como nós nos divertimos a fazê-lo. E que pense e contribua. Que isto seja um diálogo e não um monólogo.
«You’ll never walk alone», cantam os adeptos do Liverpool. Quem já os ouviu, em Anfield, sabe como é arrepiante. Como nunca a dupla Rodgers e Hammerstein, que compôs, em 1945, o tema para o musical «Carousel» o terá provavelmente imaginado.
«Porque nenhum de nós anda sozinho/E até mortos vão ao nosso lado», canta-se em a «Jornada» de Gomes Fereira/Lopes Graça. E o poema foi, também ele, escrito em 1945.
Há sempre momentos em que o futebol e a vida se confundem.
Não andaremos sozinhos. Contamos consigo!

Afonso de Melo