terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Do dia para a noite


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As Arcadas




Dia 24 de Dezembro, ao fim da tarde. O Benguela já não estava. Nem a Lobita. Na hora de ir para a terra, para a consolada, tempo ainda para servir os clientes fiéis com o tradicional copo de plástico.
Para o joão verde que estava lá e, claro, não percebeu nada
Já nem música, eis o fim da noite meu amigo, meu caro amigo, meu querido amigo, meu frágil amigo, meu gordo amigo, aprende comigo, eu já veterano apesar de assim, de afinal tão novo … , direi daqui a esses todos anos que passarão, aprende comigo apesar de tão aqui oscilando neste banco alto, tudo isso amigo aprende comigo exactamente por tão navegando neste banco alto, aprende comigo companheiro mano – como agora não se diz, só noutro futuro noutros sítios o faremos – aprende comigo enquanto olhamos bem nos olhos estes últimos dos muitos whiskies de hoje, meu caro amigo, meu querido amigo, meu frágil amigo, meu gordo amigo, aprende comigo o que acabo de descobrir aqui mesmo e te partilho tão sentido o é, tão fundo me está a ser, este “foda-se não há nada, nada mesmo, no fundo das garrafas!!!!”, e bem que a isto podes sorrir, rir, abanar-me e até abraçar-me que sei agora de toda a certeza tida que nada há mesmo no fim dessas todas e tantas garrafas que vamos despejando. Certo é que me podes abandonar assim, eu por aqui de minha cabeça no meu ombro, tu aí baloiçando nestes corredores tentando provar-me outros fins, que me ficarei, olhando, se calhar até desvanecido, esta nova realidade da desesperança, sei desde hoje ter idade para tal, apesar de afinal tão novo …, di-lo-ei daqui a esses anos todos que passarão. Deixas-me tu e

ela, ali tão perto, avança para mim, sorriso holofote, encadeando-me o mundo como sempre o faz desde há tantos anos (sabê-lo-á?) (sabê-lo-ei?), se calhar até desde a primeira vez que a vi, ou talvez nem tanto, mas sinto-o tão bem dizê-lo assim, senti-lo senti-la tanto assim, todos os dias e todas as outras e todo o resto esmagando desde que do seu perfil em vermelho me enchi, e é ele um aroma liceu algo nada roxanne, apenas e tudo ela mesmo, enchendo-me desse tudo, o mundo rodando quando ela, e tão tanto que ainda depois, acolá de madrugada nas teclas, ele girará quando eu e ela,

e então o sorriso até sol avançando para mim e mais uma vez o de sempre “agora vamos para onde?” – coisa normal de dizer ao dono do (sempre me minto) único nosso carro ali, lenda fiat que estou fazendo – e eu, tentando regressar de onde nem sei bem, “não faço a mínima ideia” mas nos laivos de jovem cavalheiro que me imagino “onde queres ir?” e ela num, súbito, e enquanto oscila ombros, entre-riso, coisa do dizer-me do óbvio que afinal tudo isto já deverá ser, mas ainda assim sublinhando-o “não sei ..., contigo vou até ao fim do mundo!...”

e eu, aqui inundado pelo tudo naquilo que me chega abrupto, nunca o imaginando como afinal possível, recebendo assim um verdadeiro fundo de garrafa, todo ele, nem só encadeado mas mesmo vivendo-o, encantamento encantando-me … Mas logo resistindo, regressando-me ao que julgo ser, mas alguém mo terá dito?, ao que julgo dever ser o meu assim, saberei logo depois que é só aterrorizado, resmungá-lo-ei já a seguir mas ainda não, deixo-me ser um outro eu mesmo, mero tétrico, embrulhando medos nos sorrisos de um que se quer cínico: “ouve, não tenho gasolina para isso!”, cruzamento devastador do tudo que o que virá a seguir, e já o sei agora mesmo que falei, logo logo antes de lhe ouvir o de volta meneado bem silabado “és um filho da puta …”, esse mesmo que desde hoje, e tantos hojes depois continuará, sempre anda comigo, assim eu um menos eu. Um pouco-pouco eu.
(mpt, Agosto 2007)

Olivais

(este texto é velho, para aí com oito anos. Repescado foi a segunda entrada deste blog. Posteriormente apagado por um conjugado de razões: uma muito certeira, e que me leva a pedir desculpa ao evocado, que julgava "desaparecido em combate"; a outra tão espúria que escolheria esquecê-la. Aqui segue depurado das referências que maçaram algumas gentes. Está aí o nome do Zé Monteiro - por favor não me venham dizer que parece mal dizer que tenho saudades dele).

Em memória do Zé Monteiro, Senhor e Iconoclasta


O primeiro tipo que vi a xutar foi o Beto João, para aí há uns 20 anos, estávamos todos na gruta do Venâncio. O gaijo apareceu a pedir para dar lá o caldo e entrámos todos, a pensar que se ia fumar um charro. Ele não gostou, e eu também não que seringas nunca foi comigo, mas ainda precisou de ajuda para o garrote, hesitámos, ficámo-nos e foi a Maria Madalena que os teve para se chegar à frente – um dia, mais tarde, já tornada D. Lena disse que não, mas isso pouco importa, e ainda menos então, pois já éramos o que somos hoje. O Beto João era da geração mais velha, junkie de sapato italiano, bem penteado, andar balançante e inchado, olho arqueado, tipo bonitão piroso. Depois a vida foi-lhe piorando, baldou-se para o estrangeiro constava que em curas, e um dia morreu em Itália de um tiro na cabeça. É certo que muitos anos depois, eu já trintão no café do Pinto, e ele entra-me, igual a sempre, todo atilado a pedir uma bica. E lá ficou, sorte dele. Outros morreram assim, também ao Irão lho aconteceu lá pelas vindimas estrangeiras, último refúgio de uns quantos, e estou eu a almoçar numa tasca com o coronel e o gaijo a entrar a dizer que não está nada morto, e se pode almoçar connosco. Mas não estava lá muito bem, e afinal sempre se morreu passados uns tempos. E ao Zombie, aquele verdadeira série B, um tipo altíssimo e magérrimo, todo baço do cinzento que era, que ganhara o cognome ao morrer de Od e a arrepender-se logo a seguir, decidindo-se, quem o diria, a acordar na morgue onde, contavam, causou um grande impressão, e até susto, mas do feio que já era.

Nos xutos perdeu-se muita gente, alguns resistiram anos a fio e depois limparam-se, até se veio a tornar engraçado nas imperiais da esplanada e eles, sumol de ananás, limpinhos, a contarem das dores das curas, alguns a misturarem as histórias das dores com os cristos que lhes tinham impingido naqueles entretantos. Outros foram morrendo, de amigos amigos assim só perdi o Zé M. que está aí na epígrafe, um Senhor que me faz saudades, Átila da retórica a erva não nascia sob as suas palavras. Outros perdi de outra maneira, ficaram vivos mas o seu desatino separou-nos, que se aprende a não ter paciência para os agarrados, alapam-se mesmo, só tantos anos depois percebi que quais matacanhas, que é bicho que nem conhecia à altura.

Quem cresceu nos Olivais sabe bem o que era a mistura de gentes, que era o que tinha a piada, foi o que retirámos do Salazar, que foi quem inventou o bairro, uma sopa de classes queria ele, a ver se melhorava o tempero, o dele claro está. Aos 9 anos saía-se da carrinha do Valsassina para a pedrada com os ciganos e havia quem logo fizesse alianças de classe com o Chica e o Pimenta, que penso perdurarem até hoje, caso seja necessário. Quando chegados a crescidos isso dá-nos um grande treino na vida, apesar das surpresas! E aprendemos que as drogas são como o futebol e a caça, os índios vêm de todas os estratos.

Lá pelos finais do liceu, quando tocou a rebate por causa das médias, os pais a quererem-nos sô doutores e nós sem saber como não o ser, havia imensa gente junta, nem se sabia bem como, que aquilo éramos aos magotes, saímos de todos os recantos. E também, claro que por isso mesmo, havia muito produto, coisa plural de opção, as mercearias não faltavam, lá no Gordo, nos Candeeiros, no Brisa, nos Viveiros, no Ferrador. As mais pesadas diziam que era no Cambodja e no Modesto mas aí só ia quem conhecia e os tinha no sítio. E já nem falo do Comboio Parado e do Vietname, ambas lá para a Cidade da Beira, mas a estas últimas nunca me cheguei, que essa era zona nada segura para nós, nunca percebi bem porquê, falta dos contactos certos, penso eu mas só hoje, que isto mesmo nestas andanças havia os territórios certos de cada malta.

Da geração mais velha alguns já andavam aflitos com a heroína, o cavalo como dizia a xunga dos dealers, e que já acima gemi. O ácido é que era coisa de filme, sabia-se que existia mas não era usual, e o que aparecia era só estricnina. E tanta era que mais tarde tivemos que ir ao Burroughs e afins saber como aquilo funcionava mesmo. Vendo bem éramos e fomos uma geração pós-acido e pré-pastilhas, essas que lá para os 90s, nós já senhoritos, puseram Lisboa aos pulos de madrugada com músicas que me tornaram avô, que aquilo era só barulho, e ainda para mais usada por gentes que só bebiam água, que desperdício de noites.

Quando começaram os 80s chegou a era dos drunfos, afinal o ácido dos pobres. Noites quentes pelos cafés com dezenas de tipos meio aos gritos meio aos grunhidos, um bazar de comprimidos onde o rei era o Espanhol, um celta sem dentes, histriónico. Aí o pessoal graduava-se, o máximo era quem arranjava as panteras cor-de-rosa, o grande sómio, coisa de tráfico, mas quantas das vezes restavam as idas às farmácias das mãezinhas, as cujas iam esquecendo os maridos ausentes ou arredios à pala dos roips ou mandraxs, uma pôrra porque davam ganza - e aquele borbulhar quando caídos nas imperiais prometia mesmo isso - mas tornavam-nos amnésicos. E era assim, erravam grupos anestesiados, nada para lembrar no dia seguinte, excepto pelo sóbrio que ia para tomar conta, quando o havia disponível. Acho que isso decaíu quando o Chico dos Drunfos se deixou morrer atropelado em plena Av. de Roma, ter-se-á esquecido de a atravessar. No meio disto tudo usavam-se speeds, mais legítimos porque até vendidos nas farmácias. Ainda assim os mais velhos falavam, saudosos, do lipoperdur, uma verdadeira lenda ainda hoje lembrada com frémitos, que lhes tinha permitido terminar o liceu no meio da festa, pois era coisa de animar o "duques" e ainda estudar noites sem parar. Mas tinha sido retirado do mercado, fascistas, pelo que rapaziada estudava e curtia à base de comprimidos para emagrecer, uma cena um bocado envergonhada, sem grande onda, e que cobrava o acelerar com ressacas chatas que não havia modo de enganar, era só estar acordado até passarem de preferência continuando a spidar reduzindo devagar, devagarinho, pois como se podia ir devagar no meio de tanto speed?

Mas o que reinava era o haxe, o compromisso moral daquilo tudo, o cimento da sociedade. Barato era, mas raro havia dinheiro para comprar as barras de gramas, pelo que ele nos chegava aos pintores, o vulgo de então para cem escudos cujas notas já nem existem - nem as notas nem os escudos. Era coisa de consumo constante, logo de manhãzinha um assobio lá em baixo na rua, às vezes ainda na cama e lá estava o aviso para o sair a correr, duche rápido nem fossemos ficar agarrados ao filtro, o apelo à vaquinha que aquilo era coisa para fazer de preferência em grupo, se bem que a prática da marroquina, a bem democrática passa única inchada até rebentar, nunca fosse cumprida, para desespero de quem ficava para o fim, ali a remoer-se com as cinzas alheias. É certo que o brunhol era quase sempre muito misturado, em especial com aquelas cenas do shampoo, mas ia dando para não nos ficarmos atravessados. Pela diferença ficou célebre uma carga que deu à Costa, largada por qualquer traficante em apuros e prontamente recuperada ao circuito, tão bom era que anos depois ainda se dizia que o produto em causa “é da costa”, como selo da qualidade - um mito urbano, dir-se-ia anos depois se fosse dito, matéria de filme se houvesse filmes.

Já bem rara era a erva, coisa de retornado, mítica mesmo, uns tipos mais estranhos esses gajos de África, quase todos ali pela Portela, vá lá que faziam imensas festas, curtiam um bocado diferente do que nós, que nos chegávamos a eles e a elas, sempre na cola. Mas quando "a passa" (eles falavam assim) aparecia era altura de festa, levada aos sacos de plástico até de supermercado para os grandes momentos, esses quase sempre lá pelo velho Dramático em Cascais. Ou mesmo quando o Woodstock fez dez anos, a malta à meia-noite no Quarteto e gajos que até as mantas traziam, e vá lá que ninguém se despia na sala.

Com isto tudo também na nossa geração o pó se foi espalhando. Mas havia várias versões, diferentes andamentos. Quem começava nas chinesas, a fumá-lo, levava logo na cabeça, que aquilo agarrava, que da chinesa ao xuto era um sopro, e eles a dizerem que não, que se aguentavam, mas todos sabíamos que depois era difícil sair. Certo que o Lou Reed já não xutava, que o Richards e o gémeo mudavam de sangue de seis em seis meses, dizia a Rock & Folk, mas aqueles heróis todos, especialmente os da guitarra fálica tinham-se passado. E até os mais velhos, Bird e Coltrane. Era só arrogância, “Ya, eu controlo”, mas se tanto o Hendrix como o nosso vizinho do lado tinham marchado… e se havia gajos em muito mau estado ali à mão de semear! Neles era muito um puxar do cabelo para trás, um que se foda que o rock n’roll veio para ficar, rust never sleeps e uns etcs a jeito … Mas é certo que ninguém chegou lá distraído, sem o pessoal a encher-lhe a cabeça. Mesmo enquanto se enrolava um charro, que o tempo dos cachimbos da prata daqueles maços de SG todos tinha passado à história, houve conferências sobre a matéria, posto que aquilo não era saudável. Até porque a imortalidade tinha sido questionada de modo radical, o próprio Marley se tinha ido pelo pulmão, de tanto cantar pela Kaya.

Falando de mim, do que me lembro não é só do ter a minha vida para viver, futuro saudável e feliz, e trá-lá-lá. Mas também da onda má do pó cortado, cheio de venenos misturados que nem sempre eram só Royal de Morango, do medo dos badagaios que davam aos junkies, de tantas histórias más de ods ouvidas contar, até da rapaziada conhecida. E lembro-me muito bem de não ser maluco para arriscar uma cena dessas, e comigo estava muito boa gente. Depois um dia lá fui para doutor, felicidade dos pais, engano meu a querer-me intelectual, levei um ano que nem a Bola comprava, aquela que ainda era a do tempo bom, o do Pai Pinhão, não era como é agora, e foi um tempo em que era só ciência, um mimo, nem hoje sei o que me deu. E com isto deixei de fumar aquelas merdas todas, que me punham lúcido, a perceber os estrilhos todos que a vida é. Como era coisa honesta, decente e culta, bebia quando tinha que ser, e tinha que ser muitas vezes, que a angústia continuava. Acho que continuou até me encher de amor pela Inês, e isso ainda levou uns anos.

Mas o festival continuou, aliás está aí. Agora, quando volto ao bairro ainda encontro personagens dos velhos tempos, uma verdadeira arqueologia. Alguns regressaram, cerâmicas frágeis a colarem-se os cacos. Outros nem tanto. Partilham-se as mesas, algumas bebidas e, se afloradas as memórias, o saber de que sabiam de início. É certo que a dor só se sabe depois de sentida, mas sabiam que ia doer. Talvez não tanto. Mas quem foi, foi…

Envelheço, mas quando chego a um sítio estranho continuo a perceber a onda reinante. E em Lisboa, na parca noite que ainda me permite, e que hoje me é estranha, entram-me pelos olhos dentro as linhas de coca nos narizes alheios. Mas isso são mais os tipos da minha idade, o kitsch do cartão de crédito, a cagança enrugada de quem não quer ser velho, nem que seja à força. Mas nem sei bem que drogas os putos consomem, essas sintéticas, nem os nomes lhes conheço. E se ainda há aquilo a que nós chamávamos, tontos, de contra-cultura. Acho que mesmo só o Rui Monteiro, sempre firme de Blitz em riste, nos poderá dizer. E se houver, seja lá o que isso for, se funciona à base de produto como nos tempos dos Freak Brothers.

Para quê estas memórias, tipo streap-tease canibal e autofágico? Lá bem no fundo, apenas um parvo a fazer-se Kasdam. Apenas exorcismo, o exorcismo da enorme saudade, coisa verdadeira, saudade daquele antes.

Cada um olha o retrovisor como quer. E nele vê o que quer. No meu espelho só brilha isto, aquele voodoo feito, ali no templo que (também) era a Gruta do Venâncio, voodoo guia do então e do então para cá. As "paredes têm ouvidos"? Então pintemo-los e que se foda ... Sim, eu sei que é um botox. Mas quero seguir recauchutado.
Coisa de pro-Natal, cotovelos no balcão do Arcadas (o velho Tó, claro está), tudo ao bolo-rei e na visita aos velhos pais, quando ainda os há, carregados dos remorsos de já não se ser a fonte de problemas diários lá em casa. E, na moda do agora, olivesando. Já agora sobre o que dizer, do como dizer. Do cuidado com os textos escabrosos, dizem-me e eu cabeceio na anuência. Das opiniões de cada um sobre o que fazer. Mas nisto pouco há a acrescentar - ali a castanha chama-se caju, e é cara e bafienta, daí que se comem tiras de milho empacotadas e a cerveja não tem gás. Como desenvolver com este ambiente? Gente com registo diferente ligada por um velho bairro, alguns copos por vezes, e isto chega e de que maneira. Um perora sobre se é ou não diferente "conversar" ou "comunicar". Ele acha que sim, mas come tiras de milho empacotadas e bebe cerveja com pouco gás - e com aquele frio todo. De que interessa o que pensa um gajo com estes modos, resmungo enfastiado com este vizinho apesar de ter que o aturar.

Como vamos para o Natal repetem-se as cervejas, agora de garrafa, as putas das tiras de milho, e até chegarão alguns whiskies, sem soda claro, e também gente relapsa a olivesar, que não têm o registo próprio e isso assim, dizem. Como se este existisse. Insisto, o que me fica deste pre-natal olivesado é o aquilo dos textos escabrosos, assustarmos colaboradores, ferirmos susceptibilidades, espantarmos leitores. Enfim, esta merda de ser conspícuo geracional. Eu estou inocente, até aqui já pus a Bíblia e não era in-natal. Nisto ficou tarde, a "pastelaria" já quer fechar. Daí que, poucos, vamos para os caracóis, miserável sobrevivência do que in illo tempore evoluíu de "Mete Nojo" a "Pinto". Os caracóis, caralho, onde um gajo vai acabar a sua única noite de natal olivesada ... Vá lá que por lá ainda haverá um ou outro Ponderosa para apoiar um Bonanza desvalido com a idade, que não há reino que seja imortal e aquilo agora é uma merda de uma república de velhos. Ainda olivamos ali. No caminho, ali ao saudoso D. Rafael, cumprido que já foi o segundo de silêncio pelo velho Carregal, ainda pergunto nada escabroso se por acaso não haverá alguma brachola, até há, mas alguém se esquecerá de a representar naquele durante.
Afinal hei-de sair, pudera, que os dos caracóis já querem zarpar, assim para o trôpego. As grades dos maias são ainda verdes, mas esses maias foram espantados de vez, e não sei porquê, a casa de brasileiro antes de o ser está abandonada como sempre o esteve quando era algo, e depois foi lá um gajo dizer que era admirador do james eduardo de cook e alvega e tirou-nos aquilo, como se fossemos alemães, e do aquilo tudo fez o nada de hoje. Com as pontas dos dedos corro o gradeado como tantas vezes o terei feito, mas desisto, olho aquele vazio agora soturno e regresso na via do meu fiat, que há coisas que não são mais do que coincidências. Oscilo, e percebo que olivesei o que posso olivesar. "As coisas foram mudando", mais ou menos cantava um gajo dos velhos tempos - olivesa pouco, rapaz, diria ele hoje, e se calhar não está sozinho nessas lérias. Avanço então para a Rua, há luz em casa da Timor, do Xavi também, mais nada, mas não assobio a ninguém, seria escabroso repito-me ácido.
Subo, pé ante pé, não vá acordar os meus pais - e é só no corredor que me lembro que tenho lá também mulher e filha (já!?!?, ganda bandeira). Foda-se, por esta não esperava. Meia volta, abanco na sala em saudades dos tempos da nossa datcha, e assalto a garrafeira do pai António, esvazio-lhe o whisky velho - com um sentimento de culpa apesar de ter sido eu a comprá-lo. Depois, bem depois, um briol do caralho, vou pé ante pé, e nada escabroso, tirar fotografias ...


Ofertado à comunidade por a guy once known as Drinô, depositada na Gruta do Venâncio.