sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Notas (fotográficas) sobre o povoamento dos Olivais


No outro dia fui ver um espectáculo ao teatro da Malaposta e encontrei lá esta exposição. O post tinha ficado adiado, como tantas outras coisas.
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Última Hora

Resolução nº 180/77, de 22 de Julho de 1977, transcrita no Diário da República, 22 Julho 1977 (núm. 168): Determina a cessação da intervenção do Estado na Draivimpe - Centro Técnico de Reparações, S. A. R. L.
Atendendo a esta recente disposição legal nada obsta, caro Draivimpe, a que encetes de imediato a tua participação, de pleno direito, nesta instituição colectiva de iniciativa privada sem fins lucrativos.

Os professores

Ao descer para o metro cruzo-me com um rosto que me parece familiar. Ele também me reconhece.

-Professor Roxo! Viva!

Está reformado, entregue à sua vidinha, que o relógio segue em frente. Trocamos duas ou três palavras, foi meu professor de latim, ubi societas ibi ius, onde está a sociedade aí está o direito, mala burra est, a maçã é vermelha, rosae, rosis, rosa, foi o que me ficou desse ano e meio às voltas com o latim, mais os atrasos na vida, mas isso quem sabe, se não vai por um lado encaminha-se por outro, o professor Roxo, sempre com um ascético casaco de napa preto, olhos cavados, presidente do conselho directivo, era o Roxo, o maestro dos nossos Viveiros.
Esqueço-me dele e começo a lembrar-me dos outros professores. Daquele professor de matemática que inventava jogos para que a ciência dos números se nos tornasse mais familiar, da professora Noémia, a professora de história, que era terna e meiga e paciente e doce, do Bacelar, o professor Bacelar, que ficou um amigo para a vida, ainda o encontrei por aí, o Gadoche, o Rui Dias José e o Afonso Praça, e muito especialmente aquele professor que já não me lembro do nome mas que nos colocou por dentro da febre de escrever. As suas propostas de redacções entusiasmavam-nos. Havia uma rapariga, a Luísa, a quem ele descobriu uma veia poética e que dizia, há-de ser escritora. Liamos os textos dela em voz alta, eram textos sensíveis, poéticos, falavam sobre a mulher, e a pouco e pouco todos nós alimentávamos a vontade de passarmos pelo quadro de honra daquele professor apaixonado pelas letras que nos lia o que diz molero?, como nos falava de Irene Lisboa, José Gomes Ferreira, Aquilino, Garret, e que principalmente, nos tornava nos personagens principais da nossa vida. Sorrio ao passar do tempo: comecei a escrever por inveja da Luísa. E às vezes quando por aqui alguém se detém no que eu escrevo, lembro-me do trabalhoso percurso que nesse ano fiz até merecer, numa redacção, um bom deste professor meio careca, baixinho, e que mudou tão radicalmente a minha relação com a vida.
Alguns anos depois os velhos deuses recuaram, refugiando-se em recônditos outros bairros, desiludidos de tanta aceitação daquela nova crença, a Adultez, que tão lesta se espalhava. Aqui e ali alguns templos iam subsistindo, cada vez mais vagos de fiéis. E mesmo estes, um a um, se iam, até envergonhadamente, rendendo ao novo Senhor.

Aqui fica a homenagem ao último dos sacerdotes pagãos, guardião de velhas crenças, até oráculo de quem ainda acorria aos velhos chamamentos dos pomares divinos: