Estou no campo, lá pela serra da Lousã, ou assim me parece, se calhar perdido. Há dezoito anos, dizem-me, e confirma-mo o tamanho, o brilho, a esperança e a quase-certeza do agora-já-não-bebé que então visitei ... há dezoito anos que aqui não venho. Um dos meus incondicionais, idiossincrático claro, por isso mesmo meu incondicional, até ao Lar se lá chegarmos, já foi dormir, fugido, se calhar titubeante, deste luar apaziguador. Lá dentro repousam, profundas já, as três famílias com que nos rodeamos. Ficamos dois, a ele não visito há dezoito anos, e repito-me. Ele nunca me visitou, e denuncio-o. Quase manhã alta e estamos ao tal luar. Enquanto fala lembro o que com ele aprendi, sem que ele soubesse ou se apercebesse, ou se calhar percebendo como se não desse por isso, um tal de Moebius, o Loustal, e outras coisas mais, mas acima de tudo uma placidez antecâmara de uma varanda que terá feito pequena-história, a da intimidade de homens. Estamos ali, eu agora quarenta-e-cinco, preciso de lembrar, ele ainda mais lamento ter que dizer, há duas décadas ou mais que nem grande coisa entre-nós, ou alguma vez terá havido?, os nossos miúdos conheceram-se hoje, as nossas mulheres (e que belas mulheres nos calharam em sorte, benção do destino?, destino de olivalense?) apenas agora a encontrarem-se, ou tal tacteando, num "afinal?!, ela é assim tanto ...?", nós há duas décadas ou mais que nem grande coisa, e de súbito, naquele luar de campo, está ele a chorar a rir e também eu, lágrimas face abaixo, coisa em mim de há tantos anos, não sei ele, imagino que também, quero imaginar que também, comporá a imagem do momento, mas em mim assim mesmo, há anos que apenas metáfora me era, e eu ali na serra, na casa do meu pampan, a chorar a rir, lágrimas abaixo, às tantas da manhá.
É isto o meu Olivesaria
By Bolama
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