segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
o Poço da Morte
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Ainda a grande muralha de betão
Aquelas imagens que o Beira aqui colocou e essencialmente o título, dando-me conta de que afinal o meu percurso de vida me aproximou de uma visão comum sobre o espaço, sobre o lugar, sobre a forma como os habitamos, com pessoas que até aqui só conhecia por fora, deram um novo alento a esta ideia de pertencer a um blogue como a Olivesaria que, por vezes, se assemelha a um grande café virtual que reune os diferentes botecos de venda de tempo livre que se ocuparam das nossas adolescências comuns. E que nos revestiram a todos de um película, uma pele, multiresistente à erosão do esquecimento. Eu não sei de onde me vem esta pulsão para um sentimento comunitário face a estas oliveiras, a este linguarejar olivalense. Nem o sei medir ou qualificar. Só sei que por vezes me atrai, outras me afasta. Mimetizando assim a vivência que tinha com os cafés reais do bairro. Onde na mesma tarde podia ir de uma tremenda seca até a uma enorme aventura. Eram lugares de ócio, de vazio, mas também de febre, de febre azul, amarela, verde, lilás, arco-íris. E naquela altura não lhes havia alternativa. Quer dizer, crescemos assim. Podíamos mudar, chatearmo-nos de outro modo e de outra maneira, combatíamos com uma imaginação e denodo que já não temos hoje a grande instituição que nos acompanhou o crescimento, a seca, o tédio ( e que se limitava as mais das vezes ao tempo em que tinhamos de ir aos consultórios médicos) mas, enquanto adolescentes, estávamos presos a um estádio de desenvolvimento em que a liberdade era uma metáfora, uma utopia, um sonho. Agora já não é assim. Tenho quarenta e cinco anos e a única vez que apanhei uma seca nos últimos anos foi quando estive à espera de uma consulta no Centro de Saúde. E embora faça, com um sorriso nos lábios, muitas coisas que os meus dezoito anos achariam entediantes e insuportáveis, congratulo-me com tudo isso. É a minha vida, a vida que tenho para viver. E não é só isso, claro, já me perdi no que estava a dizer. É aliás por isso que muitas vezes evito cá vir. Sempre que cá venho começo a falar, a falar e depois perco-me. Eu estava a dizer que o post do Beira me relembrou de que há uma zona do pensamento onde eu me reconheço próximo de um sentimento comunitário com o Olival. É o rememoriar, o tal remurmurejar, isso é a seiva, mas há mais qualquer coisa: a ideia de que o trabalhar sobre uma determinada percepção do que foi viver nos Olivais possa ajudar ao próprio ofício de construirmos os lugares, os bairros, as próprias cidades. E de facto a metáfora da grande muralha é perfeita - e poupa-nos tantas palavras- para explicar porque e onde é que se foi longe de mais na ocupação volumétrica das antigas hortas, porque é que se foi longe de mais no negócio especulativo.
A Grande Muralha...
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