Faltam-me as fotos dos Olivais onde me sobram nomes.
Ao ler o comentário do Marco e ao pensar que ele poderia ser aquele miúdo que quando jogava ao petróleo com o meu irmão se vestiam os dois de sheiks das arábias, comecei a imaginar o prédio por andares. O Duarte e o Zac moravam no sexto que cruzava com o meu, no quinto. Foi com o Duarte que eu soube o que era o 25 de Abril. Tinhamos onze anos, estavamos em 74, como é natural não percebíamos nada de política, não sabia nada do mundo - como se agora soubesse!!! - sabia que o João, o Tico e a Moscha traziam - com o primo dos Pachecos, o Xavier do 89 - histórias fantásticas das férias passadas em Espanha, onde um dos pormenores mais festejados era a mistura de Coca Cola, a verdadeira, com aspirina, a liberdade para mim era isso, o Xavier, a Moscha e o João a beberem Coca-Cola com aspirina. Um dia, no dia 25 de Abril de 74, há grande alarido na manhã informativa, está tudo em sobressalto, pergunto ao Duarte, o meu primeiro melhor amigo em Lisboa, da nesga da varanda de onde conversávamos horas a fio:
- O que é que há?
- É uma revolução.
- O quê?
- Foi o meu pai que me disse.- O pai do Duarte já tinha lido o Portugal e o Futuro de António de Spínola - Eu depois explico-te. Mas não há aulas.
- Não há aulas?
- Não.
- Fixe!
Saudámos logo ali a revolução por nos oferecer um dia de férias suplementar. Não sei o que fizémos. Eram dias sem fim. Tudo era novo. Ainda não tinha feito um ano que eu chegara ao bairro, viver num prédio, com elevadores, uma espécie de caixotes pequenos dentro da caixaria maior onde habitávamos, era estranho, eu naquele tempo ainda era todo falta e ausência do verde, do cheiro a estrume nos caminhos, da ordenha do fim da tarde, dos sinos do Convento a espalharem-se pelo povoado, das horas e horas e horas na Tapada de Mafra a apanhar castanhas bravas, a procurar a sombra de veados, coelhos e esquilos. Era por isso que, como uma esponja, absorvia tudo.