quinta-feira, 20 de setembro de 2007
É para os putos que não querem comer a sopa! *
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" O Ai-Ai era uma das alcunhas, porventura a mais generalizada de Ricardo Santos Carvalho, célebre reclamista e vendedor de esticolicas (rebuçados estreitos e compridos) que percorria Lisboa com os seus pregões. Era um homem delgado, franzino. A sua fraca compleição não o impedia de palmilhar Lisboa de uma ponta a outra, principalmente os bairros populares.
Um dos seus pregões mais conhecidos era o ´"É para os putos que não querem comer a sopa!" o que ajuda a compreender o perfil deste personagem castiço, dando-nos conta, quer da sua língua afiada, quer do modo como era considerado persona non grata por muitos pais que pretendiam evitar o contacto dos seus filhos com esta figura.
O certo é que ele , que vestia sempre de branco, arrastava atrás de si a miudagem, que tentava roubar-lhe os chupas e rebuçados. Assassinado, ao que consta vitima de um assalto que lhe foi fatal, e que terá rendido meia dúzia de tostões, o Ai-Ai não tinha paradeiro conhecido, embora alguns dos habitantes mais antigos ainda afiancem que ele vivia para os lados do Pote de Água (Rotunda do Aeroporto de Lisboa).
Há também a indicação de que ele participou numa revista no Teatro Apolo (a "Bolacha Americana", onde se representava a si próprio), que estreou nos primeiros dias que se seguiram ao armistício que, em Maio de 1945, assinalou o fim da 2ª Guerra Mundial, e onde tinha como parceiros de cena, entre outros, Costinha, Hermínia Silva e Carmencita.
Outro personagem, o Urié, também existe no bairro dos Olivais, em Lisboa. Há muito que trocou a árvore pelos autocarros, a Carris ofereceu-lhe uma farda (o seu passe vitalício). Também nunca mais foi visto a vender jornais (do dia anterior) na Rotunda do Aeroporto."
*[Em 1990, na sequência de um trabalho de animação teatral com um grupo de teatro da paróquia de Santa Maria dos Olivais, resultou um texto, "É para os Putos que não querem Comer a Sopa!", que venceu o 1º Premio de Textos de Teatro do 1º Concurso Cultura e Desenvolvimento, do Clube Português de Artes e Ideias e do Instituto da Juventude, cujo título glosava um dos pregões mais conhecidos do Ai-Ai. Do pórtico desse texto - com autorização do autor - retiro esta pequena informação sobre os personagens "reais" daquela peça.]
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3 comentários:
Na realidade dois historicos dos Olivais. E falta o homem dos elasticos que aparecia na Bafata as tercas feiras. O homem era completo, vendia tudo, se fosse hoje era o Prof. Kalanga ou um seu sucedaneo.
PS: este c... deste teclado fdp nao tem acentos nem cedilhas...
lembro-me bem desse "ai-ai". E lembro-me também de um mocito da nossa criação que morava lá para os teus lados e que foi meu colega na escola no 7º e 8º ano que também dava pela alcunha de "ai". Às tantas conhece-lo. ;)
às tantas conhece-lo e às tantas um dia ele vai contar a história dessa alcunha, em forma de post. mas hoje não. hoje é um dia triste. um actor, por acaso dos Olivais, foi-se embora, cansou-se das deixas, das récitas, quem sabe, deu-lhe uma branca final. :)
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