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ainda pensei em escrever um texto mas nada como mostrar uma imagem d'O Pintor como ele era há 30 anos atrás.
Este blog é um espaço colectivo sobre nós e os Olivais. Caso tenha fotos ou textos que deseje aqui partilhar envie-os para o endereço na coluna da esquerda, (identificando-se ou solicitando anonimato) para a sua posterior publicação neste sítio. Obrigado.


juntamo-nos em roda. lembro-me que tantas vezes foi assim. juntamo-nos em roda e ficamos ali de pé a passar a vez da palavra, da conversa. tiro a fotografia, sei que ficou mal, os pixels, sempre os pixels, alguém, mais à frente, há-de dizer, liga o flash, pá, eu faço de conta de que não percebo, gosto destas fotos de legibilidade reduzida, gosto do grão da noite, depois hei-de tirar uma ao grupo, a pose final, tem de ser, mas é sobre esta que eu vou pensando que gostaria de escrever um post. tenho-a na cabeça. os olhares. passaram-se trinta anos, todos nós já fizémos milhares de rodas, às vezes passávamos os charros nestas formaturas cívis, mas é sobre esta agora que eu vou pensando que trinta, vinte e tal anos depois, olhamos de maneira diferente. o tempo é em nós diferente. não sei mais do que isto, a diferença do tempo. é nela e não no substrato capilar que noto as grandes modificações. nestes vinte e tal anos andei por caminhos meus, e não fosse esta olivesaria virtual, nunca teria chegado aqui. às vezes falam-me de alguns nomes como se eu os tivesse conhecido sempre e eu faço que sim com a cabeça, gosto de fazer que sim com a cabeça, eu só me lembro dos nomes mais antigos. mas nada disso me causa estranheza, muito pelo contrário, a mim que a razão, o entendimento, o perceber, o perceber-me, eram cada vez mais verbos intransitivos, dou-me conta que quando estamos juntos há um perceber que me chega instantaneamente ao entendimento. olho para eles e começo a gostar de mim, de ouvir o meu nome. começo a gostar de ter vivido estes anos todos da minha vida, de ter vivido estes anos todos à minha maneira, e de essa minha maneira, como todas as maneiras de cada um que se chega à roda, nos aproximarem. há vinte e tal anos eu não saberia que as nossas vidas, os nossos tempos seriam capazes de olhar assim para o que as nossas vidas fizeram de nós.
Eu tinha prometido uns posts atrás contar a minha versão da confirmação do Bolama como verdadeiro intelectual. Como de costume, estou com pouco tempo e tenho pressa pois é quase meia noite e esta história tem de ser hoje. Aqui fica uma versão abreviada: em 1985, um grupo de jovens olivalenses passou o mês de Agosto na Escócia, perto de Inverness, na senda de outros olivalenses idos em anos anteriores, como o Draivimpe e o Belizinho. Uma seca a trabalhar numa quinta de framboesas, nós na parte de selecção e empacotamento por sermos estudantes universitários e poupados assim ao muito pior trabalho da apanha. E a ouvir radio 1 o dia todo (aquela música do Angel ainda hoje me persegue). Estavamos acampados com o resto do pessoal e considerados excêntricos e finórios por termos três tendas, cozinharmos e tomarmos banho todos os dias (pelo menos as meninas). Acabado o mês de trabalho, tinhamos planeado arrancar (lindo verbo) até Barcelona, mas ainda tivemos tempo de ir passear a Inverness, onde eu tirei esta fotografia. Pois o Bolama desapareceu enquanto nós visitámos o castelo e as lojas, e procurávamos algum sítio onde beber café. Quando horas mais tarde nos re-encontrámos neste jardim, o Bolama tinha gasto o dinheiro quase todo a visitar os alfarrabistas e livrarias de Inverness - atentem em parte do espólio à direita da fotografia, por trás do A. E assim foi: o Bolama ficou pela Escócia na penúria, à procura de boleia para regressar mais os seus livros e com alguns dos nossos pertences que generosamente lhe deixámos, e nós apanhamos uma camioneta até Barcelona. Podem ver pela fotografia que estava bem feliz com a proeza. Beijos Bolama, espero que tenhas passado bem o dia.