segunda-feira, 14 de julho de 2008

a roda dos amigos


juntamo-nos em roda. lembro-me que tantas vezes foi assim. juntamo-nos em roda e ficamos ali de pé a passar a vez da palavra, da conversa. tiro a fotografia, sei que ficou mal, os pixels, sempre os pixels, alguém, mais à frente, há-de dizer, liga o flash, pá, eu faço de conta de que não percebo, gosto destas fotos de legibilidade reduzida, gosto do grão da noite, depois hei-de tirar uma ao grupo, a pose final, tem de ser, mas é sobre esta que eu vou pensando que gostaria de escrever um post. tenho-a na cabeça. os olhares. passaram-se trinta anos, todos nós já fizémos milhares de rodas, às vezes passávamos os charros nestas formaturas cívis, mas é sobre esta agora que eu vou pensando que trinta, vinte e tal anos depois, olhamos de maneira diferente. o tempo é em nós diferente. não sei mais do que isto, a diferença do tempo. é nela e não no substrato capilar que noto as grandes modificações. nestes vinte e tal anos andei por caminhos meus, e não fosse esta olivesaria virtual, nunca teria chegado aqui. às vezes falam-me de alguns nomes como se eu os tivesse conhecido sempre e eu faço que sim com a cabeça, gosto de fazer que sim com a cabeça, eu só me lembro dos nomes mais antigos. mas nada disso me causa estranheza, muito pelo contrário, a mim que a razão, o entendimento, o perceber, o perceber-me, eram cada vez mais verbos intransitivos, dou-me conta que quando estamos juntos há um perceber que me chega instantaneamente ao entendimento. olho para eles e começo a gostar de mim, de ouvir o meu nome. começo a gostar de ter vivido estes anos todos da minha vida, de ter vivido estes anos todos à minha maneira, e de essa minha maneira, como todas as maneiras de cada um que se chega à roda, nos aproximarem. há vinte e tal anos eu não saberia que as nossas vidas, os nossos tempos seriam capazes de olhar assim para o que as nossas vidas fizeram de nós.

9 comentários:

Anónimo disse...

Palavras de noite não são para manhã.

xai xai disse...

um pregador?
ou a banha da cobra que estica e não dobra?

Fulacunda disse...

Bem, eu não sei se vou por onde tu aqui segues. Isto de reencontrar na distância dos anos que nos separaram um punhado de amigos não é a mesma coisa que um súbito reatar depois de uma prolongada interrupção.Não acho que vos veja hoje como uma continuação daqueles que recordo de há tantos anos. Claro que consigo juntar um punhado de memórias e que essas até me possam desenhar alguns contornos da v. personalidade de então, mas não é assim que vos encontro hoje, como se os mesmos e mais uns anos. Os que agora vejo são malta com uma estranha aproximação à minha vida. às minhas experiências e quase ao meu modo de pensar, por culpa de terem germinado na mesma incubadora que eu. É isso, quanto a mim, essas referências comuns, que trazem tanta familiaridade e espontaneidade a estas rodas de amigos, talvez o facto de metade das coisas não serem precisas explicar, talvez porque podemos falar quase como se pensassemos para nós, sem termos que filtrar ou limar arestas antes de as lançar para a conversa. No resto ... estamos mais velhos, e na nossa idade, com as coisas que se vai aprendendo (e desaprendendo), um homem já sabe bem com quem quer fazer uma roda de amigos, antes mesmo de lançar a primeira palavra.

(esqueceste de usar o flash!? :) logo tu, um supreendente realizador das jornadas de abril?)

Fulacunda disse...

releio-te e chego à conclusão de que afinal era isso que terás escrito, o mesmo (para melhor) que eu aqui comentei.

não ligues, deve ser a minha incontrolada mania de desdizer a que os mais provocadores até arriscam chamar mau-feitio.

Anónimo disse...

então, e gostaram do filme, foi, eheheheheh...

mau feitio, quem?

:)

bafata disse...

... bem focada nas palavras , essa imagem que, bem vistas as coisas, nunca deixámos desfocar totalmente ... right Fula ?

... e que bem mesmo escreves Belo....

blue disse...

o rapaz tem mau-feitio, mas lá sabe dar-lhe a volta, eheh... poeta, poeta.

eu cá gosto do grão, do da tua fotografia, do da vida.

Fulacunda disse...

olha lá Belo, tanto tempo já assim, na roda, de pé, sem outro post que nos dê descanso ... não será melhor puxarmos umas cadeirinhas?

Beira disse...

O flash tinha estragado a foto, ou melhor teria feito outra fotografia. Eu só uso o flash de dia e em contraluz.

ahh... ganda flash!

Cheira-me a festa n(d)o Rio.

Só não fui a esta festa porque estive noutra, no Porto, onde também estava o João Pinto.
eh pá, esqueci-me de tirar uma foto abraçado ao homem...