sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O "falhanço" dos Olivais

Neste post, cuja ligação já aqui foi feita, começa a discutir-se o falhanço dos Olivais. A discussão segue, de forma aprofundada, pelos comentários que são, na sua maioria, suculentos. E a certa altura alguém diz, "Sem pôr em causa o facto de não se ter atingido o sucesso urbanístico, tal como o definiram os urbanistas dos e para os Olivais, parecer-me-ia mais interessante questionar os seus habitantes sobre a forma como vêem o seu bairro e como o comparam com outros de Lisboa."

É esse debate que eu propunha que continuássemos aqui. Mas antes, e porque somos uma comunidade de bloggers e leitores avivados por um sentimento crescente de pertença a um espaço comum, é melhor que arrefeçamos o impacto negativo que esta ideia de falhanço nos pode provocar e a relativizemos, não a dramatizando, nem a personalizando. Quando se fala do falhanço dos Olivais fala-se sobretudo, das consequências que teve, como refere Teresa Valssassina Heitor, o adiar durante décadas da construção do núcleo central do bairro. Ou seja, para que sejamos mais claros ainda, quando se fala de falhanço dos Olivais fala-se no falhanço de uma certa ideia (projectada) dos Olivais.

3 comentários:

Timor disse...

Propões bem João Belo e vou-me chegar à frente para escrever sobre a primeira entrada e de como a ausência do núcleo central moldou (moldou, não sei, mas alguma influência há-de ter tido) a nossa infância e adolescência: a rua onde vivemos tem vista para o tal núcleo. Agora é arranjar tempo e esperar que não seja uma promessa para as calendas gregas.

O próximo...

Anónimo disse...

boa, Timor. ficamos à espera. :)


João Belo

Anónimo disse...

O SUCESSO DOS OLIVAIS

O título pretende somente colocar em causa uma ideia, que se tornou pré-concebida.
Desconheço em pormenor os parâmetros do "sucesso urbanístico" que se pretendia para os Olivais.
Sei que havia a intenção de quebrar barreiras sociais, para sermos todos "príncipes" como desejava o Prior do Crato (no séc. XVI), ao desejar um dia que era bom sermos todos príncipes.
Na que diz respeito ao Plano geral dos Olivais, e naquilo que me diz respeito, penso que a organização espacial era perfeita, com muitas zonas verdes, com espaços diferenciados que permitiam várias vivências, sem nenhuma se tornar fechada sobre si mesma.

Sobre o núcleo central, e enquanto cresci e vivi nos Olivais, confesso que nunca senti falta do mesmo. O que me parece é que houve uma falha na organização escolar. Havia poucas escolas e o Liceu D. Dinis devia ter sido pensado no próprio bairro, eventualmente nessa zona central.

Também nunca senti falta de cinemas ou teatros nos Olivais. Assim, e desta forma, as festas e os arraiais tinham outra atracção e outra força aglutinadora. Encontrar alguém num cinema ou numa festa, ou num café é completamente diferente.
O cinema ou o teatro são formas de participação cultural muito mais individualizadas. Não fizeram falta aos nossos Olivais, mas admito que sim para os nossos pais.

O actual centro comercial que existe no núcleo central, com edifícios de habitação, não me parece uma grande aposta. Um grande centro comercial sem escritórios ou uma grande loja âncora é quase sempre um fiasco. Os funcionários das lojas acabam por ser os únicos clientes. As Amoreiras são um sucesso por causa das três torres de escritórios. Há pouco tempo fechou em Lisboa um centro comercial que foi construído com edifícios só de habitação.

Curiosamente, os edifícios de habitação construídos no núcleo central podem vir a tornar-se no grande polo dinamizador dos Olivais, depois de as nossas gerações terem crescido. São uma lufada de ar fresco.

Provavelmente para os urbanistas da nossa época os Olivais são um falhanço, porque aí fomos felizes.
Para Corbusier a arquitectura estava ao serviço do homem e não o contrário, daí que os edifícios e os planos urbanos idealizados por este grande arquitecto tivessem sempre a preocupação de servir as necessidades e o bem estar do homem.
Hoje em dia, está em voga uma arquitectura que é feita para fazer o homem sofrer, em particular alguma arquitectura do Siza, salvo o devido respeito.

Não há soluções urbanísticas miraculosas, mas os Olivais são um exemplo de sucesso, apesar de alguns erros que se cometeram.

Eu gostei e voto favoravelmente na tese de SUCESSO mitigado.

Um abraço Johny B. Good