Foi no princípio da década de noventa que, na actividade de formação em animação sócio cultural, comecei a explorar este conceito, o de ecoterritório para tentar organizar as ideias sobre as possibilidades de intervenção num determinado contexto comunitário. Associado a este, surgiu-me um outro, o de ecossistema comunicacional, que me permitia propor aos meus alunos a ideia de que o animador sócio cultural mais não era do que alguém que, munido dos seus conhecimentos técnico-cientificos e face a uma comunidade, que enquanto sistema de comunicação apresentava alguns problemas de funcionamento, iria trabalhar para tentar restaurar os elos e as ligações quebradas, potenciando, valorizando e implicando os diferentes elementos da comunidade.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
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10 comentários:
BRAVO, João Belo!
Acabou de expor, de forma explícita, coerente, lógica e que denota profunda análise sobre a questão o que REALMENTE SE PASSA E SE PASSOU.
Vou reler o seu post, a fim de poder editar um comentário de jeito.
Anoto, desde já, duas linhas que me parecem essenciais: o unicentralismo (se é que isto se pode dizer) existente e o pluricentralismo que existia e a forma como isso afectou e afecta comportamentos e mentalidades.
belo texto jb. Dei ontem uma diagonal (longa) espero hoje à noite poder vir discutir. Levantas muitos problemas e muitas questões (que ultrapassam, claro, o bairro em causa). Matéria para discussão há (o húmus-bairro, o teu texto). Até logo
Desde já, a nossa grande diferença: o bairro não quis crescer assim - o bairro cresceu. E não é só a recusa da antropomorfia que nos separa.
atenção, a nossa grande diferença não existe, pelo menos nesses termos. eu disse "o bairro que queria crescer de outra maneira", a ater-me ao seu projecto de bairro. aliás é disso que falo, o bairro cresceu assim e é a partir do que existe que o podemos pensar.
[daí que talvez aquilo em que divergimos é, não tanto a antropomorfia, mas as nossas imagens sobre aquele edificado. eu vejo-o de facto como um organismo vivo, com fluxos de população, movimentos de manutenção, etc. é uma imagem de que me socorro para o poder pensar, sentir, equacioná-lo, integrá-lo. não é uma perspectiva antropomorfica pura, não é o betão que se transforma em sangue, em seiva e que daí nasce um monstro. talvez haja umas quantas metáforas utilizadas sobre o assunto, claro. aquele edificado é um organismo vivo na sua conjunção com as pessoas, com os movimentos e dinâmicas que gera. mas que isso não nos atrapalhe o entendimento, também. poderemos usar outras imagens.]
É um facto. A grande muralha de betão está lá e continua a crescer. Apesar de também ter tido fúrias de a deitar abaixo com um sopro de super herói. Não sei até que ponto o centralismo, ou centrão, como diz João Belo, pode ser um factor dinamizador da vida de bairro...como articular o bairro com ele, quando ele, o Centrão, se fecha em si próprio. Sou da opinião que o pluricentralismo é, este sim, um factor dinamizador de vida porque permite às populações referenciar os espaços que percorrem, vivê-los. Também fui muitas vezes passear com os meus filhos pelos Olivais, apesar de já lá não vivermos. Vivem lá os avós. Mostrei-lhes os caminhos que conheci, por onde andei, vivi e referenciei, que marcaram a minha memória e a minha vida. Também me apercebi dos parques quase vazios de meninos, das pracetas nuas de adolescentes…na minha altura, o Largo das Tetas estava sempre cheio de gente. Também me apercebi de uma população que passou a viver em função do centro comercial…esse, há uns anos, estava sempre cheio de gente ao fim de semana, ao passo que os parques e o Vale do Silêncio estavam votados ao esquecimento. Na minha altura, íamos, já adolescentes, ao Largo das Tetas, ao do Sorraia, ao Vale, ao Tó, conhecíamos e visitávamos gente que morava em cada uma das pontas do bairro. É verdade, os amigos fizeram-se entre todas as camadas sociais que por lá habitavam. A mim, o bairro marcou-me tanto, com esse espaço descentralizado, com um amigo em cada ponta, que, quando de lá saí, só pensei em procurar algo semelhante. Difícil, não é? Bom, vim parar ao bairro da Madredeus, também ele um «dormitório», apenas com comércio de bairro, meia dúzia de cafés, uma sociedade recreativa, um centro desportivo, GLÓRIA! Um Ateneu, onde se ensina ballet, música, onde há festas, concertos, e se organiza a marcha do bairro. Não temos cinema, nem Correios, nem Centro Comercial, nem praça de jeito…Temos de ir à cidade, lá abaixo. Que bom! E há aqui imensos velhos, e gostam de ir lá abaixo, «à cidade» fazer as suas coisas. Vestem-se bem, encontram amigos na calçada, conversam. Vamos dar um passeio, vamos à cidade, ao cinema…O bairro é para dormir, sim, mas também para viver, passear na mata, andar de bicicleta...tratar do jardim e…das hortas, também as há, ainda, e muitas, mas arranjadinhas. Tão bom, lá vem o meu vizinho perguntar-me se quero uma couve para o bacalhau. Digo que sim e agradeço. Faço amizade com o vizinho. Nunca mais vi bicicletas nos Olivais…Tudo isto para dizer que, embora ache valioso o DESAFIO do João Belo, creio ser muito difícil essa dinamização cultural do bairro, actualmente. Porque, para responder à pergunta sobre de que forma o atraso com que o Centrão foi feito nos Olivais e sobre a forma como afectou mentalidades, as pessoas se centraram de tal forma na expectativa do Centrão e, depois, na «ida ao centro comercial», se fixaram de tal modo no «grande organismo vivo e aglutinador», que se esqueceram já que há uma outra vida de bairro possível…Seria necessário um esforço grande para «desmentalizar». Os amigos que tenho e lá continuam a viver, estão fechados nas suas casas, saem para fora ao fim de semana…A ideia de «dança de salão no Largo do Sorraia», da banda da Sfuco a dar concertos no centro, nas pracetas, de encontrar uma orgânica entre o Centrão e o resto do bairro é maravilhosa. Embora me pareça utópica, aceite-se, então, o desafio! Sempre gostei das Utopias. E sou da opinião que os Centrões não são paradigma de desenvolvimento. São paradigma de massificação.
Só mais uma achega:
As pessoas, à imagem do que se passa neste nosso universo, estão também sujeitas à força centrípeta e à força centrífuga. A minha questão é: como se provoca uma força centrífuga quando existe um OBEJCTO tão poderoso como a Muralha que impele as pessoas ao seu encontro? Como construir corredores de circulação? Além disso, o trânsito que existe entre a Cidade de Bissau e a de Bolama «isola» a «muralha». Costuma dizer-se que é tudo uma questão de vontade política. E uso a frase no sentido que prefiro: a vontade dos habitantes da «pólis»...
Não sei se será tão utópica quanto isso. Aliás, há muitas outras coisas que poderão ser feitas e essas sim implicando mais custos. Mas quase tudo o que disse pode ser feito sem custos relevantes. A Junta de Freguesia dá anualmente apoios às colectividades desportivas, recreativas e culturais. Podia muito bem pedir-lhes a participação em iniciativas para o bairro, principalmente se organizasse as coisas de modo a diversificar a participação destas não recaindo sempre nos mesmos. E depois, nas iniciativas que são no centro, poderia pedir a participação dos comerciantes. A mesma coisa no largo do Ferrador. O CCB fez isso, com danças num domingo por mês à tarde e estava sempre cheio. Nem é preciso haver música ao vivo. Depois há a questão importante da informação: um mapa com os vários pontos da história social e cultural do bairro, assinalando os vários pontos. O Centro Comercial como espaço e lugar de grande afluência podia ser um lugar de concentração da informação sobre estes Olivais em movimento, vivos. A esplanada e o quiosque no vale podiam ser concessionados. Há um amigo meu, com grande experiência na produção cultural, que diz avisamente: "desconfia sempre da imaginação daqueles que se lamentam com a falta de recursos". E é claro que tudo isto não é uma panaceia ou uma mezinha que resolve todas as coisas. Mas é um indicador de vontade de "repovoamento" e "reocupação" do território. Há dez anos não sabíamos o que sabemos hoje sobre o dinamismo dos lugares. Tudo isto são ideias claro. Talvez algum autarca passe por aqui e se estimule a fazer o que tem de ser feito. E depois há um dado novo, que precisamos de equacionar: há dez anos poder-se-ía pensar que estávamos diante de uma luta entre o centro e o bairro. Entre uma concepção de centro comercial e uma concepção de bairro. Hoje começa a ser evidente que o próprio Centro irá ressentir-se com o estrangulamento do bairro. Já o disse, a concorrência com o Colombo e principalmente o Vasco da Gama (que tem uma plataforma comercial muito mais ambiciosa) é enorme. Os restaurantes e os bares do último piso mantêm-se, mas o fluxo comercial tem vindo a decrescer. Um fortalecimento da vida do bairro poderia atrair também o interesse dos comerciantes, já que pode ser também dinamizadora das suas actividades.
Bom, um BRAVO à «Reconquista»!
Nada é impossível, pelo menos, a priori...depende, apenas, da VONTADE dos «reconquistadores» ou, pelo menos, assim gostaria de pensar. De facto, a concorrência do Colombo-um monstrengo que se ergueu das trevas, por mais de três vezes--e do Vasco da Gama-um belo barco, dinâmico, virado para o mundo, para as águas do rio e onde até concertos de jazz se fazem ao longo do Verão, assim como exposições das mais variadas-até carros antigos já lá estiveram expostos--afectou o Centrão dos Olivais. Então, o que falta é a tal VONTADE dos habitantes, ou de um grupo de habitantes que se disponha a accionar os devidos mecanismos de circulação. E essa vontade existirá? Não estarão as pessoas demasiado adormecidas? Fala-se muito da reabilitação dos centros históricos, mais ou menos conseguida. Existem vários centros históricos nos Olivais, uns mais antigos, outros marcos da história recente do bairro. Aliás, o próprio bairro é história urbanística; já referi que conheci estudantes de arquitectura de universidades alemãs que vinham estudar para Portugal com referência dos professores alemães para visitarem o bairro dos OLivais como exemplo a seguir. Bom, isto foi antes das torres se terem concluído, ainda...Não é um orgulho, isto?
O bairro cresceu, como organismo vivo, sim. Mas não como queria crescer. E,como não é possível voltar atrás, há que viver o PRESENTE, com o passado PRESENTE e o futuro...a Deus pertence. E a todos nós.
ando há já alguns dias sem saber encontrar as palavras certas para comentar.
é certo que, muitas vezes, se trabalha sobre o tecido existente e é fundamental, nas piores e nas melhores situações possíveis, ser capaz de reconhecer e de utilizar como recurso as qualidades que nos permitem superar as deficiências e rentabilizar as potencialidades.
mas quando se constrói de novo, as responsabilidades são diferentes.
importa-me frisar que era possível obter as "comodidades" noutros pontos referidas, reforçar a densidade populacional, reforçar a identidade, etc., etc., sem cair na imagem da desresponsbilização social e ambiental que o conjunto edificado em causa demonstra na sua concepção.
este conjunto reforça a condição de subúrbio dos olivais, ao invés de reforçar a sua identidade como cidade.
por outro lado, é para mim claro que não basta haver recursos físicos - veja-se o abandono a que estão sujeitas infra-estruturas como o Vale do Silêncio, os largos e praçetas, até mesmo a Bedeteca. para estes é preciso uma estratégia e recursos financeiros.
mas, acima de tudo, é preciso Pessoas, uma Comunidade envolvida na vida do Bairro. e isto não são "balelas esquerdistas", não é o "estado social", não é nada disso, esclareça-se. atente-se nos exemplos de sociedades profundamente liberais como os EUA, ou a Inglaterra, para que se possa perceber que a verdadeira diferença está na Comunidade Local.
Ricas ou Pobres, são estas que fazem a diferença em processos de revitalização documentados como o do Central Park em Nova York, ou o IBA em Berlin, o caso de Mértola, ou tantos outros. sendo que nenhum deles é um processos estático, encerrado, perfeito e isento de problemas ou dificuldades. nenhum deles é sequer idêntico na forma. todos eles são possíveis por haver uma Comunidade Local.
este espírito esteve presente na concepção arquitectónica dos Olivais, não esteve presente no leilão destes terrenos em hasta pública pela Câmara Municipal.
Tem toda a razão, Rapariguinha da Província...
E insisto nesse ponto: para «refazer«, no estado em que as coisas estão, será preciso a VONTADE das pessoas...
ainda bem que encontraste as palavras certas!
:)
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