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Em Março de 1978 estava a descobrir uns Olivais novos, mais negros e fascinantes que os anteriores.
Tinha chegado à primeira divisão da vida escolar depois de ter andado pelas secções de Chelas e Prodac do D.Dinis.
No ano lectivo anterior já estava no D.Dinis mas de tarde. Era assim uma espécie de limbo. Chegava às aulas quando os da manhã estavam a sair e as manhãs para pouco serviam.
No final desse ano lectivo, quando chegou o verão (de 1977) uma mudança fundamental aconteceu.
Os meus amigos tinham ido de férias e eu sózinho sem saber o que fazer.
Não me lembro muito bem como se passou essa mudança mas penso que um dia me cruzei com o A. que ia com os P. e acabei por me ir encontrando todos os dias com eles que sempre tinham estado ali mesmo ao lado e com quem tinha jogado muitas vezes à bola no maracangalha e que tinham seguido a vida por outra encruzilhada.
Depois os outros regressaram de férias e quando chegaram estava eu com estes novos amigos a conversar.
Olharam-me de lado como se nestas coisas das amizades houvesse algum exclusivo. Começaram a combinar saídas e encontros sem me incluir. Um dia fui a casa de um deles, estavam a preparar-se para sair e lá me disseram para os acompanhar. Tinham um novo grupo e bastou-me um quarto de hora para perceber que não fazia parte dele.
Tinha descoberto que os meus amigos dos últimos 3 anos já não eram os meus amigos.
Tinham feito tudo para me sentir desconfortável.
Os novos amigos faziam tudo para me sentir integrado.
Entretanto Setembro foi-se aproximando do fim.
Todos os dias conhecia pessoas novas.
Os Olivais tinham-se tornado enormes.
As aulas começaram e todos os fins-de-semana havia festas. Umas vezes no S. Marcos outras numa garagem das vivendas da Vila Fontes.
A caminho dessas festas parávamos no Tó para abastecer. Um "sumarino" para o caminho.
O rapaz que mordia tomadas eléctricas tinha-se tornado no amigo inseparável.
Movia-se com elegância nesse novo mundo.
Conhecia toda a gente e toda a gente o conhecia nessas festas cheias de caras novas e de música nova. Nova para mim.
O "Peter Frampton Comes Alive" era um sucesso.
Os Boney M. eram o máximo. Lembro-me de os ouvir em casa das M's, as 3 irmãs do prédio dos coronéis, ou seria dos generais?, ali mesmo ao lado d'A Tosta.
A vida cantada pela Grace Jones era em tons de rosa.
O "New Kid in Town" dos Eagles parecia escrito para mim.
Em casa do Nuno ouvia-se o "Love You Live" dos Stones. E foi aí que também vimos na televisão o concerto deles em Paris "Aux Abattoirs".
(não estavam à espera que colocasse o ras-ras-Rasputine, pois não...)
Esse concerto na tv marcou-me muito mais que o disco.
Foi neste período que conheci o Xai-Xai, o Fulacunda, a Vila Pery, o Bafatá, o Draivimpe, a Timor e mais alguns dos que por aqui circulam. O Bolama ainda estava nos distritais mas não demorou muito a chegar ao nosso campeonato.
No liceu os outros, os antigos amigos, olhavam-me de longe e deviam pensar "coitado, está a estudar para delinquente e está a sair-se bem."
Eu estava-me nas tintas para eles.
Esta nova vida era muito mais interessante que a anterior.
Na minha turma estavam o S. e o S.. O primeiro excelente aluno mas sempre pronto para "o putedo", o segundo, sombra do primeiro, gostava de armar confusão. Nunca havia um momento de tédio ao lado daqueles dois. O Bafatá era de outra turma mas nos intervalos juntávamo-nos todos.
O ano foi decorrendo cada vez mais animado.
As tardes sem aulas tornavam os dias mais longos.
Os intervalos dos Viveiros passaram a fazer parte desses dias e os "flippers" também. E uns lanches n'A Tosta.
No Carnaval fui até Vilamoura. Com os F. mas como havia uma regata o S. também lá estava e foi aí que conheci o Rio. Estavam no melhor hotel da cidade e tudo servia para "fazer putedo". Eram umas atrás das outras e a imaginação era muita. Uma noite acabaram por colocar todas as cadeiras e mesas da esplanada dentro da piscina.
Parece que estava mesmo a estudar para delinquente...
E assim cheguei a Março de 1978.
Foi um mês quente e foi quando apareceram os "skates" e outras caras e cada vez mais maluquices para fazer.
As festas passaram para o Penta e para o Fénix e cada vez mais gente rodava à minha volta.
Algumas coisas começaram a ser "pesadas" demais e tive de começar a ser mais criterioso na escolha das pessoas com quem andava.
Os erros servem para aprender e quem não aprende paga cara a lição.
Estes novos Olivais eram fascinantes e perigosos.
E tornavam-se cada vez mais perigosos.
Mas isso já foi depois de Março desse longínquo ano de 1978.
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Aspirando ao Templo Místico do Ser
Há 3 dias
19 comentários:
yes! aliás, ya ...
bem 'trazido' Beira.
é curioso como o que vestimos até no escrever se revela. estava a ler-te, e a ver pelos teus olhos esses tempos. é igualmente curioso como a mesma realidade, mas (des)codificada por outros, nos faz sentir como figurantes num filme onde antes tinhamos o papel principal.
e foi bom rever-te, lá.
bem trazido e melhor descrito. as tuas palavras são imagens. quando soltas assim a escrita, escreves tão bem...
[além de teres uma memória muito organizada]
:)
"é igualmente curioso como a mesma realidade, mas (des)codificada por outros, nos faz sentir como figurantes num filme onde antes tinhamos o papel principal.
"
g'anda pensamento, Fula!
:)
de facto, uma memória muito organizada...
:)
De facto entre 1978 e 1984 (meu primeiro corte com os Olivais), os Olivais tornaram-se enormes, por vezes pequenos, negros e outras vezes bastantes coloridos.....
Os intervalos nos viveiros, nas arcadas, nos muros, nos flippers do Chafariz, nas sombras das arvores, nas festas em garagens, escolas, bares, aliado a muitos concertos (Cascais e Restelo), primeiras fins de semana na Caparica, na Costa Alentejana,cervejadas na Nova América, Trindade ou Portugália, as primeiras incursões no Bairro Alto, o Bronws,o RRV, o Souk, O Aguarela,(e as idas ao 2000 e a Santa Cruz ao Casino Velho), muitos novos amigos, muita musica, muita......enfim vivia-se intensamente, por vezes em caminhos bastantes perigosos...
Mas olhando para trás, apesar de muitos desgostos, acho que valeu a "pena ter vivivo o que vivi......", porque a nostalgia é enorme.
Beira: como diz o João Belo, na forma escrita também não vais mal, mas o "sumo" está excelente, bela descrição.
Só tenho pena que ainda não tenhas aceite o repto que te fiz no teu post "Maracangalha", de relembrar a nossa ida ao Ecran Mágico. E escusas de devolver o repto porque não me consigo lembrar de quando, como, porquê e com quem, foi esse episódio. Apenas me lembro que foste tu o dinamizador.
E como tu tens "de facto, uma memória muito organizada..."
'Ecran Mágico' ou 'Vaca Cornélia', com o saudoso Francisco Assis Pacheco?
Fula: Estás-me a ofender ou quê? Eu não protagonizo programas sobre pecuária.
Écran Mágico! Cinema!
Coisa fina e de alta cultura!
Fernando Assis Pacheco, Fula.
:)
Ecrã Mágico.
Tenho uma vaga ideia disso.
Deve ter sido lá para 1979 no Teatro Villaret, ali na Fontes Pereira de Melo.
Fomos os vencedores.
Mas só fizemos figuração.
Lembro-me de uma cena sobre o Camões a perder o olho no norte de África. E nós a fazer uma guerra com sprays cheios de água.
Mas, XaiXai, o revivalismo ainda só vai em 78.
Quando chegarmos a 79 penso nisso.
Esgotei as palavras com as memórias de 1977-78.
ah...
E era Fernando Assis Pacheco!
Francisco, o que eu conheço mais famoso é Francisco Pacheco. Aliás conheço dois.
E era o da vaca sim senhor. Nós arabes, de DumDum na mão, e lá dentro nos bastidores a passar na televisão o maior duelo de sempre na F1, entre o Villeneuve e o Arnoux (o Bolama sabe do que falo, já que em tempos idos aqui dos/nos blogs, quase pré-históricos, já trocámos alguma coisa s/b o assunto)
Dizes tu que foi no dia desse famoso GP de França?
Então está esclarecido que o programa foi para o ar na segunda-feira dia 2 de Julho de 1979.
E olha que não era "A Visita da Cornélia" mas sim o "Ecrã Mágico".
ok, eu fico com o GP e tu ficas com a vaca, perdão, com o ecrã. está feito.
Se ficas com o GP ficas a ganhar!
e julgas que não sei isso desde há muito tempo? ;)
(já agora se tiveres algum tempo passeia-te lá nos comentários do link, que logo encontrarás outras afinidades ... até estas que aqui tratamos agora)
2 de julho de 1979 foi uma grande data. coisa habitual nos 2 de julhos
Bonanza
Beira, gostei muito.
Nanza, quando la chegarmos logo te damos os parabens.
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