sexta-feira, 17 de julho de 2009

Olhar o rio

Sinto-me muitas vezes um privilegiado por viver numa cidade que tem, mesmo à mão de semear, um rio como o Tejo . Para mim um dia, mesmo o pior, reabilita-se com um passeio junto ao rio ou numa daquelas esplanadas que a cidade inventou para o admirar. O Adamastor, o Noobai, a Esplanada da Graça, as Docas, Belém, Terreiro do Paço, Jardins do Tabaco e das Descobertas, o terraço do Hotel do Bairro Alto, Cacilhas, são apenas alguns dos oráculos da minha devoção. Gosto também do passeio pela marginal até Cascais. Desde a adolescência, ainda no carro-família, com os meus irmãos, lembro-me da face ainda marcada pelo sal e o vento a bater, a refrescar-nos. É-me renovadamente estranha a imagem dos barcos a balouçarem na ondulação ténue. Parecem-me ilhas solitárias ali penduradas no território líquido. Imagino sempre, no instante em que este relance de paisagem se atravessa no olhar, que vou numa destas pequenas embarcações. Amo a noite sobre a água, o cheiro da maresia, o barulho das ondas. Não sei bem porquê. Nunca fui grande nadador, nunca velejei. Nem posso colocar na minha carta de navegação - por mais prazer que me tenham dado - as horas que gastei nas viagens diárias de cacilheiro que fazia quando morei do outro lado do rio,. Desde há uns anos que todas as casas onde moro têm, por mais pequeno que seja, um altar onde me entrego a esta sedução pelo Rio Tejo. O mais engraçado é que quase nunca dei pelo rio nos Olivais e também o tinha sempre na minha varanda, no lad0 esquerdo, ali para os lados do Ralis, no enfiamento da ponte Vasco da Gama. Nos Olivais vivi muito e durante bastante tempo. Não é dele no entanto este delírio pelo rio.

6 comentários:

Anónimo disse...

"Salvé"

Finalmente o blogue começou a mexer. Já tinha saudades destas prosas com sabor a Olivais.

Boas Férias a todos....

Dacosta

rapariga da província disse...

regressada de lisboa: reencontrei a cidade, amigos, os jardins da Gulbenkian, as avenidas frondosas... e o rio.

maria correia disse...

Ora e por aqui estou eu, junto à minha janela virada para o...rio Tejo...já o vi de todas as cores, quase negro, em dias de Inverno, castanho nos outonos chuvosos, d eum branco prata ao luar, vermelho vermelho ao nascer e pôr do sol...hoje está de um azul acizentado, tranquilo como um espelho...
E um passeio de manhã ali no parque das nações? às horas em que ninguém lá anda? É outro mundo, outro rio, é um rio intemporal. Uma epifania...

Seria incapaz de viver sem água por perto, sem mar, sem rio...talvez tivesse sido marinheiro em outras eras...

xai xai disse...

LISBOA:Recomendo: "Magnífica Luz" música 1 do CD "Lisboa" dinamizado por aquele que 4 posts abaixo está na companhia do Michael Jackson.

LUZ:Passo 11 meses do ano à espera do mês de Junho. Os dias são tântricos (eh lá, onde é que fui buscar esta?), loooongos e acabam devagar.

ABRAÇO:E depois há aquele espaço do lado de lá, em Almada, no qual jantamos a assistir ao 2º mais bonito pôr-do-sol do mundo.

benguela disse...

o 1º é do lado cá...

my name is nanza, Bo Nanza disse...

Vou com amigos, nada olivalenses mesmo, às docas, tarde de sexta, Verão, querem agraciar-nos com momento aprazível. Sê-lo-á, pela extrema companhia que esses grandes (e raros) amigos, até quase vizinhos episódicos, coisas das suas viagens de trabalho, já são.

Ali estamos, o colonial british do gin and tonic, a minha fermentada dados os maus tratos ao fígado, a bela (e saudosa) da conversa.

Mas também o barulho, constante, constante, constante, constante, etc, dos carros na Ponte Vermelha - talvez sublinhado pelo vento do dia, desculpam-se eles -, amais o do comboio na Ponte Vermelha. Entretanto, no meio dos gritos da conversa, ou quasi-gritos, que aquilo em Alcantara nao nos dá descanso, lá vamos cheirando o fedor, que provém da ria, ou rio, ou lá o que é, um líquido castanho fronteiro às esplanadas dos burgueses, polvilhados de peixinhnos, perdão, taínhas, as ratazanas aquáticas.

ó, ó, ó, joão belo, e se fosses ... ?