sábado, 15 de agosto de 2009

"Há sempre um olivalense à tua espera"‏

Sempre soubemos que partissemos para onde partissemos, aportassemos onde aportassemos, sempre se encontraria "alguém dos Olivais" - coisas de crescer naquela que, mito ou não, era dita a maior freguesia da Europa (e isto já quando o maior centro comercial do país era o Apolo 70). Enfim, não me quero afastar da questão, essa de fosse onde fosse "haver sempre um olivalense à tua espera". E logo um taco arranjado, uma companhia cruzada, um cigarro (de qualquer coisa) partilhado, no fundo uma segurança tribal. Vem-me isto a propósito do que me aconteceu há não muito, avançar até ao Lumbo, fronteiro à Ilha de Moçambique, abancar num panquê fantástico quase à sombra do embondeiro, e naquela margem índica encontrar, inesperadamente, dois legítimos olivalenses, um tal de kiko, aproximado aos da catió, confidenciou, e um outro zézé, dos betos da bolama, reclamou.

por: Bolama


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Foi em 1965 que os meus pais tomaram a decisão: mudar da Avenida do Brasil para os Olivais Norte. Eu era muito pequeno, mas contaram-me do que então se falou. Que os Olivais eram longe, reclamava a minha avó, que quase não havia transportes para lá, e que o prédio – onde vivi até aos meus 27 anos – era uma corrente de ar de tão aberto. A favor, no entender dos meus pais, as casas serem enormes e nem por isso caras (havia o regime da habitação económica).
O facto é que a 20 de Junho de 1965 (sei a data de cor por ter sido na véspera de fazer três anos) eu, os meus dois irmãos mais velhos e os meus pais passámos a dormir num novo território, quase sem carros, com matagal a envolver ruelas. Mesmo à frente da minha casa, um poço fazia as delícias dos “ciganos” – nome a que baptizávamos todos os miúdos pobres que desafiavam a nossa segurança. Recordo-me bem desse poço ainda aberto, com duas tábuas de aspecto duvidoso (leia-se podres) em cima, e das lendas que o acompanhavam. Por entre as tábuas atirávamos pedras para tentar perceber a sua profundidade. Era fundo.
Já não sei dizer quando é que a CML decidiu “recuperar” o poço e as arcadas, vestígios de uma quinta secular dos Olivais. Éramos miúdos mas ficámos horrorizados com o resultado, de tal forma que – lembro-me – termos comentado que para terem feito aquilo mais valia terem deitado as “ruínas” abaixo.
Nao me parece que a nossa irritação tivesse a ver com uma consciência patrimonial, mas talvez com o facto de terem tirado magia ao nosso brinquedo.
Mas, adiante, com o tempo – e o fim das barracas que envolviam o bairro -, as ruínas cada vez foram mais um espaço nosso, dos putos que viviam nos prédios altos da Rua General Silva Freire. Era ali que escondíamos os maços de cigarros, nas heras que trepavam pelas arcadas, e em cima do tampo do poço – já devidamente cimentado – conversávamos sobre tudo e nada até altas horas.
Nessa altura já o capim dera lugar à relva, onde as árvores eram colocadas – a nosso ver – para estragar os nossos campos de futebol. Conclusão: à noite íamos com uma serra e cortávamo-las (a prova de que a ecologia era para nós uma ideia distante). Dias depois, novas eram plantadas e assim se fazia o jogo do rato e do gato.
Também as ruínas serviam as “forças de autoridade”, que ali se escondiam para tentarem fazer “refém” a nossa bola, uma vez que a nós dificilmente apanhavam. É que era proibido jogar à bola na relva, e por essa "perigosa transgressão" várias vezes nos levaram para a esquadra. Numa delas - não tínhamos mais do que 13, 14 anos -, fomos o caminho todo a insultar um polícia que tinha tirado a pistola do coldre para nos deter. Ele, o polícia, já nem sabia onde se meter, presumo (ou quero presumir) consciente do abuso que tinha acabado de cometer, talvez motivado pelo desespero de dias sem nos conseguir meter as mãos em cima. Um de nós, que se “esticou” mais nas queixas, ficou detido durante algumas horas na esquadra da Encarnação e teve que ser o pai a tirá-lo de lá.
Tantas histórias daquele lugar me enchem a memória. Os frutos vermelhos que arrancávamos dos arbustos e que comíamos como sendo o nosso “remédio”, as cenas de pedrada com os “charlôs” que viviam nos prédios brancos em cima dos nossos – e que por isso tinham logo a vantagem geográfica do lado deles – e, claro, as primeiras paixões vividas nos arredores daquele poço onde um dia alguém me iniciou no tabaco. Travei o cigarro todo para me fazer homem, apesar dos meus parcos 11 anos, deitei-me e vi as ruínas a girarem a mil à hora. Com aquela idade, já podia palmilhar o bairro todo - nas férias só ia a casa para comer e pirava-me rapidamente - sem que os meus pais se preocupassem. E se calhar boas razões teriam para isso.
Os anos foram passando e os disparates aumentando, especialmente com o advento do PREC. Criámos o MRLO (Movimento Revolucionário de Libertação dos Olivais), pichámos tudo o que era paredes com as siglas do movimento e era, claro, no poço que reuníamos o Comité Central. Vieram as primeiras bebedeiras, inauguradas em casa de um amigo cujos pais estavam para fora. Decidimos experimentar um pouco do líquido de cada garrafa que eles tinham na garrafeira e horas depois pensei que ia morrer. Mais tarde, as motos, e com elas o reencontro com as forças da autoridade, com as suas Casal Boss atrás de nós num novo jogo do gato e do rato.
Hoje, quando volto ao bairro - onde os meus pais ainda vivem - desconsola-me a total ausência de crianças a brincar na rua. Em cima da nossa relva, repousa há demasiados meses um estaleiro que dará origem a uma nova estação de Metro. Entendo a vantagem de tal coisa quando um dia esteja a funcionar, mas não deixo de me arrepiar com o inevitável bulício que irá trazer àquela zona, que ficou para a história como a forma mais pura do modelo corbusiano (saído da Carta de Atenas) alguma vez experimentado em Portugal.

enviado por: Pedro Prostes da Fonseca

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais e o Instituto IDEIA, têm a honra de convidar sua Excelência para a inauguração da exposição "Bordados de Castelo Branco" por Isabel Moreira.
A artista, do nosso bairro, mostrará que a tradição e elegância será sempre compatível e actual.
Dia 10 de Agosto, pelas 19h00. Será servido um cocktail.
Casa da Cultura dos Olivais
Rua Conselheiro Mariano de Carvalho, 68 (Olivais Velho)
Recebido de:
Cláudia Monteiro
Gestora da Casa da Cultura dos Olivais

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SESIMBRA














Aproveito o embalo imparável do Bolama e carimbo o verão com um “post” de fato de banho e chinelos.
Sempre que o verão reclama as primeiras imperiais, lembro-me invariavelmente de Sesimbra.
Dos 13 aos vinte e poucos anos, era lá que “descansava” da minha (in)actividade escolar. Aliás, sempre me esforcei bastante para que a vida de estudante não fosse demasiado absorvente, de modo a que os 4/5 meses de férias (conquista de Abril que todos muito apreciávamos) fossem suficientes para recuperar energias. Era de tal forma prolongada a nossa estadia por aquelas bandas que contribuíamos para o ferrolhar do verão, ajudando o velho banheiro Jacinto no final da época, a desmontar a praia e a transportar os toldos e cadeiras para o armazém onde repousavam no inverno.


No fim das aulas, a família mudava-se para Sesimbra e iniciava-se o ritual veraneante.
Mas não ia sozinho. Eram muitas as famílias dos Olivais (e de outras paragens também, mas essas não contavam) que o faziam.
Relembrando esses tempos verifico com curiosidade que apesar da distância geográfica o espírito dos Olivais permanecia.
Pela manhã, na praia do Jacinto, um antigo pescador convertido à terciarização, alvo constante da irreverência juvenil (expressão linda para descrever o que lhe fazíamos), iam chegando as famílias com os farnéis preparados para uma jornada completa de sol e mar. Quanto a nós, de chegada mais tardia, ocupávamo-nos em futeboladas ligeiras, campeonatos de frisbee, caça submarina, cartadas e tudo o mais que se faz e não faz, na idade em que o tempo não tem tempo (com “tiradas” destas ainda me arrisco a ser convidado para ghost writer do nosso primeiro ministro quando este resolver escrever as suas Memórias do Cárcere...).
A propósito de caça submarina, recordo um episódio em que andávamos eu e outros oliveiras, perscrutando de arma em riste os mares sesimbrenses em busca de incautos linguados ou chocos distraídos. Naquele dia porém, os marinhos estavam particularmente astutos e não lhes parecia boa ideia passar do estado molhado para o estado grelhado. Decidimos então deslocar-nos para junto das rochas na expectativa de “convencer” algum polvo simpático que por lá andasse dos méritos da vida em terra firme. Debalde…
Um de nós, mais incomodado com o insucesso da pescaria, encontrou, numa subida à superfície para respirar, a solução para a sua frustração.
(façamos uma pausa na nossa empenhada militância em defesa dos animais – não comestíveis, claro…)
Uma pensativa gaivota descansava pacatamente numa rocha quando um arpão de espingarda de caça submarina a atravessou e…

À noite, vivida sempre em bando, “vadiagem” pelas ruas e cafés, como no bairro. Bastante activa e numerosa, era a representação dos Olivais na Confraria do Agrião. Antes da fase “encartada”, contávamos com os prestimosos serviços da empresa de camionagem Covas & Filhos para as nossas deslocações, das poucas que não foi integrada na Roubalheira Nacional, perdão Rodoviária Nacional.

Por lá paravam muitos Bolamas, desde os manos Mateus (disseram-me que são desenhadores num gabinete de arquitectos na Falagueira, mas não confirmei…) até à família “Maracangalha” (sim, também tínhamos amigos cujo pai tinha a sua assinatura nas notas do escudo), passando pelos irmãos Lemos (a um deles, não lhe “perdoo” ter-me iniciados nas visitas à Quinta das Tabuletas, uma semana depois de termos estado juntos um fim de semana em Sesimbra) Lembro-me sempre dele quando oiço dizer que mais vale ser rei por um dia que príncipe a vida toda…. Recordo com estima a família Serôdio, Novos Redondos de boa cepa, com quem partilhei quase todo o meu percurso sesimbrense, e de quem tenho muito boas recordações. Foram muitos aliás, os que partilharam as minhas estórias sesimbrenses e a quem aqui poderia fazer referência.

Da banda sonora destes dias recordo por exemplo os Stones no álbum Tattoo You ou o Patrick Hernandez quando dizia que tinha “nascido para estar vivo”, pensamento que nem a Lili Caneças desdenharia.
por Xai-Xai

Têm visto o Ambrósio?‏

"blue Va Gino was here"


por Bolama

PRÉDIOS NOMEADOS






















Esta é uma velha tradição, a da nomeação dos prédios, uma topografia toponímica que foi caindo em desuso. Nos Olivais escassearam estas imposições, algo que presumo normal numa urbanização cujos lotes se sucederam. Os nomes, tardo-imperiais, ficaram-se pelas ruas.

Por Bolama