quinta-feira, 25 de março de 2010

ladrões de mergulhos

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Ah, a piscina dos Olivais! Lembro-me de lá ir em miúdo muitas vezes, e quase sempre como da primeira vez, roubando banhos.

Ao princípio ia com o meu pai, lá pelas tardes caniculares de algum verão muito longínquo. Ia escuso, ilegal, mas aconchegado na presença dele. Acho que custava 25 tostões a entrada na piscina grande mas eu nem lá podia entrar que tão tenra idade não me permitia. Íamos então para a piscina das crianças, no terreno lá mais abaixo, para os lados do campo de ténis. Só que pouco depois lançávamo-nos os três pela rampa da calçada acima e esgueirávamo-nos por entre muros para a piscina dos saltos, a dos ‘adultos’. Foi lá que aprendi a saltar, primeiro da prancha de 1 metro, depois, valentão, seguindo o meu irmão mais velho, da dos três. Não sei que idade tinha, mas era tão novo que quase não sabia nadar. Lembro-me disto porque mergulhava de viés, para reduzir o caminho da água que após o mergulho eu fazia atabalhoadamente, quase sempre debaixo da superfície, retendo a respiração, que ali não podia trazer comigo as braçadeiras. Como disse, eram tardes clandestinas - embora disfarçadas pela presença imunizante do meu pai. Levávamos no tornozelo uma pulseira (dir-se-á tornozeleira?) de cor verde, que nos davam com a entrega da roupa e que se destacava das dos crescidos, que eram pretas, e era isso que evidenciava a minha presença furtiva na piscina dos olivais e tornava a tarde ainda mais entusiasmante, que ali se arriscava (a prisão, pensaria eu?), ainda por cima na cumplicidade do meu pai.

Depois cresci e já podia entrar na piscina dos grandes, só que aí já raramente ia com o meu pai. Mas muitas vezes não tinha dinheiro. Saltávamos então o muro junto à Av. de Berlim, escondíamos a trouxa de roupa no canteiro dos lírios e disparávamos pela relva fora até ficarmos fora das vistas. Já não usava a pulseira verde, mas por razões óbvias também não tinha a ‘legalizadora’ pulseira preta. Mais tarde, apesar de continuar a frequentá-la, deixei de lhe achar graça. Pode bem ter sido por se tornar uma fraca alternativa à praia (agora já alcançável) e às simpáticas companhias que ela trazia, mas provavelmente terá sido por falta dos banhos de adrenalina com que me habituei, em mais novo, nessa simpática clandestinidade com que nela mergulhava.
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por Fulacunda

9 comentários:

Chaimite disse...

Estarei enganado ou a piscina dos miúdos era num canto e o campo de ténis no outro?

Fulacunda disse...

a imagem que retenho não é essa. do lado debaixo, o mais proximo da rotunda, são os dois campos de ténis. logo acima deles a piscina dos mais novos. a meio o complexo de piscinas grandes. mais acima o minigolf, do lado das moradias da encarnação.
seja como for, é-me indiferente. nas memórias que trago, são assim que estão, e não há realidade mais sólida que essa.

abraço chaimite

xai xai disse...

iiiiiih a piscina!!!
bem lembrado!
íamos lá com o prof de ginástica da Fernando Pessoa.
também lá treinei e fiz provas de natação.
do que me lembro mesmo é de ver o irmão mais velho da Timor com 13/14 anos saltar da prancha dos 10 m. o puto era bravo!

Fulacunda disse...

não, não! o irmão da timor saltava dos 11 metros. galgava o pilar da piscina e saltava de lá. era ele ... e o bomba!

JPN disse...

e eu lembro-me de ir lá com a minha turma...da Piscina. Tu, o Kitos, o Chico, o Subtil, o Batarda...eram os malucos dos saltos. eu ficava-me pelas vertigens de cá de baixo, a olhar lá para cima. :)

Benguela disse...

a dos putos era no canto de baixo e os campos eram cá em cima... tenho dito.

Fulacunda disse...

Isso não era bem assim amigo Quim. Até aos 5 ainda ia, na boa, agora dos 10 m (e com vergonha retardada o reconheço), ainda arrisquei uma vez, mas senti-me tão encar..., digo, acabrunhado, que nunca mais me passou pela cabeça voltar a saltar de lá.

Já nos exibicionismos do fôlego me sentia bem. Fazia a piscina grande ao comprido, debaixo de água e se fosse preciso ainda dava umas voltas pelo meio. E era depois ver-me sair dela, qual atlas, e o mundo inteiro, Zéocêntrico, a admirar-me.

Belos tempos em que nós brincavamos com a ilusão de nos sentirmos heróis ... ou experimentar vertigens.

maria correia disse...

Que bom encontrar novamente o blogue activo..d etanto cá vir e nada encontrar, acabei por deixar de vir...tenho belas lembranças da piscina, uma mais sombria, em que, mal sabendo nadar ainda, me ia afogando na piscina grande, nos quatro metros...salvou-me um lindo rapaz, acho que se chamava Rodrigo. Mas lembro-me mais das tardes calmas de verão, num tempo em que não havia preocupações...até já e bem hajam!

bookworm disse...

e que tristeza vê-la agora fechada e ao abandono...