Mostrar mensagens com a etiqueta A culpa é de quem não faz nada.... Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta A culpa é de quem não faz nada.... Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Hora de almoço, depois das aulas. O pessoal empanturra-se com o que houver e no fim enfia com dois papo-secos para arrematar a fome. De seguida pira-se, bate com a porta da rua e lança-se em passo acelerado para a pressa do resto do dia. Mas em chegados tudo vira mais calmo, seja lá onde isso for, que nalgum sítio da rua certamente, um dos sítios do costume onde esteja a malta. Depois pingamos pelas casas dos refractários: soam três toques de campainha ou tenta-se um assobio codificado. Nem se aguarda resposta que essa não espera, ou melhor, diz que lá estamos à espera, no sítio do costume. Entretanto passamos por casa e entramos pela porta da cozinha, sempre aberta e guardamos duas maçãs no bolso que daí a nada a fome esperta de novo e depois já só no lanche, e voltamos então a aquietar-nos já no mesmo sítio do costume. Aos poucos vão chegando, todos trincando os restos do almoço, com cumprimentos ligeiros que nem se nota antes terem havido despedidas. E é tudo tão seguido, tudo tão naturalmente após o último momento em que ali estiveram que nem surge ímpeto de iniciar conversa. Ela vai brotando serenamente, ao ritmo de quem vem chegando como se nunca tivesse partido e assim até à hora de jantar, sempre assim. Um destes dias é possível que alguém diga algo de verdadeiramente novo, mas é certo que poucos lhe darão atenção que as palavras aqui até nem são o mais importante. Que importante é estar por ali, por entre todos, até que algo se passe ou o fechar do dia – como interrupção a que ninguém liga – os leve de volta para casa. Não há nada que tenha de ser dito ou feito, que amanhã, sabe-se, mesmo que ninguém o diga ou escute, amanhã haverá mais. E era assim que se seguia, com desfrute, sem ânsias, como se todo o tempo do mundo se pudesse sentar connosco naquelas escadas, volteado por entre os dedos brincalhões, ligando distraidamente o que foi com o que há-de vir …

… até ao dia que de longe, por detrás de um nickname estranho, houvéssemos de escrever despudoradamente que tudo aquilo, aquele desprendimento, nos parecerá um enorme esbanjamento. Desses dias de lá de longe, de onde hoje escrevemos, em que o tempo já não escorre assim e o pessoal que anda por aí, sempre que o vemos, já se sente na embaraçosa obrigação de nos cumprimentar. Ou já nem isso, que já pouco disso o fazemos de mão estendida, ampla, generosa, quente e pegajosa de suores e manteigas escorridas das sandes. Que agora quase tudo, mesmo o acenar das "escadas onde nos sentávamos com duas maçãs no bolso", até já isso se vai fazendo por via de um frígido e apressado endereço electrónico. Falta carne.


por Fulacunda

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Poesia num Carreiro?


















Grande Bolama! Poupaste-me muito tempo ao escrever o que escreveste. Era exactamente isto que eu queria dizer. E que escrito por ti fica muito melhor.
"Poesia num carreiro"?
Nos arames? nos bidons ferrugentos?, na "escritura virtual" do Sr. Manel. Seria aquilo mesmo nosso? Brincava-se ali, ou passávamos ali por mera economia de pernas e tempo?
Desde a criação dos Olivais, nunca ninguém concretizou ali projecto algum, apenas abandono. Corporativismo, Comunismo, Socialismo, Social-Democracia, ninguém para aquele espaço produziu uma solução.
Ganhou o capitalismo! Viva o capitalismo!
Agora tem pessoas, tem empregos, tem vida!
Se gosto do modelo? Não gosto!
Prefiro o abandono? Não prefiro!
E já agora uma pequena "farpa" aos "poetas do carreiro". Este projecto teve duas fases. A primeira pode ter sido a "sangue frio" mas... quem foi capaz de, depois da primeira intervenção, criar um movimento para salvar a parte norte?
Ninguém pois não?
Devíamos todos (salvo honrosas e admiráveis excepções) ir para a escola da intervenção cívica e aí ganhar o direito a intervir deste modo tão "alapado no sofá".