domingo, 9 de setembro de 2007

Nomes que me acorrem como se a memória fosse um rio

Faltam-me as fotos dos Olivais onde me sobram nomes.
Ao ler o comentário do Marco e ao pensar que ele poderia ser aquele miúdo que quando jogava ao petróleo com o meu irmão se vestiam os dois de sheiks das arábias, comecei a imaginar o prédio por andares. O Duarte e o Zac moravam no sexto que cruzava com o meu, no quinto. Foi com o Duarte que eu soube o que era o 25 de Abril. Tinhamos onze anos, estavamos em 74, como é natural não percebíamos nada de política, não sabia nada do mundo - como se agora soubesse!!! - sabia que o João, o Tico e a Moscha traziam - com o primo dos Pachecos, o Xavier do 89 - histórias fantásticas das férias passadas em Espanha, onde um dos pormenores mais festejados era a mistura de Coca Cola, a verdadeira, com aspirina, a liberdade para mim era isso, o Xavier, a Moscha e o João a beberem Coca-Cola com aspirina. Um dia, no dia 25 de Abril de 74, há grande alarido na manhã informativa, está tudo em sobressalto, pergunto ao Duarte, o meu primeiro melhor amigo em Lisboa, da nesga da varanda de onde conversávamos horas a fio:

- O que é que há?

- É uma revolução.
- O quê?
- Foi o meu pai que me disse.- O pai do Duarte já tinha lido o Portugal e o Futuro de António de Spínola - Eu depois explico-te. Mas não há aulas.
- Não há aulas?
- Não.
- Fixe!
Saudámos logo ali a revolução por nos oferecer um dia de férias suplementar. Não sei o que fizémos. Eram dias sem fim. Tudo era novo. Ainda não tinha feito um ano que eu chegara ao bairro, viver num prédio, com elevadores, uma espécie de caixotes pequenos dentro da caixaria maior onde habitávamos, era estranho, eu naquele tempo ainda era todo falta e ausência do verde, do cheiro a estrume nos caminhos, da ordenha do fim da tarde, dos sinos do Convento a espalharem-se pelo povoado, das horas e horas e horas na Tapada de Mafra a apanhar castanhas bravas, a procurar a sombra de veados, coelhos e esquilos. Era por isso que, como uma esponja, absorvia tudo.

6 comentários:

Anónimo disse...

O Zac foi meu colega na primária e os outros nomes não me passam ao lado, antes pelo contrário...

Marco Oliveira disse...

E o 11 de Março?
Os aviões a passarem ali por cima.
A malta no telhado do prédio...
E ao fim da tarde uma coluna militar que passou ali na nossa rua!
A ebulição do país passava ali pelos Olivais!

joão belo disse...

exacto. lembras-te de que nós íamos para o telhado e passávamos para o prédio ao lado, o 88? ainda me lembro dessa coluna a dobrar o prédio dos pachecos e a descerem a cidade da beira em direcção aos ralis. e o pessoal com aqueles walkye talkies a interferirmos com as ligações do aeroporto? mas isso foi no 28 de Setembro, não foi? boa, Marco! abç

Anónimo disse...

Também me lembro do dia de férias extra no 25/4. Tinha 11 anos e andava no 2º do ciclo. Na Fernando Pessoa, hoje Damião de Góis.

Zac, Duarte e Mocha. Três personagens que ajudaram a construir o Bafatá Spirit também !!

JPN disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joão belo disse...

bafatá, também tu e o teu irmão ajudaram a construir aquelas noites vagabundas nos prédios da joão belo. era uma imagem de marca dessas noites o teu irmão a entrar na sua gilera, para vir buscar a moscha. abraço