Estou no campo, lá pela serra da Lousã, ou assim me parece, se calhar perdido. Há dezoito anos, dizem-me, e confirma-mo o tamanho, o brilho, a esperança e a quase-certeza do agora-já-não-bebé que então visitei ... há dezoito anos que aqui não venho. Um dos meus incondicionais, idiossincrático claro, por isso mesmo meu incondicional, até ao Lar se lá chegarmos, já foi dormir, fugido, se calhar titubeante, deste luar apaziguador. Lá dentro repousam, profundas já, as três famílias com que nos rodeamos. Ficamos dois, a ele não visito há dezoito anos, e repito-me. Ele nunca me visitou, e denuncio-o. Quase manhã alta e estamos ao tal luar. Enquanto fala lembro o que com ele aprendi, sem que ele soubesse ou se apercebesse, ou se calhar percebendo como se não desse por isso, um tal de Moebius, o Loustal, e outras coisas mais, mas acima de tudo uma placidez antecâmara de uma varanda que terá feito pequena-história, a da intimidade de homens. Estamos ali, eu agora quarenta-e-cinco, preciso de lembrar, ele ainda mais lamento ter que dizer, há duas décadas ou mais que nem grande coisa entre-nós, ou alguma vez terá havido?, os nossos miúdos conheceram-se hoje, as nossas mulheres (e que belas mulheres nos calharam em sorte, benção do destino?, destino de olivalense?) apenas agora a encontrarem-se, ou tal tacteando, num "afinal?!, ela é assim tanto ...?", nós há duas décadas ou mais que nem grande coisa, e de súbito, naquele luar de campo, está ele a chorar a rir e também eu, lágrimas face abaixo, coisa em mim de há tantos anos, não sei ele, imagino que também, quero imaginar que também, comporá a imagem do momento, mas em mim assim mesmo, há anos que apenas metáfora me era, e eu ali na serra, na casa do meu pampan, a chorar a rir, lágrimas abaixo, às tantas da manhá.
É isto o meu Olivesaria
By Bolama
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Nada resiste à erosão do-que-vem-aí, da acreditada melhoria
Os Viveiros não só se transformaram em Escola Secundária Eça de Queirós (com s) como estão agora a ser moldados desta forma.
Pelo menos ficará, por enquanto, o velho muro, local de namoro, agrupamentos proto-selváticos, montra de motos e arreganhos, e - claro - de aquisição de haxixe, então dito "produto" ou "brunhol", comercializado às resmas de "pintores". Logo atrás o café (muito atascado, e com mercearia adjacente - vera cantina colonial) do Sô Álvaro, local de flippers e de iniciação aos "submarinos", já feneceu. Quanto ao muro, a julgar pelas inscrições fronteiras, manterá alguma vida.
Pelo menos ficará, por enquanto, o velho muro, local de namoro, agrupamentos proto-selváticos, montra de motos e arreganhos, e - claro - de aquisição de haxixe, então dito "produto" ou "brunhol", comercializado às resmas de "pintores". Logo atrás o café (muito atascado, e com mercearia adjacente - vera cantina colonial) do Sô Álvaro, local de flippers e de iniciação aos "submarinos", já feneceu. Quanto ao muro, a julgar pelas inscrições fronteiras, manterá alguma vida.
By Bolama
Não me ocorre grande prosa, para quê empacotar a evidência histórica?
segunda-feira, 27 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Olhar o rio
Sinto-me muitas vezes um privilegiado por viver numa cidade que tem, mesmo à mão de semear, um rio como o Tejo . Para mim um dia, mesmo o pior, reabilita-se com um passeio junto ao rio ou numa daquelas esplanadas que a cidade inventou para o admirar. O Adamastor, o Noobai, a Esplanada da Graça, as Docas, Belém, Terreiro do Paço, Jardins do Tabaco e das Descobertas, o terraço do Hotel do Bairro Alto, Cacilhas, são apenas alguns dos oráculos da minha devoção. Gosto também do passeio pela marginal até Cascais. Desde a adolescência, ainda no carro-família, com os meus irmãos, lembro-me da face ainda marcada pelo sal e o vento a bater, a refrescar-nos. É-me renovadamente estranha a imagem dos barcos a balouçarem na ondulação ténue. Parecem-me ilhas solitárias ali penduradas no território líquido. Imagino sempre, no instante em que este relance de paisagem se atravessa no olhar, que vou numa destas pequenas embarcações. Amo a noite sobre a água, o cheiro da maresia, o barulho das ondas. Não sei bem porquê. Nunca fui grande nadador, nunca velejei. Nem posso colocar na minha carta de navegação - por mais prazer que me tenham dado - as horas que gastei nas viagens diárias de cacilheiro que fazia quando morei do outro lado do rio,. Desde há uns anos que todas as casas onde moro têm, por mais pequeno que seja, um altar onde me entrego a esta sedução pelo Rio Tejo. O mais engraçado é que quase nunca dei pelo rio nos Olivais e também o tinha sempre na minha varanda, no lad0 esquerdo, ali para os lados do Ralis, no enfiamento da ponte Vasco da Gama. Nos Olivais vivi muito e durante bastante tempo. Não é dele no entanto este delírio pelo rio.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Grande Tuga das Neves
Quando eu era miúdo tinha muitas coisas como certas. Uma delas era a chegada no dia dos meus anos de um postal de Elvas, do avó Figueira, que começava invariávelmente por um Salvé, e acabava, nos primeiros anos, numa nota vermelha de cinquenta paus e depois, em anos mais avançados, numa azul, uma centenária, como lhe chamava. Devo confessar que sempre dei melhor serventia às notas do que àquele Salvé, que associava sempre a coisa antiga, adequada por isso ao que eu esperava do meu avô Francisco António. Há pouco no entanto, à procura de uma foto de um tuga célebre, grande mandarim das neves, descendo implacavelmente com a sua companheira e com o Barão a grande descida de la Sierra, percebi que estas palavras antigas ganharam algum significado com o peso do tempo. Salvar o dia, e assim, salvando cada dia, estaremos também mais próximos de salvar também a vida dos que queremos, dos que nos são queridos, dos nossos amigos. Não deixa de ser paradoxal que eu me predisponha a saudar um amigo com um salvé precisamente na altura em que a curva da idade me afastou totalmente da ideia de salvação. Que se lixe! O que nos salva, o que nos salva hoje, e já nos salvava à trinta e poucos anos quando nos conhecemos, é também a amizade, a presença, do outro lado da esquina, do outro lado do blogue, do facebok, do telefone, onde for. Muitas vezes quando olho para as páginas paradas deste blogue, vejo as rotativas da vida a andar de trás para a frente - que é para onde elas devem andar quando querem ser capazes de escrever sobre a nossa vida - e dou-me por muito feliz por poder ter o privilégio de brindar a um amigo, de brindar num amigo toda a festa que é viver, construir, reconstruir, fazer de novo.
terça-feira, 14 de julho de 2009
domingo, 12 de julho de 2009
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