As mochilas ficavam no hall de entrada e de passagem rasgávamos três ou quatro carcaças que besuntávamos com manteiga e borrifávamos com milo e açúcar. Depois saíamos em passo apressado para só voltar à hora da janta. As horas passavam-se lentas mas os dias corriam velozes. É curioso, não me lembro de em nenhuma dessas infinitas tardes do ano ter chovido, de alguém se ter sumido, de ouvir dizer que o mundo estava avariado, não me lembro de arrelia maior que não fosse perder mais que 5 ‘olhos de boi’ a jogar ao guelas. Não sei precisamente quando se foram abrindo as cortinas para o mundo do lado de fora da nossa rua, mas agora, olhando para trás, irei admitir que terá sido quando passei o saco de berlindes ao meu irmão mais novo. Por essa altura provavelmente já teria aparecido o tulicreme e as tardes já se faziam sentadas numas escadas enrolando uns bonés e esfumaçando argumentações encaloradas. O mundo ter-se-á aí desvendado, opulento, até ameaçador, quando começámos a brincar aos ‘pontos de vista’ e as nossas discussões devanearam para questões bem menos concretas do que o número de berlindes que cada um tinha ganho. Foi por essa altura que mais ganhei e perdi amigos. Ainda assim só muito mais tarde vim a perceber que os amigos para toda a vida nem sempre são aqueles que nos calham em pequeninos, mas aqueles que encontramos ao longo da vida como se tivessem estado à nossa espera desde pequeninos. É também verdade que, por coincidência ou não, uns serão frequentemente os outros, mas isso terá sido da importância desse tempo infinito a esgatanhar a terra que passámos com eles, acocorados, a jogar ao guelas.
A Vespa e a Gestão
Há 13 horas
12 comentários:
Milo!!!
:D
Já nem me lembrava disso... :)
Lá pela província, comia-se pão com manteiga e açúcar, pois, de facto, o tulicreme é mais tardio...
Acho q o Tulicreme é dessa altura... eu agoro opto pela bola de berlinde com creme e uma cevreja.
O bom dos dois mundos: de criança e de adulto...apesar que quase todos nós começamos precocemente a beber bujecas
Ainda havia os abafadores, as esferas... os palmos, os super palmos...
de joni o último... tb iam lá pela bola de berlinde
Parece que o Tulicreme (vitaminas, proteínas e outras coisas mais...) é de 1964.
Pelo menos quando, em 1971, eu cheguei à metrópole ele já cá estava.
Agora se já teria chegado à província...
Beira, também a TV já havia sido inventada há largos anos mas em minha casa só entrou bem depois do 25 de abril ... que isto das modernices vai tendo ritmos diferentes, marcados pelas possibilidades de cada família, e com 6 vorazes miúdos lá em casa não me parece que desse para uma caixa de tulicreme todos os dias.
[fui eu que eliminei o comentário acima, porque estava com a identidade incorrecta]
Tulicreme?
Não era a minha especialidade.
Pão com manteiga e açucar sim.
E gemadas com 1 gema e 1 kg de açucar?
Já não ouvia falar de gemadas à uma data de anos. As coisas de que tu te lembras... Nós faziamos também panquecas e caramelo. Ah, e claro, também polvilhávamos o pão com Nesquick. Lá pelos 7 ou 8 anos, a minha irmã e eu convencíamos a Zipriti a beber o leite do nosso lanche, passando por cima do facto dela ser alérgica ao leite (deviamos achar que a alergia não a afectava em nossa casa).
Nesquick... que finos!
Coitado do puto dos chalés que se tinha que contentar com Milo.
Pois eu acho que o que ficava mesmo bem era Ovomaltine.
E não há ninguém que defenda o pobre do Toddy?
Abram alas pró Toddy!!!
Que foi feito dessa malta toda? do Tody, do Milo, do Ovamaltine? O único que vi há uns tempos foi o Tulicreme, mas conheci-os todos e também polvilhávamos o pão com eles...Havia ainda uma outra personagem, que era a farinha Amparo...essa só a conheci quase bebé ainda...as manas Gemadas também as conheci, acompanhadas sempre de muito açucar, e, no Verão, grandes lancharadas na companhia dos refrescos Royal...bons companheiros de divagações sobre os miúdos giros e as amigas da escola e os «setores e as setoras» que, afinal, não eram assim tão chatos...a bolacha Maria também era grande compincha nesses lanches; ajudáva-nos a fazer o famoso Bolacha's Cake, um primor, como manteiga Primor, claro, outra amiga. Nunca fomos muito à bola coma menina Planta, que também desapareceu do mapa. E as manas Gorila? Qunatas bolinhas não fizemos com elas, apesar das nossas mães dizerem que era má educação andar com elas na boca.....muito menos nas aulas..Ah, e os amigos OLá, compinchas de verões que eram a sério, sem grandes altitudes de temperaturas nem Agostos chuvosos..Afinal, nada disso nos fez mal nem havia criancinhas obesas...ou muito poucas...Ainda hoje sou amiga das Gemadinhas e da Primor. Gostava d eter notícias do trio Ovamaltine/Milo/Toddy. Terão ido todos para Hollywood fazer cinema independente? Ou, vítima sda globalização, andarão a partir pedra na Manchúria? Alguém sabe deles?
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