A olhar para uma mescla de posts e comentários, e um pouco a sério:
1. A Rapariga Que Vinha da Província continua, como é natural face à sua origem, a desconhecer a Cidade - aquilo que está aqui a ser discutido é a cidade. O que poderemos discutir é se deve ser ou não deve ser a cidade: uma discussão ética, com conteúdos técnicos (e mesmo científicos). Mas nunca poderá negar o real - a cidade é aquilo, as cidades são aquilo, o país proliferou naquilo.
2. Não desmereço as questões éticas. Mas não me posso surpreender com o real quando ele é omnipresente. Nem tampouco zangar-me quando intervém nas minhas memórias (paisagísticas e lúdicas) privadas e achar normal quando o resto involui assim.
3. Há questões éticas (até meta-deontológicas). Os arquitectos são profundamente responsáveis do que se tem passado no Portugal do poder local. Há sobre eles um discurso que sempre os desculpabiliza (são os desenhadores, são os engenheiros, são os empreiteiros - que projectam; são os donos - que obrigam). É uma classe que mantém status social - não tanto como nas gerações anteriores quando secundavam o juiz, engenheiro, médico e coronel, mas isso porque a sociedade mudou e as outras profissões de toga (e farda) perderam estatuto e distinção. É uma classe que mantém status social e alguns recursos - muitos estão proletarizados, os jovens parecem caídos nas guildas medievais. Mas não é só com essa corporação que isso acontece.
Esta é uma lengalenga para insistir num ponto: que eu saiba não há nem houve um único movimento corporativo para combater estas tropelias. Se tal existe não passa à opinião pública medianamente informada. É, sistematicamente, uma classe que se quer escapar ao escrutínio público na mistura de duas reclamações: a auto-desculpabilização referida; a tecnicidade do seu ofício, nada atreita a leigos (argumento repetido que deixa entrever a sua superioridade sobre todos os outros ofícios, claro está). Mais, assume as mais execráveis posições e afirmações públicas sem qualquer pudor ou crítica corporativa - abaixo, em registo corrido falei do Siza sobre Alcântara: têm que me dar muitos pormenores do contexto para que eu aceite a sempre presente desculpa da descontextualização. Na realidade o que se passou foi que o guru (e também guru ético, tamanho o mito do Arquitecto e da Personagem que vão alimentando) referiu que se não fosse ele a fazer uma torre outro o faria - e nenhum colega berrou indignação com tamanha miséria moral.
1. A Rapariga Que Vinha da Província continua, como é natural face à sua origem, a desconhecer a Cidade - aquilo que está aqui a ser discutido é a cidade. O que poderemos discutir é se deve ser ou não deve ser a cidade: uma discussão ética, com conteúdos técnicos (e mesmo científicos). Mas nunca poderá negar o real - a cidade é aquilo, as cidades são aquilo, o país proliferou naquilo.
2. Não desmereço as questões éticas. Mas não me posso surpreender com o real quando ele é omnipresente. Nem tampouco zangar-me quando intervém nas minhas memórias (paisagísticas e lúdicas) privadas e achar normal quando o resto involui assim.
3. Há questões éticas (até meta-deontológicas). Os arquitectos são profundamente responsáveis do que se tem passado no Portugal do poder local. Há sobre eles um discurso que sempre os desculpabiliza (são os desenhadores, são os engenheiros, são os empreiteiros - que projectam; são os donos - que obrigam). É uma classe que mantém status social - não tanto como nas gerações anteriores quando secundavam o juiz, engenheiro, médico e coronel, mas isso porque a sociedade mudou e as outras profissões de toga (e farda) perderam estatuto e distinção. É uma classe que mantém status social e alguns recursos - muitos estão proletarizados, os jovens parecem caídos nas guildas medievais. Mas não é só com essa corporação que isso acontece.
Esta é uma lengalenga para insistir num ponto: que eu saiba não há nem houve um único movimento corporativo para combater estas tropelias. Se tal existe não passa à opinião pública medianamente informada. É, sistematicamente, uma classe que se quer escapar ao escrutínio público na mistura de duas reclamações: a auto-desculpabilização referida; a tecnicidade do seu ofício, nada atreita a leigos (argumento repetido que deixa entrever a sua superioridade sobre todos os outros ofícios, claro está). Mais, assume as mais execráveis posições e afirmações públicas sem qualquer pudor ou crítica corporativa - abaixo, em registo corrido falei do Siza sobre Alcântara: têm que me dar muitos pormenores do contexto para que eu aceite a sempre presente desculpa da descontextualização. Na realidade o que se passou foi que o guru (e também guru ético, tamanho o mito do Arquitecto e da Personagem que vão alimentando) referiu que se não fosse ele a fazer uma torre outro o faria - e nenhum colega berrou indignação com tamanha miséria moral.
Não há planos, não há leis, não intenções, não há ideais que valham por si mesmo. Valem executados e imaginados por pessoas. Portugal formou gerações de técnicos desta actividade que se portam no seu próprio país como criados de bárbaros. Alguns, quando ganham peso, são bárbaros. Confesso que prefiro os bárbaros aos lacaios. E se vamos discutir o que se passa não vale a pena agarrarmo-nos a hipotéticos velhos planos ou a ideais cristalizados. Apontar causas muito gerais também serve de nada (alguém se lembra de uma crónica do MEC sobre o "eles"? aqui "eles" como políticos, como pato-bravos, aqueles que são culpados, mas que são uma mole mais ou menos indistinta e, portanto, indemonstrável).
4. Isto não tem preto e branco nenhum. O preto e branco é apontar as desgraças e não encontrar os contextos em que brotam - ou então apontá-los amputados, denunciando almas tenebrosas em busca do dinheiro à custa de toneladas de betão. Claro que sim, que as há. E dão os restos aos técnicos para que eles idealizem este Portimão de norte a sul.A primeira barreira, com saber específico e tudo, é essa gente. Que não cumpre...
5. OK estou fora dos Olivais, já. Mas como no blog já se falou, e ainda bem, do esforço arquitectónico do bairro aqui fica a minha opinião - mamarracho a mais ou a menos (vide por exemplo a magnífica Pantera Cor-de-Rosa, que era um exemplo e se tornou um demónio) essa geração de arquitectos (das quais a elite vai papando prémios, reconhecimento, vénias e, até, trabalho no estrangeiro, para orgulho e espanto do portuguesito, sempre atreito aos cristianos ronaldos e figos) formou uma escória. Esta mudou o país. Essa é a grande obra que fizeram - podem encher livros e mais livros com o fruto da sua obra geracional. Mas não o farão, ficaremos apenas com albuns das obras-primas de cada um - perdidos no meio da tralha que fizeram medrar.
6. Depois o pessoal irrita-se e lamenta que não haja parques. Eu aí retrocedo - é claro que é melhor que não haja prédios e que haja parques, em especial se silvestres. Pelo menos haveria menos dinheiro para pagar a estes de quem tenho vindo a falar.
7. Um remoque à Lobita - ninguém saiu dos Olivais porque não tinha trabalho ou condições, etc. Não estamos a falar da desertificação do interior de Bragança ou do Alentejo. O pessoal saíu dos Olivais para ir para a Almada, Telheiras ou Castelo. Tem a ver com casas disponíveis e seu preço. E uma minoria saíu quando viu instalar os primeiros semáforos, ali pela Lourenço Marques. Percebeu que chegado o arame farpado tinha chegado a altura de ir para oeste. Ou, até, para sul.
32 comentários:
ou, até, para norte.
:)
mas tu sabes que a Cidade não é a "grande muralha" - esta última é mais a imagem dos subúrbios. que também compõem a cidade. em equilíbrio e/ou desiquilíbrio, vão sendo o que as pessoas fazem deles - nos cafés, nas escolas, nas praças, nas zonas comerciais, nos parques, nas hortas, nos bairros de lata, nos cinemas, nos teatros, nas associações de bairro, nas escolas de dança, nos ginásios, etc., etc..
por todo o seu percurso, quanto a mim, os Olivais tinham merecido um Centro Urbano capaz de reflectir a história e as qualidades do bairro e das pessoaas que o compõem, ao invés de transformar este espaço num dos mais flagrantes exemplos da alta especulação fundiária que conheço. de que serviria a "qualidade arquitectónica" a esta última? de nada.
sim. a responsabilidade também é dos arquitectos.
também os há nunca alinharam por esse discurso, por essa forma de exercício. andam por aí. trabalham, escrevem, ensinam, vivem. são menos visíveis, talvez. mas existem. e atravessam a sua vida nas opções que fazem, tal e qual os outros, arquitectos ou não. e, como os outros, são uma peça ou contrapeça na engrenagem. onde imperam tantas outras profissões, tantos outros decisores, tantos outros parceiros, como está na moda dizer.
e por fim: concordo com a Timor - aquele espaço livre era um lugar para a esperança.
e ainda é - para quem, como a Lobita, por ele optou ou optará.
(exercício teórico/prático: tentem imaginar qual o número de andares que um só edifício teria de ter para conter toda a área de construção que aquele terreno recebeu. ou então, tentem comparar o índice de construção deste terreno com a média do índice de construção dos terrenos circundantes... em que i=área de construção/área do terreno)
tu tens toda a razão quando referes o exagero dali
tu tens toda a razão quando referes que nem tudo é igual no meio profissonal
mas
não seria de esperar nada diferente ali, como estão as coisas - aproveitem-se as coisas boas
quanto ao meio profissional não disse que todos eram iguais - disse, e acho que quero repetir, que nunca houve um movimento público sonoro da corporação ou de parte dela face ao que fizeram desse país
(tive um amigo (ido daqui) que foi para ali viver e queixava-se e muito das casas, pequeninas, a ver se tudo lá cabia (também ido daqui estava mal habituado, mas não só) Entretanto fugiu dali)
e pronto, a minha parte de miguel sousa tavares acaba por aqui (e a seguir não me vou por como ele faz a dizer bem do pinto da costa e assim de todos os patos-bravos que o rodearam e desse modo a, vergonhosamente, desdizer-me
Bolama: post de ir ao fundo, de mexer e trazer ao de cima tanta merda soterrada e escondida, por medos e indiferenças. E em tudo o escrito, o equilibrio de sonho: gritar alto e para o alto, tanta ignorância desculpada pela bajulação e ' ajoelhamento ' a distintos fornecedores de nadas, trazer para baixo, para junto de quem viu e atravessou a rua, a sua parte no desfazer de um mundo que foi seu ... !!
Caríssimo, ando a ver se consigo entrar na conversa, acho que ainda não é desta. Há muitas coisas a quererem ser ditas, muitas pessoas a quererem dizer as mesmas coisas. Eu, que ainda este sábado gastei um euro num par de luvas e outro euro num ancinho de mão e mais o Pedro fizémos do arrancar ervas daninhas (um trabalho que deu visibilidade às couves, às cebolas e ao manjericão) um programa para todo o meu fim de semana de pai, tenho achado piada a esta excitação toda sobre as hortas, sobre o regresso ao passado, sobre os custos do progresso e mais algumas teorias gerais sobre o mal que os arquitectos causam ao país. Mas lembro duas ou três coisas importantes que foram ditas e que escaparam a esta discussão que mesmifica a forma como discutimos tudo, ou é preto ou é branco: a primeira disse-a o Beira através de uma imagem que é uma metáfora perfeita sobre o que não devia ter sido feito: a grande muralha para além do desequilibrio que provoca no bairro, estraga o fluxo de comunicação entre duas grandes artérias, impede a circulação e estrangula o coração do bairro. Pode-se achar tudo, até que o bairro precisava desse garote. Mas devíamos aproveitar a justeza desta imagem para conseguir criar conceitos comuns entre pessoas que têm com a tecnicidade da coisa edificada pontos de compreensão muito diferentes. Para que este blogue possa ser um terreno fértil à discussão. O que o Beira disse com uma imagem já eu o tinha tentado dizer com muitas palavras e muito menos sucesso.Depois, outra coisa que disseram várias pessoas mas que o retenho pela rapariga que veio da provincía: a volumetria de construção daquele espaço é completamente diferente da volumetria do resto do bairro e isso causa desiquilibrios medonhos. Aquilo é um organismo vivo, um edificado que não comunica, senão por relações de dominação, com o resto do bairro. E por fim, algo que disse a Timor e que para mim sintetiza o meu sentimento em relação à forma como a situação daquele espaço involuiu: eu também me sinto um pouco espoliado por as coisas terem acontecido assim. E gostaria que neste espaço ainda pudéssemos vir a descobrir como é que as coisas aconteceram. Será muito mais isso do que andarmos a brincar aos futebóis com as hortas de um lado e as torres do outro, que me entusiasmará nestas leituras.
Deixem-me tentar explicar-me, logicamente que não me estava a referir a um abandono dos Olivais em termos de desertificação, mas assisti a muita gente que, quando se casou ou achou que deveria sair de casa dos pais, não encontrou oferta nos Olivais que os motivasse a por lá ficarem. As casas dos nossos Pais são umas boas casas, com espaço, amplas, cozinhas cheias de sol, etc, e todos tentámos igualar ou superar essas condições quando assim o pretendemos e, de facto não havia. Quando foi comigo, já as torres do shopping estavam quase totalmente construidas e nunca me passou pela cabeça ir para lá, para o MONO. Assim, procurei noutros lados, como todos fizeram, Telheiras, Alvalade, entre outros (muitos) e os preços eram astronómicos... em desepero de causa, lá fui ao shopping, e o preço /m2 era bem inferior a tudo quanto tinha visto até ali! Com mais assoalhadas, bons acabamentos e outras "mordomias" que não encontrei em mais lado nenhum... como por exemplo, o tratamento do lixo, entre outros, que tenho como comodidades e às quais me habituei por serem de facto simpáticas e que me dão qualidade de vida.
Alguém sabe se houve discussão sobre o assunto em associações locais dos Olivais? Nos condomínios dos prédios dos habitantes? Quando daí saí, e nunca foi por questões de trabalho, creio que ainda existia alguma esperança...Creio que sim, que os arquitectos terão alguma culpa...Mas, e as populações? Sei que houve várias pessoas a sair do bairro quando se aperceberam do que se iria passar; mas, e as que ficaram? Não houve protestos? Ou, se os houve, não chegaram «lá acima»?
Houve alguma discussão, lembro-me de ter ouvido relatos dessas reuniões com quem nelas participou. Principalmente para serem discutidas questões como parqueamento, que tipo de comércio e de organizações (igreja, culturais, recreativas) iriam ter acesso ao espaço. São coisas difusas na memória mas lembro-me de que o que era discutido era o Centro Cívico. da Câmara.
Pois, o tal famoso Centro Cívico... os terrenos acabram por ser vendidos em hasta pública e centro Cívico nem vê-lo...Creio que, no fundo, ninguém esperava que o que se iria construir fosse tão diferente do que estava pensado e em projecto...mais uma vez, as decisões foram tomadas a porta fechada, em que o loby interessado em rentabilizar o terreno milimétricamente, na vertical, na horizontal e no volume, ganhou. Sinal dos tempos?
João Belo, ainda que tendo encerrado a versão Miguel sousa Tavares rubicundo, vamos a isso:
Dizes "E gostaria que neste espaço ainda pudéssemos vir a descobrir como é que as coisas aconteceram."
"Para que este blogue possa ser um terreno fértil à discussão."
Fantástico. Depois dizes -
"Será muito mais isso do que andarmos a brincar aos futebóis com as hortas de um lado e as torres do outro, que me entusiasmará nestas leituras."
porreiro. Ou seja, ou eu penso como tu, fico a discutir aquilo que tu achas que são as causas das coisas (presumo que autarcas, pato-bravos e, até concedo, inexistências de uma "sociedade civil" actuante) ou fico "a brincar aos futebóis".
Se fosse nos velhos tempos do Tó ou afim mandava-te à merda pela arrogância intelectual que jorrou. Assim como é num blog tenho que referir-te, meu excelso amigo e co-bloguista, que me permito a não concordar contigo.
Já agora, uma coisa é o memorialismo, claro que alimentado pelas saudades. Outra é o saudosismo. Desse saudosismo, consciente ou não, transpirou in-posts e in-comments um neo-ruralismo ou um neo-bucolismo (das hortas ao parque polvilhado de rumores). Que é bonito, poético, memorialista. Mas que é também saudosista. E que não me diz nada - ler isso como uma apologia dos excessos de betão, contrapôr-lhe as "sensatas opiniões" de quem não gosta do mamarracho global, recai exactamente no mesmo tipo de atitude que afirmo no meu parágrafo acima, com o suplemento do torcer argumentos alheios.
Espero, sinceramente, que a discussão sobre o que aconteceu decorra com o melhor dos resultados. Dentro da busca das causas de tal. Busca essa, que de acordo com o que referes, está previamente delimitada (não me quero intrometer em tão elevada reflexão mas permito-me adiantar desde já o saco de conclusões: a incultura, a demissão da sociedade civil, os pérfidos interesses dos patos-bravos e até a postura [quiçá venal] dos autarcas.
Se chegarem a alguma outra conclusão, claro está que dentro das causas previamente consideradas como sérias (e não pantomineiras ou futebolísticas) avisa(em).
Eheheheh! Fazes-me ter saudades desses tempos em que fervíamos em pouca água e em que nos mandávamos à merda à tarde para passarmos a bia comunitária à noite. Mas como esse tempo já passou vou tentar de facto pensar em duas ou três coisas que tenho cá dentro sobre este assunto. Abraço
Mas antes, deixa-me dizer-te aquilo que já sabes: a "arrogância intelectual", ou aquilo a que tu chamas arrogância intelectual, não é o pior dos males na retórica actual. Pelo menos para mim. Pior do que isso é esta tendência, que nos vem dos futebois onde há sempre uns a correr contra os outros, de querermos tudo ou a negro ou a branco. A realidade é a cores. Se leres os posts e os comentários vais perceber que esta necessidade de arranjar duas tribos, a das hortas e a das torres, não ancora naquilo que foi dito mas sim na simplificação do que foi dito. E isso, para mim, para a saúde das conversas, é pior do que a arrogância. Porque a essa a gente ainda pode ir contornando, nem que seja como tu o fizeste. A outra, a outra é mais complicado, Bolama.
então pronto(s) - se a realidade não é a preto e branco, "tribo" vs "tribo" então não se ponha quem diz algo diferente a pensar assim. Porque isso sim é preto e branco, tribos: "nós que pensamos a cores" eles (da "tribo parva"/"má") que pensam a "preto e branco".
disto já chega - fico à espera das 2 ou 3 coisas, decerto interessantes (e mais ainda do que esta caixa de comentários)
Concordo com o que disse o João Belo sobre o simplicismo a que se tentaram reduzir as coisas. A «preto e branco» «torres contra hortas», o saudosismo face à modernidade e ao progresso. Até houve alguém que quis cindir o blogue entre os partidários de A e de B. Nunca se tratou de saudosismo, mas sim, talvez, da saudade de um projecto de bairro que ficou gorada. Nunca se tratou de preferir terrenos abandonados, cuja única beleza era o verde das ervas e das couves, mas sim da defesa de uma volumetria mais adequada ao ambiente do bairro; e esse projecto existiu, foi prometido. Simplesmente, desapareceu do mapa, passo a quase redundância. Nunca se tratou de prefeir os ratos às torres, mas sim de preferir um projecto equilibrado, com todas as comodidades, sim, para os habitantes passados, presentes e futuros, à construção megalómana e aglutinadora de vida e de espaço que se produziu. Eu própria já disse que gosto dos edifícios de duzentos andares de Nova Iorque. Estão enquadrados, aquilo é assim.Do que não gosto é de discrepâncias aberrantes em termos urbanísticos...Houve quem ganhasse vista do décimo sexto andar, --e tenho um amigo que lá mora nas torres, conheço as casas, mas houve muita e muita gente que a perdeu... Nunca se tratou de memorialismo caduco, mas sim de uma crítica ao que aconteceu e de se tentar compreender as razões porquê. Depois, atribuíram-se culpas aos arquitectos, aos autarcas, aos patos bravos...Para mim, a culpa é de todos. De nós, que vivemos sob a pata do capitalismo selvagem, que é, também, urbanístico. E não sou contra o capitalismo. Sou contra a selvajaria.
"Até houve alguém que quis cindir o blogue entre os partidários de A e de B" - esse alguém acho que fui eu, até sublinhando isso em post. maria correia, fi-lo porque estava a achar que a conversa se estava a extremar, a ficar bifocal, concordo com o bolama, (ora vê, lá estamos nós os dois a tomar partido cada um pelo branco ou pelo preto), e pretendia apenas introduzir alguma inocente ironia, para tentar pelo menos um interregno.
Não vejo mal em que cultivemos um clima menos cerrado de troca de opiniões até porque, e este é o meu entender (respeitarei o seu), um blog colectivo torna-se maçudo se insistentemente orbitar em redor de dois pontos de vista que concorrem entre si, repetitivo, como já alguém disso ... e depois, bom depois já sabemos todos que ninguém escreve exactamente o que pretende falar, e podem resultar aformações que não se querem fazer, podemos até ler-nos e enviesarmos por nos tornarmos adeptos quase fanáticos da nossa própria opinião.
Não vale a pena. Ou antes, vale a pena sim, que as conversas a paritr de um determinado âmago transitam para a oralidade, ou pelo menos sejam capazes de incoporar as características da mesma ( já reparou como ´nós nos levamos sempre muito mais a sério com aquilo que escrevemos e lemos do que quando verbalizamos?). A maria correia, como todos nós, também incorre neste fenómeno: note que os seus comentários já manifestam os olivais como um bairro esventrado, infeliz, etc ... asim como do outro lado poderá acontecer o oposto e alguem quase indignado estar a defender o betão, contra as suas próprias convicções. O "preto e o branco" resulta da forma como se está a aprofundar e a reacentuar este assunto. Não é culpa de ninguém e discutir as culpas do mesmo provavelmente tornar-se-á ainda mais maçudo e redundante do que na minha opinião esta coisa das hortas e das torres já se tornou.
desculpem esta minha observação (seguramente ao lado da questão em discussão, e por isso talvez intrometida) e fazei o favor de continuar porque isto é como diz um amigo meu e excelso bloguista: " cada um bloga como cada qual"
já agora, para apimentar ainda mais a questão, e incorporando a famosa resignação lusitana que aqui tão bem contesta, deixe-me referir que a minha mãe morava nos olivais, aí a uns 400 metros do centro. também ela mudou de casa. agora vive a cerca de 200 metros. mas arrisque perguntar aos habitantes dos olivais (sem questões sociológicas e arquitectónicas) se preferem o bairro com ou sem aquele mono e, quem sabe, talvez se espante.
no nosso tempo era um bairro dormitório avivado com grupos de catraios a brincarem livremente pela rua e pelas hortas. hoje já não. já não há tantos miudos, já não há hortas, já nem há confiança para os deixar sequer irem como nós iamos para a rua. ficou assim nos olivais, em lisboa, no país inteiro, por esse mundo fora. O envelhecimento da sua população poderia ser brindado com bons parques públicos e outro equipamento social? claro que sim, mas não esqueçamos duas coisas, os olivais (ainda) são o bairro de lisboa com mais zonas verdes, e alem disso as pessoas têm hoje mobilidade suficiente para se meteram no carro e irem à procura do campo quando o querem ou dele precisam. Entretanto, aquele mono trouxe aos olivais todas as conveniências funcionais que um habitante de lisboa deve ter (e que ali não tinha). já não é preciso "ir à cidade" para tratar do que quer que seja. E quando um bairro caminha para "velho", continuo a achar que o melhor que se pode dar aos seus habitantes, é levar-lhes até perto de casa aquilo que aquele bairro, por clara aridez urbanistica, nunca teve: o comércio, os serviços, até zonas de lazer (que há quem assim as prefira). No essencial: prefiro que seja a minha mãe a preferir esta solução que lhe é comoda e que humaniza/facilita o seu rededor em todos os seus dias, do que a solução que me agradaria, mais ecológica, e que eu poderia usufruir todos os fins de semana, quando a fosse visitar.
bem sei, que poderia ser alcançada uma outra coisa como refere. Mas não é isso que está lá. nem era isso que estava lá antes. podemos naturalmente discutir esses conceitos urbanísticos e alio-me a sia nas suas convicções. não estamos é a discutir o que foi e o que são os olivais hoje.
(texto longo e corrido ao sabor do devaneio ... espero que nele não encontre nada que hostilize, pois não era definitivamente essa a minha intenção)
Desculpe, Fulacunda, não me recordava já quem tinha proposto cindir o blogue, observação essa que até me fez sorrir, e creio que, no fundo, talvez fosse esse o seu objectivo: fazer sorrir um pouco e amenizar a questão. E isso é óptimo!
Afinal, até concordamos no essencial...
No que diz respeito a perguntar aos olivalenses que aí vivem agora se estão ou não satisfeitos com o centro, pelo que vejo no blogue, pois estarão uns e não estarão outros. Já foi referido várias vezes que houve pessoas que saíram do bairro ao verem que o sossego deixaria de existir. Eu própria conheço alguns; continuo a ter amigos aí, os meus filhos frequentaram o Bosque, a Fernando Pessoa, a Herculano de Carvalho e fui sempre ouvindo opiniões de habitantes locais, amigos meus, donos das merceeirias, dos cafés...uns dizem que sim outros que não...no que diz respeito às opiniões que tenho de amigos meus que aí vivem, pois posso afirmar que nenhum deles gosta do que aconteceu... e eu, que aí não vivo mas que continuo a ir aí muitas vezes, também não. Era um bairro dormitório? Talvez, porque as pessoas trabalhavam noutras zonas de Lisboa e iam aí dormir...e viver. E agora, é o quê? O movimento de jovens e crianças que existia no bairro, de encontros, de passeios, deixou de existir, a vida que houve desapareceu...O que vejo, muitas vezes, são pessoas a correr para o centro comercial, que, aliás, está quase fechado há séculos...para as compras, para os autocarros...afinal, não continuará a ser um bairro dormitório? Como muitos outros por aí...mas, do se fala aqui é dos Olivais...
estamos a alongar um pouco os comentários que por definição (minha, claro!) deverão se mais curtos [contributo construtivo]
para mim o que se discute é o EXCESSO. era possível ter conciliado naquele terreno, o shopping, a habitação, os jardins, 1(uma) horta para o Sr. Manel, a sede dos Pobrezinhos, etc, etc, etc.
não era "rapariga que vinha..."?
tenho um sonho, (como o Dr.King) ficar rico com uma empresa de demolições...
E de novo concordo. Já o tinha referido eu própria, também.. isso várias vezes. Fala-se é do EXCESSO...não de querer retirar nada a ninguém...
Quanto ao sonho das demolições, fez-me rir!
Bom, eis um comentário mais comedido, não é?
maria correia, espraie-se à vontade e livremente... o xai é maluco!
sr. administrador: sempre foi para mim um elogio chamarem-me maluco. Principalmente quando vem de outro, outro, outro... gajo porreiro!
Xai, acho o teu comentário demasiado sintético tendo em consideração que nele se pode perceber que advogas que na tua opinião, (e pões o chavetame e o muito bem), deverão estes ser resumidos, e sem mais explicar infundas isso numa intenção construtiva. ora se um gajo não escreve muitas palavras arrisca-se a dizer coisas certas e isso parece-me uma forma desonesta de trazer a ti uma vantagem que aqueles que não têm as tuas qualidades de síntese não poderão nunca alcançar. até porque nem concordo com isso dos comentários curtos e tal. Antes pelo contrário, os post's é que devem ser curtos (nunca mais de 3 linhas e/ou 28 caracteres (na minha modesta opinião)) para assim serem acessiveis e trazerem com simplicidade e objectividade ao tema em discussão. Já os comentários que dele degeneram devem construir-se com base num rompante ejaculatório, (vês?, onde num comentário curto poderia escrever esta expressão tão ilustrativa:"rompante ejaculatório"!, é que me saiu mesmo bem; acho que a vou levar para o outro blog, se bem que haja alguma redundância no sentido que transmite; mas dizia eu:) pois só assim é que poderemos ter a certeza da sua circularidade e portanto se dissermos mal de alguém certamente que ao dobrar da esquina, perdão, do parágrafo, acabaremos a dizer bem, e vice-versa. Além disso e mesmo que não consigamos discorrer num ponto de vista com distanciamento e ubiquidade suficiente isso já pouco importará já que após mais ou menos 7 linhas (e isto não é a minha opinião pois está mesmo provado cientificamente) já ninguem nos estará a ler (ok, tu estás, mas tu és dos tipos mais perseverantes que já conheci), pelo que se dissermos algo polémico ou formos mauzinhos para alguém estaremos ao coberto de qualquer interpretação. Além disso os comentários têm um efeito terapeutico que importa não ignorar e que deverá até ser estimulado, já que o dedilhanço inócuo pode trazer um alívio de tensões relativamente apreciável e evita a artrose dos dedos, sem que tenhamos de nos entregar desnudadamente a esse exercicio num quadro de exposição que um post tem, mas que um comentário, por se ancorar nas catacumbas do blog, estará ao abrigo dos olhares mais indiscretos e censores. Por isso meu caro, caso aqui chegues quero que saibas que não concordo nada com essa ideia dos comentários curtos, que curtos aqui só os posts!
E agora, por coerência, vou ali por um post à benguela e já volto.
Fula, és o meu herói!!!
(achas que depois desta frase ainda vais querer a cena dos karts e das miudas no bajulanço?)
fula: tens razão. a minha observação está inquinada pela dificuldade que tenho em ler no ecran e por vezes não tenho tempo nem paciência para colar tudo no word e imprimir.
benguela: afinal também tu tens razão. corrijo a minha intervenção atrás, somos ambos gajos porreiros, mas só um é maluco...
Obrigada, Benguela, continuarei a espraiar-me...SMILE
Caro Achille Talon curvo-me diante do cristalino da sua argumentação. Sublinho ainda a honra que a todos nos acomete pela sua visita ...
Melhores cumprimentos
A Administração
oh lobita, na minha já quase enfesada idade qualquer manifestação elogiosa é logo gorgitada pelo meu ego sem sequer dizer um ai!
(e claro que quero: corridas de karts que se ganham na recta final por um palmo de diferença sob a bajulação quase histérica de miudas giras faz parte do mundo onírico de qualquer gajo macho)
(diz-se gorgitada ou ingorgitada? - esta mania que um gajo tem de se armar com o vocabulário depois dá nisto)
... talvez engorgitar?
INGURGITAR:
do Lat. ingurgitare
v. tr.,
engolir sofregamente e em quantidade;
devorar;
obstruir;
encher demasiadamente;
v. int.,
intumescer;
sofrer obstrução de um vaso ou ducto excretor;
v. refl.,
encher-se muito de alimento;
atascar-se, atolar-se (em vícios ou paixões).
A não ser que fosse o regurgitar, mas acho que não era bem isso... ou se calhar...
não, é mesmo ingorgitar, ora repara:
" ...qualquer manifestação elogiosa é logo ENGOLIDA SOFREGAMENTE pelo meu ego sem sequer dizer um ai!"
(é verdade que poderia também ser uma OBSTRUÇÃO DE UM VASO ... mas espero que não, coitadinho do vaso)
É meter os dedos à boca!
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