terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Poesia num Carreiro?


















Grande Bolama! Poupaste-me muito tempo ao escrever o que escreveste. Era exactamente isto que eu queria dizer. E que escrito por ti fica muito melhor.
"Poesia num carreiro"?
Nos arames? nos bidons ferrugentos?, na "escritura virtual" do Sr. Manel. Seria aquilo mesmo nosso? Brincava-se ali, ou passávamos ali por mera economia de pernas e tempo?
Desde a criação dos Olivais, nunca ninguém concretizou ali projecto algum, apenas abandono. Corporativismo, Comunismo, Socialismo, Social-Democracia, ninguém para aquele espaço produziu uma solução.
Ganhou o capitalismo! Viva o capitalismo!
Agora tem pessoas, tem empregos, tem vida!
Se gosto do modelo? Não gosto!
Prefiro o abandono? Não prefiro!
E já agora uma pequena "farpa" aos "poetas do carreiro". Este projecto teve duas fases. A primeira pode ter sido a "sangue frio" mas... quem foi capaz de, depois da primeira intervenção, criar um movimento para salvar a parte norte?
Ninguém pois não?
Devíamos todos (salvo honrosas e admiráveis excepções) ir para a escola da intervenção cívica e aí ganhar o direito a intervir deste modo tão "alapado no sofá".

11 comentários:

Lobita disse...

Sim senhor, Xai Xai, gostei de ver!
Muito bem.

Lobita disse...

Desculpa, Bolama. Ainda não te tinha lido. Aplaudo de cá de cima... do 16º andar de uma das 4 torres!
Realmente não são nem fantásticas nem se enquadram maravilhosamente... mas "antes a morte"???? não me parece!
(Até podiam ser mais baixas mas o que é que eu faria sem conhecer a minha porreiríssima vizinha do último andar?)
De onde é que eu iria conseguir ver os LINDOS fogo-de-artifício de fim de ano, que de lá de cima se vêm até perder de vista em 360º???? É lindo... Que o diga o meu irmão e sua família, que lá estiveram este ano... e de lá saíram fascinados a prometer voltar!
Podia continuar aqui a falar das vantagens (muitas) que há em ali viver (e no que os Olivais lucraram com aqueles MONOS)... mas um dia, sem que tenha o ar de "resposta torta", faço-o.

Fulacunda disse...

eu apoio na íntegra o post do xai que apoio o comentário do bolama.

até porque de outro modo deixaríamos a lobita sem casa.

quer se goste ou não (e sou incapaz de avaliar estes projectos apenas pela perspectiva arquitectónica), esses "monos" fizeram assentar vida nos olivais, que hoje, mais do que nunca, e após o abandono das gerações que entretanto cresceram, se resiganava a ser um dormitório 'envelhecido'.

Tiraram-nos a mata onde andavamos à pedrada e a fumar ganzas? e essa mata teria hoje algum uso? algum dos vossos filhos vai hoje para o meio das matas? Se tirarmos esses 'monos' os olivais resumem-se a um dormitório sem equipamento social de qualquer espécie e, acreditem, o bairro agora visto do lado da outra lisboa ganhou maior notoriedade ... embora concorde que isso não é necessariamente bom, e talvez esteja aí a razão que gostaria de continuar a ver aquele baldio de hortas.

hortas e baldios ficam bem nas minhas memórias, não vejo nenhuma necessidade de continuar a vê-las como um espaço devoluto no meio da cidade.

poderia ter-se dado outro destino àquilo? aquele que se diz estava previsto (e posso confirmá-lo) desde o ínicio do projecto urbano dos olivais? uma zona social com parques e zonas verdes? claro que sim, eu preferia. Mas não é isso que está aqui em opção: prefiro aquele centro a um baldio desabitada num bairro desabitado. E assim como assim, se é para vestir o fato-de-treino ... um centro comercial também serve.

benguela disse...

Eu apoio o post do xai que apoia o comentário do bolama e apoio o do fula também e mais as fotografias do pai do beira... e apoio a lobita que gosta de viver ali... e carreiro trilhado não cria erva... são memórias.

Lobita disse...

É LINDO!!!!!

benguela disse...

http://olivamos.blogspot.com/2007/08/caminho-trilhado-no-cria-erva_6880.html


memórias das hortas com ratazanas.

Beira disse...

Xai-xai, estas hortas são em que sítio?

Eu via ali um grande edifício, ou melhor uma série deles a cortarem o verde e a fixarem as populações ou pelo menos os arrumadores que de outra maneira estariam limitados a ir para as hortas fumar umas brocas...

;-D

cláudia santos silva disse...

lenha para a fogueira:

ó meus caros amigos a quem nunca faltou educação nem sustento (nem umas viagenzitas pelos trópicos ou pela neve, se calhar, eh, eh)

tudo é MELHOR do que lá está neste momento.

a arquitectura é MÁ
a densidade urbana TENEBROSA
o nível de impermeabilização do solo é a 100%
o espaço público AUSENTE
a especulação deu MUITO LUCRO
aquilo NÃO É CIDADE

pelo menos, nas hortas, havia alguma biodiversidade!
e permito-me duvidar que os vossos filhos prefiram o shopingue a umas corridas no meio das ervas daninhas e das couves, à falta de um parque ou de um outro lugar decente para brincar.

(vou mas é fazer disto um post, que não há pachorra para equívocos desta natureza :)

maria correia disse...

Fala-se de urbanismo e é no que dá...Trocam-se opiniões, discute-se,evocam-se situações...e tudo isso é muito bom. Gosto de vir a este blogue não apenas porque é sobre os Olivais e uma geração, ou várias, que aí viveram ou vivem, mas também porque há textos muitíssimo bons. Mas, como já disse alguém, é uma espécie de café virtual, onde se trocam opiniões e não um centro de militância sobre seja lá o que for. Cada qual saberá até que ponto é ou não activo civicamente. E, creio que o simples facto de se falar sobre os assuntos e os discutir já é um acto cívico, político. E, aqui, falava-se sobre a pólis e a sua evolução. Talvez que, para quem saiu do bairro, como eu, há vinte anos, (apesar de continuar ligada a ele e de o visitar vezes várias vezes pelas mais diversas razões) a diferença seja muito maior, o impacto seja muito mais forte do que para quem lá continuou sempre a viver. É um pouco como se não víssemos alguém há uns tempos e, subitamente, nos apercebessemos que está diferente e não para melhor...Não para melhor no sentido urbanístico, em relação ao que foi o projecto piloto do bairro dos Olivais. Os «poetas do carreiro» --Que belo título para uma exposição ou um livro!_--não falavam da nostalgia das hortas e dos terrenos baldios em vão, porque gostavam imenso da ferrugem dos latões cheios de água da chuva, das cercas às três pancadas de onde sobressaíam pregos velhos, dos canaviais meio partidos, da ira do sr. Manel de caçadeira em punho porque lhe assaltavam a horta. Creio. Ou talvez sim e por que não? Mas creio ser uma metáfora. Os «poetas do carreiro» (pese embora a pura nostalgia de tempos passados) falavam de urbanismo selvagem, de desmesura, de um capitalismo, sim, de um capitalismo de lobies de construção civil e político que, não se compadecendo com nada, continuam, precisamente porque ninguém faz nada contra, nem sequer, muitas vezes, fala do assunto, a implantar monstruosidades como as que se vai vendo por aí...Desculpem-me, eu gosto de NOva Iorque, com o seu gigantismo de renda de pedra até aos céus, a skyline de Manhattan é algo de deslumbrante. Mas é integrado. Faz parte, é assim...as casas «na pradaria» de Frank Lloyd Wright, aí, não fariam sentido. Como não faz sentido que se tenha construído o edifício Londres-Paris-Lisboa, perto da skyline de Xabregas, um monstro que esteve embargado anos e anos e que, graças sei lá a que loby, acabou por ser construído, tirando a vista e a felicidade a milhares de pessoas em prédios atrás...os nosso filhos já não vão a matas? Vão sim senhor. Perto de nós, existe uma mata fabulosa, onde os meus filhos brincaram, onde toda a gente vai ainda, passear o bebé, o cão, andar de bicicleta ou, de fato de treino, correr um bocadinho, pelos carreirinhos, cheios de poesia...E, sim, os carreiros têm poesia, saõ vida, aprendi muitas coisa com eles, os meus filhos aprenderam o que é uma flor, um arbusto, uma poça de lama, uma ramo de árvore partido, uma avezita fugaz, o orvalho na erva, a saltar por cima das pedras, a aguentar a bicicleta aos solavancos (como eu aguentava, nesses tempos, nos Olivais), a cair e a levantarem-se. Os meninos que apenas têm o centro comercial com os «parques infantis organizados e assépticos» para passear ao fim de semana perdem VIDA. E VIDA era o que existia nesses carreiros, ou em quaisquer outros,por mal amanhados que sejam.

É que os espaços verdes cada vez ficam mais caros...a VIDA desaparece, cada vez mais, das nossas vidas, para dar vida à SELVA DE BETÃO, à GRANDE MURALHA....ISOLACIONISTA. Isoladora e fria, meras caixas de fósforos, onde cada um vive, por cima do outro, por cima do outro e por cima do outro, sem jamais, por vezes, se encontrar nas escadas e dizer. BOM DIA!

Beira disse...

A verdade é que naquele terreno vago passámos a ter um bocado que não é dos Olivais no meio dos Olivais.

E o Vale do Silêncio ao abandono...

... a história de um país contada nesse naco de terra!

maria correia disse...

Exactamente, Beira,!

É a história de um país selvaticamente urbanizado (a costa Algarvia, ai céus!) contada ali, naquele bocado de terra..